sábado, 24 de março de 2018

sombras...



sombras emaranham-se no rosto
firmes, já de uma forma esquecida
a vida as teceu nos dias de solidão
é isso que significam, é isso que são!
a vida tem dedos de sombras, longamente
esticados, que nos vergam e deixam o rosto
sem feição...
pontos escuros, sinais gravados na face
e os olhos nos lagos se afogam
o rosto belo, belo como a neve do jasmim
promessas,  paraísos, depois risos
passaram por mim...

meus lábios ficam mudos
perdi o caminho, não sei como reencontrar
nada escapa ao tempo faminto
ataca e morde até se saciar
na sua voracidade
numa queda sucessiva, vamos ganhando idade
suportamos o insolente
que copiosamente, nos vai deixando na saudade

natalia nuno
rosafogo


segunda-feira, 19 de março de 2018

mariposa exausta


desisto de escrever por hoje
já nada há na minha imaginação
até ela me foge...
há pétalas esmagadas p'lo chão
e eu, mariposa exausta de esvoaçar
sobre a urze do monte, sobre o alecrim,
no meio dos sobressaltos do vento
dou por mim, cansada,
é o fim deste dia cinzento
que se desfaz em noite escura.
resta  a melancolia. o lamento
e a feiura do tempo, que me vai moldando sem piedade
deixa um rasto no meu rosto assombrado
e um coração de saudade quebrado

adormecem as rosas de cores frias
enquanto arrumo o fio do pensamento,
apresso o passo que breves são meus dias
afunda-se a tarde neste crepúsculo cinzento.
já se foi o calor das minhas mãos,
agora vazias, sentem a solidão dos dias repetidos
ressequidos de sonhos passados...
aguardo p'lo sol que mal espreita
enquanto a vida se ajeita
que nada interrompa esta m' meditação
foi-se a antiga alegria
resta a cinzenta inquietação

este poema escrevi, rasgando o azul do sono
subindo os degraus da noite escura
com a memória agoniada
e eu sigo até de madrugada...
aguardando a manhã futura, com energia na alma.

natalia nuno
rosafogo