sábado, 17 de abril de 2021

hoje ela é estação sem folhas...

 


hoje ela é estação sem folhas, outono onde nada germina, onde há caminhos molhados e a estrela que a seguia desde menina perdeu-lhe o rasto, os sinos da aldeia já não dão horas estão parados... há muros caiados de branco, e um fresco silêncio... no adro onde saltava à corda já não há crianças a pular e há soluços dissolvidos no ar que só ela ouve... procurou e não soube, onde pôs os brincos de princesa que deixou na chaminé onde havia uma candeia acesa, procura...procura, como se fosse uma borboleta cega, e só a boneca de trapos a alegra, olha pela janela pequena as rosas que ainda não vieram e ouve o murmúrio do vento a desdobrar-se pelos cantos da casa, só a saudade lhe enfeita a memória de azul, e consente que suba ao muro e ganhe asas de largueza pelas hortas... vai lavar os olhos ao leito do rio e entrega o sorriso às estrelas, a horas mortas, descansa na margem da saudade... onde afloram os sonhos.

natalia nuno
rosafogo
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em mim nada foi mudado...



o silêncio ecoa na minha memória
sozinha agora, 
dou conta do tempo vivido,
da mulher que tenho sido
que é forte, que ri mas também chora.
algumas vezes caída
outras tantas erguida
sempre com os pés a caminho
e uma saudade a cada instante
meu coração é adivinho
e o amor nele é penetrante.

em mim nada foi mudado
talvez me valha essa verdade
coração vazio nunca tenha estado
quanto mais não seja, vive nele a saudade.

este eco que de manhã à noite
martela na minha cabeça
e ao coração bate à porta
lembra-me manhãs de criança
que não quer que eu esqueça.
e é no verde dos meus olhos
onde eu agarro a esperança
e venço a dor, que ganho a vitória
sobre o tempo, tempo de silêncio
que ecoa na minha memória...

natalia nuno
rosafogo
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sexta-feira, 16 de abril de 2021

surgem as sombras...




já declina minha vontade
como declina o sol na minha janela
com arames presa a mim a saudade
que é tanta, que sou prisioneira dela,
quando penso em ti,
faz-se em mim eternidade.
os sonhos continuam a esperar em vão
o vento urde memórias, faz tremer meu coração
vai-me varrendo as ideias
enquanto a vida pula fora e me escapa
sou presa fácil nas suas teias.

aproxima-se a penumbra da janela
todas as minhas horas sem sentido
talvez aviste daqui a pouco uma estrela
e me alegre, por estrela já ter sido!

não sei porque me aflige a escuridão
talvez porque as sombras são tão tristes
vem o silêncio, e com ele a solidão
e nesta cegueira minha não esqueço
que existes!... morre a chama no meu olhar
esqueço a vida que como a hora vai passando,
sinto a saudade a apertar
feliz quem está na vida e vai sonhando.

fico inquieta na noite que chega agora
a vida anda à sorte de remos perdidos
dói-me o coração enquanto a alma chora
anda o sol e eu, ao acaso, por aí perdidos.

natalia nuno
 rosafogo

quarta-feira, 14 de abril de 2021

verso sem tino...



hoje trago o verso torcido
não sabe que quer, nem o que quero
hoje apenas me diz, que não faz sentido
que não espere, mas eu espero!
vou-o escutando por entre o pio
dos passarinhos, nas roseiras com espinhos
ou no canto das cigarras à beira rio.
verso que anda por todo o lado
a espiar tudo quanto é natureza
anda ao sol encadeado, ou à chuva molhado

e eu na minha vida, nas minhas lidas
observo-o nas suas vindas e partidas
hoje o verso é um torcido ramo
seco sem ninho de passarinho
já não é o verso que amo
que cai na folha e rola pela estrada
nem eu sou mais a sua amada.

verso feito de palavras secas
tiradas do fundo dum poço
nem me ouve, nem o ouço!
é orvalho que voa
por sobre a seara de trigo
e não há dor que mais doa
no dia em que ele não quer ser meu amigo.

natalia nuno
rosafogo
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ao olhar a vastidão...



canto eu e canta o vento nos canaviais 
e de quando em quando vem a chuva e canta mais
eu um chilreio de menina, 
ele uma canção peregrina
e assim se abrem as portas do meu olhar
em mais um contacto com a natureza
e haverá maior beleza?
o eterno sol, pode morrer-se em paz
retenho minhas asas, voar já não sou
capaz!
mas ao olhar a vastidão
e ver me menina e moça
enche meu íntimo louco de emoção
procuro que alguém me ouça
pois palavras não ouvi
senti que morri...

calou-se a chuva e o vento
já não há mais cantoria
isto de ser lírico eu alimento
nesta minha escrita dia a dia

ninguém deu por mim feliz
cantando de coração aberto
mas há um pássaro que me diz
que a saudade anda por perto

atravessou os tempo este amor
que é ave de luz em mim pousada
é meu céu azul, ainda conserva a cor
que me faz esquecer a longa caminhada.

natalia nuno
rosafogo
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terça-feira, 13 de abril de 2021

colho tempestade...



colho tempestade no outono da vida, que me deixa na penumbra, sem saber se o sol voltará a brilhar, mas, eis que o sonho volta a mim, e continua a seguir-me, aviva a sede do meu espírito e é como se o céu me estendesse uma trepadeira de quimeras azuis, onde as manhãs são de sol, com o pintor que dá luz e cor à natureza... diante da vontade renovada a vida me acolhe e me traz promessas com carícias mais quentes, então volto a alimentar essa magia que é amar, mais confiante e feliz, onde sem ti não consigo viver! não deixo que nada abale a minha tranquilidade, nem que o sorriso esqueça a minha boca, embriagada nessa felicidade, minha mente ardente e palpitante, me inspira a todo o instante!... a vida é breve e nada é mais importante que esse instante apenas nosso, instante em que deixamos a mente em branco, deixando apenas palpitar o coração.

natalia nuno
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segunda-feira, 12 de abril de 2021

bateram à porta...


nenhum anjo bateu à minha porta
nem nenhum vento a derrubou
que importa a vida que importa?
que tão pouco já nela estou?
mas a vida tem beleza
e sempre alguma alegria
bateram tenho certeza,  à porta
será utopia, ou estarei morta?
vale a pena sobreviver
ainda que, com nostalgia
neste outono perpétuo
oceano de desespero
se já não há esplendor, nem florescer?
a vida é varrida, por ventos ferozes
meus versos nas cinzas morrendo,
já não ouço as vozes
dos pássaros no ramo,
nem sinto a presença de quem tanto amo.
há  em mim o passado, o agora e o jamais,
há sorrisos e tristes ais...
será que ainda há frutos a colher?
no final da caminhada, há lembranças
que fazem sofrer..
e que silenciam logo de seguida
quando no coração está prestes a extinguir-se a vida.

a vida é ponte, entre nascer e morrer
é travessia, feita dia após dia,
apressado o tempo vai-nos silenciando
mas serpenteia em nós a esperança
que nos vai acalentando.
o dia nasce e logo se põe
também a lei da vida se nos impõe.

natalia nuno 
rosafogo
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domingo, 11 de abril de 2021

poema ao relento...



um raminho de giesta
na almofada com amor,
e ao acordar o pulsar do sol,
faz do teu dia, uma festa!
o sopro da brisa ao ouvido
esta felicidade tão livre
dará ao teu dia sentido.
tua essência de mulher
intima festa com a natureza
voa um pássaro por perto
nasce um poema surpresa.

um raminho de giesta
deposto entre teu seio
a noite que foi de festa
teu amor teu enleio,
poema com poesia
a enfeitar o teu dia
q' o sonho não vá embora
para não te rasgar o peito
agreste, rude, na hora
e seja outro amor desfeito
um raminho de giesta

logo os olhos secaram
amor... foi noite de festa!
gemidos se soltaram,
não há festa como esta
o que ama e é amado,
jamais pode separar-se
intemporal este amor 
vai o poema calar-se!

natalia nuno
rosafogo
2007/10

este meu voltar atrás...



este meu voltar atrás
a olhar o florir dos cardos
a ouvir a música nos prados
quando não anoiteceu ainda,
é felicidade que não finda,
faz com que as lágrimas me visitem
e me deixe a pensar
entre a saudade e a solidão,
a saudade que é recompensa
que sinto em meu coração.

saudade de tudo que perdi
saudade do que foi vivido
saudade de mim e de ti!
conter as lágrimas que vão doendo,
o nó na garganta, por tudo o que 
fomos perdendo...
houve sonhos que não ouso contar
tantas vezes a querer ainda espreitar
no meu pensamento, 
trago o rosto amargo, corpo indolente
sem alento o olhar
recordo a luz daqueles dias
que juntos partilhámos
enquanto nos amámos.
- hoje esquecidos vamos
com sulcos no rosto traçados,
-será que ainda nos amamos?
pensamentos absurdos...cansados,
sem asas mas ainda fascinados.

natalia nuno
rosafogo
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