sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

deixa-me só a lembrança...



não trago nada pra contar
do nosso sítio nunca saí
só no sonho ando a planar
se estou viva é por ti!
não preciso de pensar
debruço-me à janela da alma
e quando o vento acalmar
ao peito voltará a calma,
será um sonho perfeito,
deito-me ali na cama ao lado
e assim desse jeito
esperarei pelo teu corpo amado.

virás embalar meu sono
do meu corpo farás morada
deixar-me-ei ao abandono
não, não me perguntes por nada.
não quero acordar do sonho
aguarda a madrugada,
ou então que anoiteça
e meu desejo desapareça
de te tocar ansiosa e louca,
deixa-me só a lembrança
dos beijos da tua boca.

natália nuno





hora da despedida...



poisou o acaso em mim
deixou-me o sorriso triste
tentando desviar-me assim
por caminho que não existe
e por becos apertados
sujeita a tropeçar
nestes poemas calados
com tristeza a soçobrar

ficou minha terra, árida e
ressequida
a minha boca secou
é hora da despedida
adeus que tudo findou.

resta uma lembrança estranha
em silêncio dentro de mim
e uma saudade tamanha
agora que cheguei ao fim.

natália nuno
rosafogo

quando fecho os olhos...



quando fecho os olhos, alcanço estrelas que me iluminam no silêncio turvo das palavras, visita-me o futuro, e o frio trespassa-me até aos ossos, que mistério esconde?... acato o destino, as palavras concedem-me a dúvida que me deixa numa indefesa inquietude...tremem as minhas horas, abandono-me entre o monte e a urze e ali fico semente, a aguardar por germinar ainda um pouco, mesmo sendo a minha estação o outono...sussurra-me o vento, trazendo-me sensações de velhas recordações e a minha memória irrompe como uma borboleta cujas asas já mal se sustêm, ainda assim, vive nelas a lembrança dum amor vivaz...o tempo pôs a sombra no meu rosto enquanto o sol se escondeu no arvoredo, o silêncio se fez com chicotadas na mente, na boca palavras errantes e vazias, e no olhar os raios prateados da lua, a velar-me os pensamentos.

natalia nuno

domingo, 16 de fevereiro de 2020

hoje amor...



hoje amor, é o dia da saudade, enquanto a noite imensa desce, vejo como a tua ausência me doeu, o desejo que em mim cresceu, o olhar que suplica, o meu soluçar docemente, nesta hora de solidão, pertenço-te, ofereço-te a centelha que te incendeia, e numa ânsia louca de amar-te, vou aos poucos mitigando esta sede em mim...hoje amor, deixo-te o meu perfume de cerejas silvestres, e as palavras que guardo na noite para te dizer do meu amor quando o dia despertar...a saudade é a palavra em mim a pulsar, apazigua-se o coração ao ver-te chegar e, encontro em mim a utopia em que me deixo levar,  perdendo-me por entre os sonhos... é este o amor que ainda nos abarca, quando a vida é já tão parca.

natalia nuno
rosafogo

mãos cheias de nada...


quando olho minhas mãos, me apercebo das fadigas por que passaram e olho a sofreguidão dos meus dedos em agonia por não saberem ainda estar parados, lembro as vidas que dependeram delas e hoje vejo que são mãos cheias de nada.

natalia nuno

caem as horas uma a uma...


em queda livre como pedra vão as horas caindo uma a uma, distanciando-se vai a vida, e a lua escondendo-se do meu olhar, os sonhos que eram gaiatos falam-me agora com mágoa, segredam-me mil pedaços de vida como quem reza, e a noite veste-se de prata luzente... logo surge a saudade grande como o mar...então, minhas ideias navegam nessas águas imensas a memória é seara loura madura e mexe-se mais que o vento, minha boca fica ansiosa, o coração bate forte como um tumultuoso rio que corre para o abismo sem parar, gritam as palavras dentro de mim numa torrente de sóis, nelas me deixo prender porque elas me devolvem vida e dão prazer...
natalianuno