sexta-feira, 16 de agosto de 2019

até o dia ser noite...



é bom escrever para quem sente
a mesma nostalgia
o mesmo sonho, a mesma ansiedade
é bom sentir que nos ouvem em poesia
e que esta vive da nossa saudade
fazer à vida exaltação
exaltar a natureza e a beleza que é sentir
o amor no coração.
só se é grande se houver humildade
se, se ouvir a voz dos seus sentidos
ser transparente como manhã de claridade
ir às raízes profundas buscar a fragrância
e a saudade dos nossos jardins perdidos.

é bom escrever para quem sente a harmonia
que há no dizer e pensar dum poeta estranho
na palavra ora doce, ora aguda e fria
ou com o ardor do sol, calorosa, e sem tamanho

por isso eu escrevo e estremeço
e deixo meu coração em brasa sobre os versos
acendo meus sonhos e mal adormeço
- sinto a poesia
a trazer-me a voz crespuscular do anoitecer
ao meu lento adormecer.
depois não há noite nem dia, apenas sonho
e poesia.

natalia nuno
rosafogo




terça-feira, 13 de agosto de 2019

a tocar-me os pés o estio...



que faço com as asas se findou a primavera
agora que me vejo consumida pelo inverno
na penúria da espera,
na esperança de mais um dia de vida?
no repouso das tardes as ideias
prendem-se na teia da ansiedade,
que fazer com as asas, se vivi dia a dia
de saudade?
cansada dos dias serem só cansaços,
das sombras renascidas nas paisagens
desfeitas dos meus olhos,
da cegueira de ainda ter esperança,
de reaver  abraços
que me foram dados em criança.
no interior do peito o vazio
como estar viva sem ter vida,
caminhar horas cinzentas sobre o gume do fio
e a porta do sonho estivesse adormecida.

vou perguntando e ninguém responde
nem os espelhos, nem os pássaros do rio
não sei por onde ando, por onde?
se os meus passos são esquecimento
e a tocar-me os pés o estio.
minhas asas caídas são lamento
há em mim somente uma imprecisa alegria
epifania profunda fervilhando poesia.

natália nuno
rosafogo
imagem pintarest






domingo, 11 de agosto de 2019

dei-me à vida...



dei-me à vida
e de mim trago saudade
acordei a solidão,
agora que estou de partida
aceito a realidade
como se fosse ilusão.
conto os meus cansaços
e sem apressar os passos
aceito a condição.

digo o que penso e sinto
com palavras vindas do peito
e às vezes dialogo comigo
e não minto, se disser que a vida já não leva jeito,
é um beco sem saída...
as coisas que também sei
é que à vida me dei
mas eu sonho quando anoitece
e o sonho ainda acontece.

olho o mar, olho a montanha
partirei sem nada levar
só uma saudade tamanha
deste tempo em que a morte me poupava
e eu não hesitava um momento
e a vida não parava.
e eram poucos os meus braços
e minhas mãos eram poucas
para gratuitamente dar abraços
para matar saudades loucas.
depois de corridas tantas léguas
trago o corpo descaído
mas à vida não dou tréguas,
valeu a pena ter vivido.

natália nuno
rosafogo