hoje o mar...

hoje o mar alterou-se, sabe-se lá porquê... ficou paranóico, avassalador, mas depois, deixou-nos a fúria de o amarmos em liberdade, mais tarde passou-lhe a cólera e veio beijar-nos com paixão e delicadeza... e ali mesmo fiz um verso e foi o desvario, o delírio, nele adormeci o sol, coloquei cigarras a cantar nos canaviais e acreditei que era verdade o sonho que eu, o mar e sol sonhávamos...

natália nuno
rosafogo

a mão tão apaixonada...

a mão tão apaixonada, tão doce sempre presente apertou-lhe a sua com força, arrebatou-lhe o coração, em desvario ouviu a medo palavras em segredo, palavras que não conhecia, mas que ainda hoje giram na sua lembrança, seduzindo-a com essa ternura levou-a ao altar...tudo lhe parecia novo, até o brilho dos astros, cresceu rapidamente, mas no horizonte dos seus sonhos continuava a menina deixada num farol de luz, para rever sempre que fosse sua vontade...por mais palavras que a mão lhe escreva, brotará sempre a nostalgia, sentir-se-à sempre envolta por uma bruma, e nos trinados dos melros às portas da noite um esquivo poema lhe dirá que não tema mais um dia.

natalia nuno

rosafogo

cordão de flores ...

(DUETO)
natalia nuno e paulo césar

um cordão de flores me envolve o olhar
enquanto em silêncio aprendo os perfumes

trazendo o cheiro da maresia
meu olhar inflama quando o sol desponta!

entrelacei-as nas minhas mãos
-urzes e giestas, alecrim e mangerona ...

enquanto meu coração se abria
virei do avesso a espera e o desespero

e com um vagaroso sorriso
deleitei-me na ambrósia dos teus mimos

invadi-te o desejo
e quebrei uma por uma todas as restrições.

procurei um beijo
e descobri a serenidade do luar na prata das águas mansas

toquei-te delicada
certa de que alcançaria o infinito

já chegava a madrugada...
enfim, todos os sonhos têm asas e beleza!

natalia verso 1 (rabiscos)
paulo césar verso 2

Dueto a partir do poema de natalia nuno
que se encontra juntando todos os primeiros versos deste dueto
os segundos versos são de minha autoria paulo césar

basta sonhar...

hoje trago no rosto o brilho do açafrão
o silêncio desata-se com minha alegria
o sonho em mim arde e dói, mas
também alivia
o sonho essa recompensa ou apenas ilusão,
é árvore que floresce na minha mão.
nas minhas veias mais profundas
há sempre um azul-cinza e
um mel de rosmaninho
há caminho onde regressas
basta sonhar,
e é no sonho que te volto a abraçar.
às vezes a escuridão me atrai
e é doloroso no sonho entrar.
vagueio triste sobre o tempo que em mim cai.

com a alma erma, quase um deserto
ainda colho acácias de esperança,
ao meu redor, sempre bem perto
trago em mim uma ditosa criança.

natália nuno
rosafogo

vesti violetas...

abro as gavetas às escondidas, meus dedos leves dedilham memórias, e enternecida recolho palavras debaixo da língua cheias de saudades, de tudo que só eu sei...saudades tão grandes que não cabem no peito, respiro fundo e sinto o coração a bater, cada lembrança faz ninho em meus olhos e cura-me da solidão... vim voando desde a Primavera, até que o Inverno me tocou, e poisei no chão da desilusão, morreu-me o tempo dos sonhos, despi-me de papoilas, vesti violetas, esfacelei o riso e agasalhei a saudade que é na verdade a giesta que desembacia a poeira do meu dia...

natalia nuno

deixei-me em delírio...

guardei palavras delicadas num lugar de muita simplicidade e foi grande a emoção e a saudade, ao vê-las avançar sobre o meu horizonte perdido, ouvi-lhes o riso, fez eco nas minhas entranhas, e deixou-me na boca um sabor aos teus beijos, foi como se a brisa te trouxesse até mim... com espanto no coração, deixei-me em delírio, embriagada e a arder de novas ideias, a tecer novos dias e noites com meu corpo rente ao teu, numa aventura só nossa com a paixão em êxtase...

natalia nuno
rosafogo