terça-feira, 13 de agosto de 2019

a tocar-me os pés o estio...



que faço com as asas se findou a primavera
agora que me vejo consumida pelo inverno
na penúria da espera,
na esperança de mais um dia de vida?
no repouso das tardes as ideias
prendem-se na teia da ansiedade,
que fazer com as asas, se vivi dia a dia
de saudade?
cansada dos dias serem só cansaços,
das sombras renascidas nas paisagens
desfeitas dos meus olhos,
da cegueira de ainda ter esperança,
de reaver  abraços
que me foram dados em criança.
no interior do peito o vazio
como estar viva sem ter vida,
caminhar horas cinzentas sobre o gume do fio
e a porta do sonho estivesse adormecida.

vou perguntando e ninguém responde
nem os espelhos, nem os pássaros do rio
não sei por onde ando, por onde?
se os meus passos são esquecimento
e a tocar-me os pés o estio.
minhas asas caídas são lamento
há em mim somente uma imprecisa alegria
epifania profunda fervilhando poesia.

natália nuno
rosafogo
imagem pintarest






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