quinta-feira, 26 de novembro de 2020

conciliando a vida...

 

hoje estou como as águas do rio
numa manhã calma,
calmo está meu coração e minha alma
o tempo vai mudando a sorte
e ninguém sabe quando o vento
virá de norte...e trará meu desnorte.
hoje escrevo sem saber porquê
olho a nuvem que passa, só ela me vê!
podia falar de solidão, de sonho ou de medo
mas o dia é risonho, e eu, o atravesso
de olhos bem abertos, e esqueço
esse pesado fardo que me suga a alma,
trago em mim uma erupção de sentimentos
um silêncio abrandador me  acalma.

são muitos os nós do esquecimento
mas há lembranças que se sobrepõem
com luz, que eu não deixo apagar
vivas, no limiar do peito, onde a treva
ainda não entrou, e não me leva
ao desespero.
aguardo e, como árvore que floresce
fico na esperança que a primavera regresse
um pouco, a este amargo outono.
hoje até o amor que andava vago
no crepúsculo do coração,
voltou sereno como um lago
com vontade de cantar as folhas ruivas
caídas ao chão, 
lembranças antigas tocar-me-ão
tudo me será familiar, então, valerá
a pena sonhar, com o que ficou lá atrás
entre os limos da memória cansada
e procurar ser feliz até ao fim da estrada.
o tempo o corpo devorou, como se me ferisse
mas eu ainda aqui estou,
a vida vai adiando a descida, 
risonha como o sol que incendeia a manhã
assim estou, porque o amor não se apagou.


natalia nuno
rosafogo

domingo, 22 de novembro de 2020

doce ilusão...

 



o anoitecer trouxe um tom alaranjado, 
faz-me imaginar o inimaginável,
alarga a imaginação e até mesmo o coração
nas jarras há flores que choram
num pranto sentido
olho-as com uma expressão vazia
chega a noite, vai-se o dia.
com a respiração suspensa, num inventário
de recordações, mantenho-me embrenhada
na teia duma vida passada.
agora já tudo é escuridão 
as estrelas pontilham o firmamento
uma rosa vermelha cai ao chão
à vida um enaltecimento
por tudo que lhe dera, até a doce ilusão
de ser Poeta.

abrando os pensamentos de lembranças
penosas, e  com o olhar fixo e sombrio
olho as rosas, nas jarras, neste silêncio
devastador, lembro noites prenhes de intimidades
e amor... despertam em mim saudades
aquietando tudo o mais!
lembro as cartas d'amor, atadas com fio de juta
cheirando por demais, a tristeza e alfazema
algumas escritas e não enviadas
comunhão de sentimentos, em noites consteladas.

hoje os dias têm pouco significado
mais parecem devastados p'lo vento
ninguém sabe quando a hora do crepúsculo
lhe corta o pensamento.
as minhas mãos já não colhem rosas, nem molhos
de alecrim, apaga-se o dia
começa a noite em mim...

natália nuno



surpresa...

Poesia que me dedicou um estimado amigo, João Raimundo, brilhante Poeta.

 RESPIRAR POESIA XXIII

*
a sonhar se fez Mulher
Natália como uma flor
em cada poema constrói o Ser
em cada verso renasce seu valor
jrg