sábado, 7 de março de 2020

o sorriso voltou-lhe aos lábios



o sorriso voltou-lhe aos lábios e depressa se desvaneceu, dissimulou os pensamentos, porém, vai assimilando as voltas que a vida deu... embrenhada na natureza, senta-se numa pedra frente ao rio com a pureza própria duma criança, e vai pacificando as emoções até aquietar o coração...da solidão nasce o silêncio, e como que por magia volta a sonhar e a manter viva a esperança, tem pensamentos líricos que viajam na corrente, são agora os olhos que sorriem e volta a sentir-se gente...cada paisagem, cada rosto, é alento do seu dia, e no rasto do silêncio vai crescendo um lago de palavras...onde um cisne branco se espaneja na memória deixando promessas de criar do nada poemas de paixão, procura nos caminhos do vento ou nas paredes prateadas da lua a inspiração...sonha em cada linha, e caminha indiferente à solidão.
natalia nuno
imagem pinterest

sexta-feira, 6 de março de 2020

rio de solidão...



caíu a lua nas águas do rio
cobre-se de claridade o dia
ainda o inverno espalha o frio
fica o dia coalhado de nostalgia
os sonhos não fizeram ruído
perderam o sentido, também a cor,
no corpo passou o desejo
por ti e, por mim, amor,
o coro das águas são de fina língua
enquanto  bailam descendo o açude
e os nossos rostos morrendo à míngua
já nada há que os faça voltar à juventude,
a vida é tão fugaz,
tudo ficou para trás,
tudo é lembrança
longínqua do que se viveu
só o amor persistiu e não se perdeu.

assisto ao amanhecer que se levanta
e traz alguma claridade,
e nostalgia tanta
que suspiro de saudade...
giram os cata ventos
eternamente vão girando
tal qual meus pensamentos
que a brisa da madrugada foi levando
e nesta dor que dói sem descanso
vou olhando o pranto do rio
ainda o inverno espalha o frio.
mostra-me onde está a saída!?
não quero ouvir mais o pranto!
quero sentir-me protegida
por ti, a quem amo tanto.

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest





também as rosas fenecem...



também as rosas fenecem na sombra dum instante, num aprisionado grito... também eu sinto o vazio que se afirma como um negro rasgão e, já só sou o que não sou, continuo insistindo agarrada à vida, apesar da máscara que os anos gravaram e me cortaram o vôo, só o vento me ouve quando o sonho anda baldio...pálidas são as defesas do que resta, ficaram os risos feridos e as forças humilhadas, meus dedos se instalam nos recantos do poema e meu olhar cai sobre o horizonte em plena abulia...
natalia nuno

quinta-feira, 5 de março de 2020

baloiço entre os sonhos e a vida...



baloiço entre os sonhos e a vida num abraço de peculiar ternura e tudo são fascinações, lembranças de instantes perdidos, já distantes... na minha cabeça os ventos do outono, tão só a nostalgia me ouve, procuro romper as húmidas paredes que cercam meu olhar, retirar a presença fria que me cerca, trocar os dias monótonos por momentos felizes, e ter de novo essa força decidida que cria doçura e é amor...enruga-se o rosto, os olhos que eram estrelas ficam pássaros ocultos em quietude, enquanto vou repetindo palavras de pranto, de desejo candente, de frescura longínqua, simultaneamente sentimentos que me restam e a necessidade de sonhar... o sonho sempre abarca felicidade, e traz-nos uma lágrima que nos afoga de saudade, incendeia desmemórias, e é como se o sossegado amor estivesse sempre à nossa espera...com as palavras faço colheitas de sonhos e neles sou uma violeta azul solitária flor, uma safira no rio, ou uma inquieta gazela...sou tudo o que eu quiser... enquanto na minha mão um melro cantar sem idade e sem tempo...

natalia nuno

pensamento...



o esquecimento habita ao redor de pálidas lembranças, 
velhas companheiras, tecedeiras de esperanças,
se elas morrerem, nada sobrevive na memória...

natalia nuno

pensamento...



não há nada mais amargo que viver sem sonhar dia a dia...é como se os dias
 já nascessem sem horizontes.

natalia nuno

Caio num sono leve,,,



Sem tão pouco dar por isso, desperta em mim sempre um desejo uma paixão profunda, que não sei como acalmar, o meu coração dá um pulo e lá estou eu com as pálpebras semicerradas a sonhar com a juventude como uma chama ardente e, há sempre uma força secreta e estranha que me traz aqui. Caio num sono leve e sonho, as cigarras já me chamam escondidas nas estevas e o sol cai a pique aquecendo a terra e fazendo dourar o trigo, sinto um perfume vindo de lá do campo que me acalma. Sou a única sobrevivente, a aldeia está deserta, alguém foi a sepultar, os outros foram acompanhar, não há partida sem dor, fica o coração feito ferida, o pensamento perdido, a vida perde o sentido mas o tempo, ajuda a a dor a sarar.
Sentindo a morte fica a vida mais azeda e maior a solidão, mas talvez Deus lhes conceda um pouco de compaixão, vou tentar esquecer, tenho medo da morte, não sei como não acordo do sonho!
Arrefeço, tremo como se morresse de frio, e sonho... sonho que a vida está por um fio, há sonhos de onde quero desertar.
Prefiro sonhar com as papoilas, com corpos incendiados fazendo amor, com as acácias na primavera em flor, com o meu vestido de chita batido p'lo vento, com o luar que alumia sem fim...trazendo-me o lamento da saudade de mim.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 4 de março de 2020

o que me resta...



é fresca ainda a memória, mas já nada faz sentido, o tempo parece parado, embaciam-se os olhos ao recordar, há sempre um resto de ímpeto que me leva a negar a idade, quero ter ainda um sol a descoberto e um vento ondulando-me como na juventude quando sonhava e sentia-me a triunfar... hoje que diferença faz? sou rio que corre para a eternidade, não tenho como alegrar-me, nem reconhecer-me, agora resta-me a saudade e neste fim de tarde, vou deixando que o tempo prolongue o esquecimento, e a liberdade de viver e morrer tranquilamente..quero ir pela estrada com a lua a resplandecer nos meus olhos, como se fosse abrir as portas à alvorada, esquecer que já fui rosa e hoje uma pétala esmagada.

natália nuno

rosafogo

palavras...



as palavras são melancólicas
como a luz que me alumia
arautos que me acompanham
dia após dia...
são âncoras fortes
como a sede e a fome
e é com elas que escrevo
meu nome...
são água a subir-me
e a muito se atrevem
e vão-me dizendo
o que devem e não devem,
com os olhos espantados
e a interrogação na boca
os sonhos parados,

e a palavra em mim cresce... louca!

palavras que me despem, em mim
se fundem,
e me reconfortam
palpitam nas minhas águas vivas
e se não as lêem,
elas não se importam.

natália nuno
rosafogo


da garganta do tempo...



não sei por quanto tempo vou caminhar, da garganta do tempo me vem esta solidão e é com ela que vejo meu mundo a desabar...ecos chegam de alguma voz distante e em lufadas de vento percorrem-me o pensamento, enquanto meus dedos crepitantes continuam a escrever, a agarrar-se à poesia como arpões, aos poucos morrendo de ilusões e nas janelas das minhas insónias procuro ainda o sonho e pequenas sensações que espalho em meu alento, sem que nada nem ninguém as destrua, porque o sonho é meu e nele eu sou tua...há uma sombra que surge denunciando passos e apesar da decadência eu sonho ainda com teus abraços...constante e cega, vivo nessa loucura da qual já não há volta, nesta fria obscuridade abro de par em par o coração deixo nele à solta para sempre a saudade.
natalia nuno