domingo, 29 de dezembro de 2019

tarde lírica...


pequena prosa poética
Sinto-me agora na proa da vida, leva-me esta como um barco duma margem à outra margem, neste rio caudaloso faço travessia, dia e noite, noite e dia, ora em águas claras ora em águas turvas com redemoinhos no seu leito num murmurar sereno vou resistindo às intempéries de cada instante...
Ouço a canção do vento que se faz ouvir, as horas correm como se não tivessem cansaço nos pés e eu, à sua frente um tanto fatigada, tentando exaurir minhas forças e não me deixar levar ou cair nesta subida.
A saudade se encarrega de me trazer de novo recordações e eu poeta me sinto, vou criando com o segredo ou o mistério que só meu coração conhece e entende, também porque a esperança ainda não se fartou e o amor à vida não morreu...sinto-me agora com o peso dos anos nos ombros, meus braços pendem como os galhos das árvores ao peso da chuva e do vento, mas no meu horizonte há ainda raios de sol vermelhos que me aquecem a alma e meu corpo sente-se a saltitar com a agilidade duma cabrita montesa, entretanto escrevo, escrevo quando a lua se passeia p'lo céu, além , muito além, e o outono vai adiantado, o sol no ocaso inflama, avermelham as folhas que vão caindo atapetando o chão e o meu coração ama...ama...e as palavras vão amaciando meus dias, são como armas frágeis com que enfrento a monotonia, até que os pássaros regressem e cantem na minha boca ou até que o sol da manhã me traga de novo o desejo de voar.
natalia nuno

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

ternura...



olho esta fotografia
e me vêm palavras de sol ao poema
nasce vida no meu pensamento
tomo alento,
nem tudo é feio como parece
elevo a asa da minha mão
e escrevo o que me dita o coração.

aos versos desce a ternura
cristalina e pura...
acato o que o destino me destina
o tempo me mostra outra luz
a vida acontece, como quando era menina.
minhas asas são agora nostalgia
trazem consigo minha bagagem
versos feitos à minha imagem,
não há prodígio maior
que relembrar o que foi um
grande amor...

natalia nuno
rosafogo


passo o tempo a desejar-te...



passo o tempo a desejar-te
como se tivesses partido
e o tempo sempre a chegar-se
a ofuscar-me o sentido
volto à felicidade d'outros tempos
a ver-te chegar
recordações fugazes como pirilampos
voejam nos lençóis quentes
onde os nossos corpos de desejos
se entregavam em caricias
e beijos...
escuto o silêncio, as horas deslizam
e a lembrança daquele tempo
me põe louca
passa um doce vento e num beber lento
teus lábios entreabem minha boca
mordo a polpa fresca que me ofereces
a recordação é agora ilusão
que se aperta contra o peito
e como naufraga esqueço o respirar
para no teu beijo me deixar afundar.

verdeja o meu instinto, não minto!
que outros sonhos inventar
se passo o tempo a desejar-te?

natalia nuno
rosafogo

a menina em mim...



murmura a noite e o vento
a memória leva-me ao esquecimento
de mim, fico ao relento,
e a solidão cresce às primeiras sombras
a vida que às vezes parece mansidão
noutros momentos se ensombra
insegura, pergunto-me como será
quem fiel me recordará
no tempo...
e, a memória procura
no tempo que se arrasta
a criança que em mim perdura
caindo cansada, do tempo prisioneira.
a noite cresce nos seus olhos
traz com ela um raminho de oliveira
e um sorriso de murta e jasmim
a menina que espanta o frio
quando a vida chega ao fim!
espanta ventos e o vazio
e os rouxinóis acorda em mim.

contente como só as crianças se atrevem
porque à vida nada pedem
e nada devem...

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

noite de Natal...


uma alegria estranha
vozes diluem-se à distância
ecos ao longe, vindos
da infância... gente ordeira
e submissa, tocam os sinos
não se escolhe o destino
lá vão todos à missa.
é noite de Natal
grande paz, bulício de estrelas
música irreal, oração
origem da minha verdade
verdade que não desejo perder
e do lado de cá da vida
a saudade...não quero esquecer!
uma noite fria
a brisa fina e eu menina,
todos presentes, «agora ausentes»
são um todo real
nesta noite fria de Natal

tudo envelheceu perdeu o encanto
e, o eco espectral leva-me a memória
às longínquas noites de Natal...que,
eu ainda lembro tanto...

natalia nuno
rosafogo

domingo, 22 de dezembro de 2019

arco íris do pensamento...



Sou o verde do arco íris
a esperança me nasce todo o dia
faz sentido se me vires
no olhar tamanha alegria
trago pássaros no ramo
do pensamento,
e outros virão
chilrear de contentamento
só por saberem que te amo
e quero à vida com paixão

Sou o vermelho e o azul turqueza
pássaros em mim de súbito a cantar
ficam por ter a certeza,
que um dia irás voltar!

Dos girassóis sou o amarelo
sinto no peito o rosa a florir
o lilás também me dá jeito vê-lo
quando na solidão te vejo partir
é este o curso do meu destino
e já se anuncia o fim do Outono
meu dia tão pequenino
as horas fantasmas onde 
a sonhar me abandono...

natália nuno
rosafogo

versos humildes...


Ah! Meus versos são de sonhador,
minha alma floresce com a madrugada
trago no peito a jóia que é o amor
estremece-me a voz apaixonada
há rosas e lírios no meu jardim
que abrem e odoram
quando me beijas a mim
sonhos que não morrem mais

Ah! Meus versos são de sonhador,
sonho dum rosto que emudece
onde o sol já não brilha,  
e a vista entristece,
de humildes, são tão divinais
versos de palavras brandas e modestas
rompem dum peito que jamais
o amor enfada,
e neles sou uma ninfa enamorada

Ah! meus versos são de sonhador.
onde a saudade cresce e se mete
e o amor sempre promete
doce canto, ou triste pranto.

natalia nuno
rosafogo



quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

tão inimiga de mim...



com as mãos estou escondendo
os olhos com que me vejo
sendo amada ou não sendo
o que vejo,
traz-me sentimento que não almejo
sem graça, nem formosura
tão inimiga de mim
a que vejo é uma tortura
que vai comigo até ao fim
para que não me diga a dor
que de vê-la fica louca
encubro os olhos melhor
e assim menos sou, menos estou
nesta vida que é já pouca.

mudaram-me minhas vontades
e é já vã a minha esperança
escondo-me em mim com saudades
e aceito qualquer mudança

e assim com as mãos escondendo
suspiro imaginando
que a outra, não sou eu morrendo
é meu coração de aço gritando.
deixei há muito a nascente
já no outro extremo estou
antes que a morte me atente
ou em tal desventura me veja
meu rosto emudece, menos sou,
menos estou...
quer Deus que assim seja.

natalia nuno
rosafogo





quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

um punhado de palavras...



trago um punhado de palavras
algumas banais
que habitam em mim...
nelas vogais que falam demais
e consoantes fulgurantes
que ressurgem como gaivotas
palavras de sonhos,
palavras mortas,
adjectivos que gritam
metáforas musicais
e as tais vogais
que falam demais.
moldo-as à minha maneira
as sílabas soletram a vida
palpitando no coração
os gerúndios amando, arrebatando
escutando e penetrando
a memória no calor da noite
pondo-me velha a lembrança
de quando era criança
palavras que são fantasia
não sentem a dor de que me queixo
senão meu mal lhes contaria!
mas contada por elas não deixo.

palavras, utopias
nos meus versos as cantei
nada me impede de lembrar,
quantas vezes as encontrei
desistindo, de por mim esperar

natália nuno
rosafogo
escrito em 1988

desesperança...



saudade de quem se ausenta
saudade de quem já partiu
saudade que não se aguenta!
de quem nunca mais viu...

tanto lágrima à despedida
tanto choro, olhos no chão
tanto beijo alma partida
partido ficou o coração...

quem partiu jamais voltou
da realidade resta lembrança
saudade no coração apegou

os pensamentos em trovoada!
grão d'areia que resta d'esperança
à volta sempre saudade redobrada.

natalia nuno
 rosafogo

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

a idade da primavera...


num sonho só meu
balanço na crista duma emoção
subo até às estrelas
e lá no cimo, desfraldo o coração

como se fosse bandeira

e canto como pássaro à beira
 d' água.
volto a abraçar-te sem mágoa
pego nas tuas mãos
olha a tremura dos meus dedos
os segredos d'alma calada
as turbulências na minha voz 
desordenada,
isto é amor e saudade,
da idade da primavera
quando tudo sobra e nada falta nela
e a felicidade todos pensamos
merecê-la...
idade vencedora e nunca vencida
com o sonho sempre à mão
a alma de esmeraldas guarnecida
e de ouro vivo o coração.

natalia nuno
rosafogo



segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

meus dedos bailarinas...





os gemidos que saem
dos meus dedos, ninguém sabe,
ninguém ouve...são segredos,
impulsos que não venço
e cada vez mais me convenço
que me hão-de levar à loucura,
dedos que deslizam em pontas
como bailarinas, ternura,
meninas...sempre prontas
a esboçar em vôo, leves plumas
ingenuidade de quem sonha
sem certezas nenhumas...

orquestram verbos de desejo
possuem fogo no coração
meus dedos pássaros de ilusão
espalham aos quatro ventos
o acordar dos meus pensamentos
escrevem palavras de amargura
outras tantas de prazer
sorriem à minha loucura
minha alma fica ruindo
e o meu coração partindo
meus dedos lembram
um mirto florido
a enternecer meu coração
pela saudade vencido.

natalia nuno

a todos os que visitam este blog...


domingo, 15 de dezembro de 2019

a dor da solidão...


tudo o que cala
segreda aos sentidos,
escondida atrás da cortina
ausenta-se de olhos caídos
mas não cede à vida
e se a dor da solidão a alucina
não se dá por vencida.

fala do tempo louco
do tempo que é já tão pouco
prá morte que a vida ofusca
mas a palavra que não fala
ela no coração cala
e a felicidade, ainda assim busca.

o tempo agora é pássaro a voar
sonos e sonhos se soltam
e sempre a solidão a insinuar
que os dias risonhos não voltam.

natalia nuno
rosafogo
imagem pintarest

sábado, 14 de dezembro de 2019

este nosso amor...



dá-me o que tens
recupera o fôlego
sou tua ilha de fogo
o vento do desejo
a casa onde me amaste
e às vezes eu rogo
com  saudade
dá-me a tua nudez,
que tenho vontade
que o teu corpo do meu
não se afaste
e talvez,
eu seja a rosa sem espinho,
de novo a prender-te ao meu caminho.

natalia nuno
rosafogo


o silêncio...



o silêncio vem de mansinho
deixa o trilho apagado
faz do meu caminho
um deserto e meu voo isolado
deixa a minha alma a nu
fica o corpo emudecido
o meu rosto é um espelho
que enluta, entristecido
mas os olhos já não choram
trago a face enxuta.
sonho, desilusão,
tudo se enlaça ao meu redor,
e logo a vida passa
nos escombros fica a dor.

o silêncio a rasar meu chão
rendo-me sem condição
deixo ao longe o lamento
quero livre pensamento
e vivo, o amor
no lastro do coração

silencio para tudo ser perfeito,
e o que me vem ao pensamento
é o amor que trago no peito
que é meu sonho e meu sustento.

natalia nuno
rosafogo
foto da net




quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

meus olhos seguem-te...


trago os olhos em busca
de ti
a boca sorri 
quando te vê
eu sei que estás aqui
aqui, tão perto
no fundo do meu peito
a noite desce
e na escuridão te sinto
em meu coração,
nele a chama não morre
deste amor adulto
que é loucura
sonho farto que sempre dura

é já campo de estio
este coração que sangra
onde a semente ainda germina
e os pássaros sempre regressam
trazendo desejos,
e o som da tua voz até mim
lembrando os teus beijos
e o aroma do teu corpo
que odora a giestas e alecrim.

natalia nuno
rosafogo

sou nada...


és sempre aquele sol que me falta
trazes de calor as mãos cheias
és a minha saudade
a razão do meu poema
hoje és o meu tema
me entrego a ti insaciada
nesta embriaguês que sinto
nesta estranha força continuada
nestes versos que não calo
amor que me faz mover sem tino
e faz do meu coração dançarino.

olho-te vivo com gosto
sigo sem medo, vou em frente
meu céu sereno é teu rosto
teu sorriso é meu presente
sem ti o dia é longo e penoso
este estado põe-me louca
sou nada, ou coisa pouca
e a chorar trago o coração
de ti desejoso...

só o tempo deste bem querer
me privou
o mesmo tempo que tanto amor
me ofertou.

natalia nuno
rosafogo



terça-feira, 10 de dezembro de 2019

sem palavras...


são de vidro minhas palavras
trazem desejos de poesia
uma tardia vontade
em ventos sem direcção
a relembrar o passado
com saudade
mas sem perder o cuidado
de machucar o coração
os sonhos, amores, venturas
já foram e já não são!

se a mim me fosse dado
daria a vida de bom grado
para voltar a viver
ao teu coração me entregava
com aquele amor estremado
que trago em mim a sofrer

palavras que um tempo me contenta
de vidro quebram e, logo o tempo
de novo me desalenta...

natalia nuno
 rosafogo

soluço...


resgatei o espanto
cresceram em mim as asas
e enquanto
a morte dorme
recolho-me na infância
trazendo até mim a lembrança
e os sons aos meus ouvidos
incentivam meus sentidos

vá a vida para onde vá 
já nada me espantará
nem a morte se vier
pode vir quando quiser
mesmo que seja tempo perdido
pois espanto não vou ter
serei louca senão a olvido?
mas um dia vai, vai ter de ser
minha esperança é escusada
nem vou suspiros gastar em vão
a vida é curta para viver
e curta para chorar ou viver em solidão

natalia nuno
rosafogo


ao que vim?...


o passado não regressa
nem os sonhos que criei
só a lembrança me namora
para que não esqueça
quanto amei

o passado é minha viagem
meu espelho e minha
imagem,
donde venho?
não vou dizer...sou maré
que foge de mim...
ao que vim?!

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

o despertar...



Será luz a nova flor que se abre? Permanece o silêncio... talvez só uma comovida flor que o orvalho resolveu golpear, num prazer desperto de levar para longe a semente, com a promessa de fazer tremer a gota de água que a fará germinar...se te amo, é porque deixas o teu perfume a cerejas silvestres! Dá-me a tua promessa, acende meu arco-íris de prazer antes que enferruje a minha esperança e as palavras me resvalem na garganta...como um tíbio raio de sol, onde a claridade já estremece.
natalia nuno

sei de mim...




o pensamento assegura-me um mar de sonhos com aromas arrancados de vermelhas rosas, e nas sombras das palavras viverás para sempre nas areias desse mar, hei-de despir-te com a ponta dos meus dedos e, nesse instante de fogo, quero-te na inquietude desta minha sede, quando o sangue brota e o coração pulsa...há begónias que florescem na minha saudade, e açucenas tristes que olham meu rosto,  trago teu nome escrito no meu peito, quero um abraço forte e tudo o que vem de ti aceito!... diz-me o pensamento que te  mereço, mas sem um mar de sonhos, enlouqueço! solto um grito de verdade, quero morrer, renascer e voltar a amar-te, para de novo te perder... nesta magoada saudade.

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

versos tristes...



incendeia-se um lume em mim
à tua chegada, e é sonho perfeito
entrelaçado de flores de jasmim
contidas, e puras no meu leito...

- e como divindade ali me deito
por mais que a luz falhe e escureça
sonho que virás, é o sonho perfeito
o coração amar-te-à até que pereça

- e não me culpem se estiver errada...
já q' conheci mil vezes d' amar a ventura
trago comigo a saudade como namorada

em meus versos tristes vou cantando
debalde vezes sem conto e com ternura
quantas mágoas a vida me foi dando

natalia nuno
rosafogo


quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

oração...



bem vindo o sol que nos traz esperança
bem vinda a manhã a nascer
bem vindo o sonho
e os afectos, que serão rios de prazer
para longe o desamor
para longe a desolação
bem vinda a vida erguida ao amor
e bata no peito o coração.

bem vindo o fervor da terra crescente
bem vindo das árvores o fruto saboroso
bem vinda a primavera que chega fervorosamente
com sol luminoso amendoeiras brancas
e nostalgia, bem vinda à memória da gente
a saudade dos dias,
porque o tempo não perdoa
e a vida que era mar,
é agora uma lagoa.

natalia nuno
rosafogo


lugar por onde caminho...



atravesso lugares,becos e pontes
tropeço ingénuamente,
sigo por atalhos procurando
horizontes, levando no coração
o amor docemente,
mesmo no meu abrigo vou sonhando
com o mundo perfeito.
e algures no sonho vou-me entregando
às esperanças, é este o meu jeito.

lanço um olhar e tudo parece
renascer, tudo se anima e reaviva
a paz não pode morrer
em mim albergo a felicidade viva.

quero viver em seara madura
de paz e amor, porque assim deve ser
é esta a sede do m'coração
onde a ternura se faz plantação
eu me dessento e encontro prazer.

natalia nuno
rosafogo

este afecto...


instante de entrega
serei tua se me quiseres
meu coração do teu não 
despega,
este afecto que há muito nasceu
foi talhado no céu
prevalece no tempo
o destino o marcou...
mas foi Deus que assim destinou.

natalia nuno
rosafogo
imagem pintarest

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

frémito de vida...



contenta-te em ser como a folhagem
aproveita a luz que há em ti reflectida
depois virá o tempo com a voragem
que te levará o último frémito de vida

vai bailando como folhas dos salgueiros
na vida que passa como a água e o vento
para trás ficaram as febres dos primeiros
amores, que ainda trazes no pensamento

amaste, mas nunca como a vez primeira
ah...primeira! quem de amor anda perdida
não dormirá por certo a noite inteira...

talvez fosses louca, e lá bem no fundo, o
sonho vão de mulher, lembrança dolorida
com amor, querendo, amar todo mundo.

natália nuno
rosafogo



segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

isto é amor...


os lábios movem-se suplicantes
a respiração rasga a garganta
a excitação, a troca de olhares
a pulsação acelerada, é hora de amares
e uma emoção tão pura
duas horas de amor, duas horas de sono
e a jura, num momento que se eterniza
fica o corpo ao abandono
enquanto tua mão nele desliza,
subtil por dentro do meu vestido
vamos abrir a noite e até de madrugada
tudo se une, tudo é lava de vulcão
o amor se alonga, no interior da alma
no interior do corpo
o amor ao alcance da minha mão.
fica o lençol e a ternura amarrotada
volta a saudade que me invade
e pouco mais que nada...

natália nuno
rosafogo


loucura de amar...



quero decifrar cada momento
guardar-lhe o sabor
de ti, do teu olhar
do enlouquecer de amor
na hora de amar.
guardar o teu  perfume almiscarado
e depois de teres voltado
ter-te por inteiro nos meus braços
deixar-me levar pelo frescor
dos teus lábios que me embriaga,
e com a nudez da carne desejada
sonhar, e acordar assim,
com o rumor dos teus passos
voltando de novo para mim
e ali,
desfrutar de novo de beijos
e abraços...

natalia nuno
rosafogo

domingo, 1 de dezembro de 2019

atravesso a loucura...


escorrega uma lágrima quente
no rosto frio e sombrio
tomba ao chão,
o corpo vai enviuvando
esquece a euforia,
e o coração despenhando
numa solidão obscura dia após dia, 
atravessando a loucura.
saudade avassaladora que entrou
no vazio de mim, 
e desassossegou o sono
como tempestade me toca
e me deixa ao abandono...

não sei que sentimento me invade
não há gesto de ternura que lembre
ou guarde, o sonho é tentação
e eu sorrio, enquanto tomba a lágrima
no chão...

natália nuno
rosafogo
imag. pintarest

o mar, o céu e eu...


a terra vai despertando
o azul do céu a endeuza e ilumina
o mar e o céu dormem ainda levemente entrelaçados
num sonolento esvoaçar algumas gaivotas
tudo enfeitiça o nosso olhar
e eu como hospede deste ambiente, usufruo,
já que Deus criou para mim este instante
traços leves de pequenos peixes parecendo felizes
fulgurando prateados
enchem-se os dias de outono
ao longe um reflexo turquesa no limite do horizonte
deixo suspiros ao abandono
deslumbrada com esta resplandecente estação
magia que me harmoniza com a terra, céu e mar
e põe em paz meu coração...

a voz do mar se eleva
a terra esquece da noite a treva
a luz do céu traz a glória ao dia
e no meu coração canta uma cotovia.

natalia nuno
rosafogo
imag. pintarest

acompanhada e só...


acompanhada e só!
cada vez mais me confundo
será que desatou o nó
e o amor está moribundo?
dos caminhos que a alma pisa
vem-me este enganoso pensamento
olvidar-te meu coração precisa
para acabar com este tormento
as sombras do dia vão alto
já se foi mais uma jornada
trago o coração em sobressalto,
serei eu pouco, ou serei nada?!

são sempre as trevas que rendem
se os sonhos não se acendem...

natália nuno
rosafogo
imag.pintarest

sábado, 30 de novembro de 2019

tempo ao tempo...



surgem mil sombras na memória
é esquecimento,
e a mente tão puída
chega o tormento
de ficar de mim esquecida
fatigada, digo em jeito de despedida
o que me vai na alma
dou tempo ao tempo
hei-de voltar à minha serenidade
e voltar a viver com vontade
a vida é mestra, dá-nos o mel e o fel
deixa-nos sonhar
escancara-nos a porta de par em par
para depois a fechar duramente
com um gesto finito
como se não pudesse adiar...

natalia nuno
rosafogo
imagem pintarest

tempo de espera...


basta-me um pouco de ilusão
para esquecer o vazio
da tua ausência.
vou embalando o coração
arrumando o pensamento
e com a saudade invento
palavras que são rosas, generosas,
que recolho em tempo de espera,
tanto... que tanto me doera, 
 silêncio e nostalgia
pela madrugada fria correndo como rio,
deixando-me em sonhos a amadurar
e o coração em desalinho
enquanto a vida corre a afastar-me
do caminho.

palavras gastas neste outono
indeciso, quando o que apenas preciso
é de amar-te, mas a vida amadurou demais
e só os pássaros que vivem em mim
escutam os meus ais...
tempo de mágoa, de silêncio alongado
meus olhos são agora d'agua
por tanto te terem amado.

natália nuno
rosafogo
imagem do pintarest

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

poesia amantíssima...



um poeta toma refeições ligeiras
um bom poema é a sua refeição
predilecta...
uma fatia de nuvens, salpicada de nevoeiro
ou uma fatia de neblina matinal
salpicada de orvalho e, impregnada 
de aroma de flores,
a adoçar uma luz sobrenatural.

e no rosto dos demais
porque os julgam loucos
é visível o desprezo
mas as estrelas não são mensageiras do céu?!
no caminho de vento agreste e de escuridão cerrada
só a poesia tem de seu
assim retomam a caminhada
o sol rompe o nevoeiro, volta ao poeta
a quimera, e a sua vida
é urdida, por um destino maior
o da POESIA, que é um acto de amor.

natalia nuno
rosafogo
imag.pintarest

índícios...



há uma neblina a circundar-me o olhar
a luz está longe e no rosto há girassóis 
a morrer de cansados em fim de verão
viver um pouco mais, será um caminho a descobrir
encontrar algum consolo no coração
deixar o tempo cair por terra
seduzir o sonho e tê-lo por companhia
para que arda tudo o que ainda resta
e se à noite vier a solidão que dói
que venha o dia,
e o amor ainda ser uma festa!
sei que mereço, e, uma criança ainda pareço
viro o sonho do avesso, e vou ser feliz
e de tudo que não acontece
haverá um novo começo
porque um grande amor, jamais se esquece.

natalia nuno
rosafogo
imag.pintarest


tempo imóvel...



esvoaça a cortina
confusão, traz-me a noite enlutada
o tempo mantêm-se imóvel
no peito uma sombra desolada
da qual não quererei nunca fugir
ergueu muros à minha volta
e só o silêncio se faz sentir
vou sentindo na pele o medo da orfandade
a noite e eu
numa aliança que nos une
invento sonhos com a saudade
e numa resignação sem tempo nem medida
enfrento os dias cada vez mais indefesos
da minha vida...
esvoaça a cortina e por mim passa
um sonho de menina.

natália nuno
rosafogo

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

sempre de amor à espera...


meus braços de tanto abraço
já acusam o cansaço
já só querem estar caídos
os pensamentos perdidos
num imenso vai e vem
moram no sopro do vento
que os acolhe e entretém.

desenho na palma da mão
como se fosse uma hera
o meu e, o teu coração
do fogo do amor fiquei à espera
mas o vazio é evidente
nem tu nem eu adolescente
era apenas ilusão!

mas a alma inda resiste
ainda existe nela mil sóis
não quero ver-te triste
no amor somos heróis.

natalia nuno
rosafogo

sem dó...


meus ouvidos são inúteis
já nem ouvem o correr da fonte
mas meus olhos ainda vêem
o sol a esconder-se no horizonte
o tempo despedaçou-me o rosto
sem dó nem piedade
e a melancolia ao sol-posto
desperta em meu âmago
a saudade...
o coração logo se agita
e ela desgovernada 
em meu peito gravita.

meu mar profundo
me segreda a vida
vou sentindo o mundo
com a audição perdida

natalia nuno
rosafogo

dantes...



dantes,
havia flores no meu olhar
chilreavam pássaros na minha boca
mas o tempo os calou e eu deixei de sonhar
só as estrelas escutavam as melodias
nas manhãs voluptuosas, até as rosas
me davam os bons dias
outro destino segui
a vida começou, onde nas tuas
mãos me perdi, deslumbrada
renascia, 
e era só para mim que o sol nascia.

ficou no ar uma tristeza saudosa
e já não há nem sonho, nem rosa
o sonho deixei dependurado
no ramo do salgueiro
ali de amor o beijo, o primeiro!
os meus olhos deixei ao sol e ao luar

hoje vivo sem pássaros a cantar
e condenada a não chorar.


natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

cega esta sede...



nunca a sede se apaga
sempre a desperta a noite
é como cura sem esperança
é açoite
 na lembrança, 
cega esta sede
já que a fonte secou
e já nem lhe ouço o eco
só o amor por ti restou

amo e odeio-te
quero-te e não te quero
a vontade morreu-me
se te perder?!
da saudade vou viver
e esta sede esquecer!
trago-te retratado em mim
em meu olhar enamorado
hoje e sempre até ao fim...

natália nuno
rosafogo

oração... tempo sem volta



bem vindo o sol que traz esperança
bem vinda a manhã a nascer
bem vindo o sonho
e os afectos que serão rios de prazer
para longe o desamor
para longe a desolação
bem vinda a vida erguida ao amor
e bata no peito o coração

bem vindo o fervor da terra crescente
bem vindo das árvores o cheiro odoroso
bem vinda primavera que chega primosamente
com sol radioso,
com amendoeiras brancas
e tanta nostalgia,
que trazem à memória
dias de criança, dias de alegria.
lembranças que põem o coração
aos pedaços
é tempo agora, de relembrar esses laços.

natalia nuno
rosafogo

venho a partilhar alguns dos meus 1ºs poemas, pretendo que todos eles permaneçam neste blog. Estou grata a todos os amigos que os lêem.

recordação



detêm-se o tempo
minha vida é tão jovem
como seara de verão
no pensamento saudades chovem
procuro uma sombra
sabe-me bem a solidão
lá de cima o sol olha o mundo
a terra observa sua majestade
enquanto eu...vou vivendo da saudade
sonhando acordada
na paz de Deus amparada.

de fronte serena, olhando o horizonte
a terra aureolada
já não criança de vida começada,
mas a cair, em fim de jornada.

natalia nuno
rosafogo


terça-feira, 26 de novembro de 2019

ilusões...



o punho da vida me esmaga
forte, cheio de energia
eu grito à saudade me traga
o sonho
libertando-me desta agonia
enquanto tudo dorme
nas sombras da noite tomo alento
liberto meu pensamento
uma estrela resplandece nos meus olhos
queimados
e os sonhos surgem em cachos dourados
vejo agora o mundo melhor
sou mulher palpitante d'amor
com os sais do tempo no rosto
riachos de água enfurecida,
mesmo assim, sinto-me agradecida
na minha vida entraste
como o sol brotando no horizonte
o tempo foi passando
e hoje, ainda brota amor na nossa fonte.

natalia nuno
rosafogo








poema d'amor


poema d'amor que já se esfuma
se o fogo em mim não ateias
dias cinzentos como bruma
e o sangue estagnado nas veias.
revivo versos abandonados
carregados de sonhos dourados
ouço com alegria ou tristeza
ecos do passado,
tudo o que guardo agora, calado
na memória, onde a saudade mora.
reinvento a felicidade
onde foste e és o instante e a eternidade
estanco a tristeza na certeza
que amanhã será ainda novo dia
que a vida foi mais do que pedia
e num poema d' amor
dizer-te que és o meu trigo
e que viver só vale a pena
se fôr contigo...

natalia nuno
rosafogo

desejo...


o desvario do corpo abandonado
na cegueira do desejo,
coração que de paixão
estremece,
doçura do beijo
que se conhece
paixão tão grande como o mar,
visível no olhar...
arrepio secreto da pele
sortilégio do amor
do pulsar do sangue o rumor
 estarmos a sós
num encontro cúmplice,
em nós o êxtase do enamoramento
 sermos dois num barco à deriva
ter a felicidade cativa
e já nos comover a saudade
belo reviver com arrebatamento
amarmo-nos livremente e, na memória
guardarmos a nossa história.

natalia nuno
rosafogo

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

sonho de saudade...


pelo teu corpo passeiam minhas mãos
donas dos meus desejos
dominam meus anseios
sinto-as, e vou
ora resistindo, ora não,
enquanto de amor bate o coração
as tuas, nos meus seios viajam
a cada segundo...esqueço o mundo!
meu corpo é lava acesa
areia em tempestade
um mar em sua braveza
é teu porto de abrigo
quando nos chega a saudade 

natalia nuno
rosafogo

só nós fazemos amor...



não é nada meu amor
é a chuva que cai
no centro da noite
envolve-me nos teus braços
esquece o rumor
todos dormem agora, exaustos
só nós fazemos amor
anda devagar
deixa os pássaros enganados
não apresses a madrugada
sente o que cresce em nós
desejo sem cessar
deixa-me recolher da tua boca
ansiosa os beijos
oferecer-te as mãos
em satisfação indo e voltando
o coração pulsando
e eu saberei inventar
e impregnar de doçura
o modo de te amar até à loucura,
sem pressas
que o dia pode esperar

natália nuno
rosafogo