sexta-feira, 8 de julho de 2022

os estímulos mantêm-me viva...


debandar pelos campos
abrirmos os braços de par a par
assim ficarmos até ao ocaso
pouco a pouco à solidão renunciar.
quero ser livre como a neve ou o vento
como criança que não nasceu ainda
quero voltar a viver o momento
de ser bem vinda!
não quero morrer de peito oprimido
quero assistir ao nascer do dia 
pleno de claridade
abrasar-me de amor, e viver a saudade.

com silenciosa humildade deixar-me ir
a sol descoberto, e o vento ondulando
e as portas à aurora abrir
enquanto adormeço te olhando
companheiro da minha aventura
fomos tecendo uma imensa teia
como quem sonha,
vida com ternura, mas, nem sempre
risonha.
olha as nossas pegadas,
porque o tempo vai-te ser negado
a vida fica inquieta, as bocas caladas
não somos mais botões por abrir,
nem conheceremos mais o estalar da primavera
em silenciosa humildade nos deixamos ir
errantes, perdidos, na dureza da morte
que nos espera,

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest

quinta-feira, 7 de julho de 2022

a dor da saudade...


                                                                              passa o tempo , a vida passa
tudo passa a vida cansa
fica sem graça...
- e o pensamento 
não descansa por um momento
não esquece, 
pois não merece, 
a dor da saudade.
 
passa a vida, o tempo passa
por entre os fardos do caminho
sombra dolente, sem graça,
desabrocha  a dor em desalinho
a tarde morrendo, a noite lá vem
a vida foi mentira da lua
sem ti, não serei ninguém.
o tempo passa a vida passa
passou a luz da alvorada
deixou-nos sem compaixão,
e por mais que me sinta amada
foram-se os sonhos veio a solidão,
o pensamento ficou montanha
a lágrima feita dor tamanha,
a alma cisne na lagoa 
na manhã nublada, 
na palidez da minha dor calada
que tanto o coração magoa!

natália nuno
rosafogo
2009

quarta-feira, 6 de julho de 2022

antes que o tempo passe...



não dialogues com o espelho
se ele te faz sofrer
será ele que está velho?
que importa? se teu olhar te reconhecer!?
reconhece-te forte
pergunta algo à tua imagem
segue teu norte com alegria
que está certo o final da viagem
penetra corajosamente entre a multidão
confia em ti, confia,
deixa o vento ondulando na tua face
que o sol te reconforte
antes que o tempo passe
e chegue a morte.

segue devagar entrega-te à vida
deixa teu coração pulsar
abre as portas à aurora
acolhe o amor ao poente,
serenamente,
ainda que tuas pernas estejam cansadas
ou os sinais no rosto sejam pétalas molhadas,
não deixes que te fruste o tempo
e estanque o amor,
não sofras de solidão sem sentido
deixa o espelho adormecido.

natalia nuno
rosafogo




terça-feira, 5 de julho de 2022

no fundo de mim...




já pouca ilusão passa por mim
como se pode esvaziar assim o que vestia
o coração?
o que ficou da vida que vestia este vazio?
tudo sumiu, só esta saudade presente.
de repente volto ao passado,
não posso deixar morrer o que me alumia,
aquele sonho duma noite qualquer
suficiente para com mais ventura viver.
olho o fundo de mim e vejo
recordações amontoadas
como borboletas ao meu redor,
entre tílias perfumadas...
aqui estou eu despida,
por mim já pouca ilusão,  mas
meus olhos ainda pedem vida
e palavras escritas pela minha mão.

vigia-me a insónia, encosto-me à cortina
nesta noite crua em erma solidão,
e recordo a menina 
que ainda se abriga em meu coração.

natalia nuno
rosafogo



domingo, 3 de julho de 2022

sente-se no peito...

sente-se no peito
o destempero da vida
onde a dor tem lugar,
e é deste jeito, que a saudade
me vem amparar.
deambulo em sonhos onde me perco
e esqueço a realidade
logo o amargo de boca
me deixa sombria e por vezes louca.
um labirinto de ideias sem fim,
onde me interrogo... que foi feito  de mim?
quebrou a vida,
apesar das promessas
as palavras também se perdem,
desencontros, meu mundo às avessas.
às vezes não me lembro de nada,
é como se a memória me fosse roubada,
um Cristo na parede e uma cruz quebrada,
às vezes deixo de ter idade
outras faço esforço a rememorar
e vem a saudade,
turvam-se os olhos, as lágrimas misturam-se
e tanto, eu tenho para lembrar!
sei de memória as canções que cantava
recordo os folhetins da rádio
que ouvia sentada à lareira.
lembro do terço da avó, da ladainha que rezava
do céu onde as nuvens mudavam de direcção,
e à minha beira, pessoas por quem tinha afeição.

voei sem asas, deixei o sonho ali
e as lágrimas feitas rio,
borboletas e pássaros em frenesi
restam-me brancos pensamentos
e o coração cheio de frio.

natalia nuno
imagem pinterest