sábado, 23 de julho de 2022

saudade que amanhece...




há luas que nos entram casa fora
nas noites em que a gente quer amar
abre-se a janela àquela hora
descobrem-nos nus, os raios de luar,
e eu fico a pensar?!
tantas noites demoradamente doces
- como é bom recordar!
há ruídos que nos afagam
para lá do tempo, nem sabemos de onde
já todas as luzes se apagam
é a hora a que o sol se esconde.
já não lembro que me dizias
nestas noites ao ouvido,
foram noites, foram dias
tantas como as rugas, que hoje
no rosto fazem sentido.
nas noites albergamos o nosso amor
éramos felizes e eu não sabia quanto,
lembro só do pudor
e mais tarde, como me atrevia tanto!
somos amantes consumidos na nossa 
própria fogueira 
e hoje entra p'la janela a tristeza
a saudade deita-se ali à nossa beira.
já não há luas nem raios de luar,
nem o ruído do nosso amar,
vagueia a saudade nos trilhos da memória
e traz-nos recordações das noites vivas
de glória...
tínhamos a vida toda para viver,
tudo o que nos resta são sonhos com sabor a luar,
são muitas as coisas que eu não sei dizer
o que sei da vida e da morte, 
é que uma passou a correr
e a outra está pra chegar...

natália nuno
rosafogo




segunda-feira, 18 de julho de 2022

no turvo silêncio da tarde...



espero, como quem espera por um estranho
enquanto vejo a luz da tarde a cair,
cresce uma incerteza do tamanho
dum mar tenebroso que me invade.
e eu espero, até a memória consentir,
sonho, tal como noutras noites esquecidas
de ternura e sossego, que ficaram na saudade.
o sono atravessa a noite e a luz da manhã,
regresso à realidade mal dormida,
onde nem a esperança incendeia o meu querer
tanto à vida,
há um mar sombrio que desliza na mente
que me deixa em atitude de espera
e de repente, este mar galga os muros do meu peito
fica a saudade à espreita, enquanto a vida se ajeita.

sento-me perto do aroma do trevo
esquecida de mim, deixo-me ir
até onde a brisa me leva o pensamento,
é tudo quanto minha alma precisa
rasgar a obscuridade a cada momento,
e a inquietude afastar,
deixo-me envolver no tempo sem memória
fico a flutuar como ave extraviada
talvez que os sonhos regressem
talvez a sorte me sorria
e me sinta mais afortunada.

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest





domingo, 17 de julho de 2022

gomos sumarentos de paixão...



não me falem de papoilas escarlate
mariposas e crisálidas nas candeias
os prados verdejantes de aveias
onde as vidas eram grandes eram cheias
desse amor que hoje não pode resgatar-te

preciso habituar-me a este rosto
preciso substituir este meu olhar
nas papoilas deixei o sorriso posto´
e agora já não lhe consigo chegar
os olhos verdes de lágrimas marejaram
sigo triste, a noite avança na minha estrada
os sonhos nos verdes prados ficaram
hoje amor...me sinto desanimada

contempla o sol que cinge a madrugada
em gomos sumarentos de paixão
abraça o corpo feno, alma calada
sou teu cavalo, armadura e tua espada
levando do teu peito a solidão
deixa pousar em ti as mariposas
nas papoilas de teus lábios côr de rosas

o teu sol banhou o horizonte de côr
eu presa à janela olho-te à distância
como se o Mundo explodisse Amor
cada vez que poisas na minha lembrança
és recordação viva que quero conservar
meu coração de ti jamais se perderá
com ternura meus lábios deixo murmurar
e às estrelas juro, este amor não morrerá.

DUETO entre  Beija- Flor e Rosafogo
no Lusopoemas