sábado, 16 de agosto de 2025

contudo pergunto, ama-se ou odeia-se?...



vem o sol e nos aquece
logo o frio nos arrefece

há quem diga que a vida
é para ser bem vivida

atenção não vá ao engano
pode vir-lhe daí algum dano

a noite antecede o dia
p'la manhã canta o galo
- com alegria!

ficam os sonhos na almofada
desperta a realidade
- daqui a nada!

o tempo, com que prazer nos esmaga
a infausta memória humilhada

mesa posta, pão na mesa
que amanhã não há certeza

a fome grassa por perto
vida sem jeito, sem amor é deserto

não há quem possa estancar
tenho até repulsa de lembrar

a terra verde adormecida
onde o veneno não se fez esperar

moeda falsa, maldição
falta de amor pelo próximo
ama-se ou odeia-se?
e a paz a cair ao chão!

o mundo em desgraça presente
cruxifica a vida de tanta gente

a paz distancia-se humilhada
é velha memória guardada


natalia nuno
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se eu pudesse esconjurar...



há um caminho entre a bruma
calem-se sirenes e alarmes
o pavor que incendeia
até não restar coisa alguma

e ninguém acode a ninguém
nem ousam o frente a frente
e o mundo já agoniza
e o que se tem?
guerra que o mundo não precisa
nem de alguém com soberbo desdém

ah, se eu pudesse esconjurar
o louco que abriu a ferida
mostrar lhe o meu desprezo
até ele agonizar?!

é tamanha minha aversão
que fico sem coração
se fosse jovem e forte
lutaria pela paz até à morte.

somente o silêncio
neste mundo esfarrapado
não se pode cair no engodo
de gente que se diz do nosso lado

a terra é sombra perdida
luz apagada, mais frio que inverno
cai em desgraça tanta vida
luz mortiça, um inferno!

natalia nuno
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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

absurda imaginação...



os dias são tão pequenos
que podia fechá-los
sob os meus dedos apertados,
cativos para não me magoarem
apertá-los para perpectuar a vida,
e com as minhas mãos
desfraldar um arco-íres brilhante,
para que o sol tivesse inveja

absurda imaginação!
é como sorrirmos a sonhar
assim leve e claro
numa noite de outono
quando já tudo fica distante
e o tempo, corre sem parar
- e eu sempre digo... « não vás»!

e o corpo vai morrendo
como uma folha que cai.

natalia nuno
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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

poema sem poesia...




a saudade senta-se 
na soleira da porta
esperei por ela desde a primeira
estrela
debruçada na janela, a vê-la
cansada, chegar quase morta.

trouxe-me as emoções
do costume
que me enternecem,
lembrando tempo das ilusões
como magoar-me quisessem

vi-me criança a crescer
com sonhos pendurados
na lua
até o dia nascer

sonhos que ficaram 
por lá sem me aperceber
nas asas dum tentilhão,
que hoje ainda canta
na minha solidão

e a noite demora-se
na minha cabeça
até as acácias darem flor,
no silêncio a saudade
a curar minha dor!
sempre sentada na soleira 
da porta
a cada dia dói mais
a saudade, e eu quase morta

neste poema sem poesia
falhei como criadora
hoje em mim a nostalgia
porque a saudade foi embora

natalia nuno
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domingo, 10 de agosto de 2025

duelo...

 

meu esquecimento está
num duelo
sem saber se esquecer o passado ou
o futuro
passado, poderá esquecê-lo
que é remota luz e já escapa
é esta a realidade!
ou o que há-de vir,
- que se prevê duro
e de saudade 

por um instante sinto o latejar
do tempo
vejo a solidão das árvores
tão igual à minha,
minhas visões cada vez mais quebradas
e a vida sem caminho,
- pouco caminha!

nasci no meu próprio abraço
trouxe comigo a luz dum sonho
confio à linha da mão meu passo
decifro nela o viver e o morrer

e aceito a dor da saudade que me
percorre  a pele
fadário que é viver de veneno e mel
faz já parte de mim e eu a ignoro

minha memória é um caudal 
de lembranças,
onde sonhos se vestem de plumagem
neles brincam crianças
e uma delas, sempre é minha imagem.

natalia nuno
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