sábado, 30 de agosto de 2025

há dias assim...



há dias em que me sinto estranha
dentro e fora de mim
sentimento ruim me acompanha
sem saber quem me afasta ou me chama
quem nunca se sentiu assim?

mas hoje sinto-me em liberdade
aprendi a não sentir falta
é minha escolha a saudade
começo a aprender a amar-me
ao coração dei alta

às vezes preciso fazer de conta
ah esta menina tonta!
tem medo, mas é segredo
nem sabe onde se meter
devagar, é seu desejo não envelhecer,
mas vai apressada a correr

pergunta por ela,
- e o tempo responde-lhe:
não tens saída, é esforço vão
foi-se o riso ébrio dos teus olhos
- mora agora neles a solidão!

natalia nuno

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

choro por mim




lentíssimo verão,
silêncio envelhecido
poema revivido
pobre coração!

poema que atraiçoa
servil em trazer a dor
não há dor que não doa
quando o assunto é amor

minhas letras molhadas
de lágrimas choradas
afogam-me perdida
pernoita no coração a ferida

choro por mim
desilusão no olhar
já fui flor de jardim
despedaça-me o tempo por fim

ao silêncio encostada
este me devora,
amar não, não é ser amada
o amor vem e vai embora

memórias desarrumadas
neste poema onde esvaziei
lembranças perfumadas
que com carinho te dei.

natalia nuno
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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

ouço a saudade a falar...

um peso ao princípio
da noite
uma guerra aberta no peito
e eu sem saber do jeito
de amainar a tempestade,
instantes de nostalgia
em que o coração arfa
e o olhar chora
da saudade na hora.

um pacto secreto
entre o sol e a lua
e eu como uma adolescente
a crescer, digo que te amo

é fácil de adivinhar
a fotografia não vai responder
ouço a saudade a falar!

ouço os meus pensamentos
o destino toma o rumo que tem de ser
é nestes momentos, não há como saber
a vida é agridoce
os anos passaram, mas é como se ontem fosse

há espaço para a melancolia
- sigo em frente!
amanhã é outro dia
comportar-me-ei ainda  como 
como adolescente.

natalia nuno
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terça-feira, 26 de agosto de 2025

o voo sonhado...



sufoco o grito na garganta
a vida a meio parou
a sombra em mim já se agiganta
só essa sombra agora sou!

trago o corpo na prisão
e a alma em liberdade
perdido meu coração
só o sonho e a saudade
tomam conta da minha mão

escrevi canteiros de flores
poesias que não floriram
o coração preso em amores
que por mim nada sentiram

pássaro que não pôde voar
estando longe está por perto
três letras para falar
saudade, amor e deserto
por fim um pouco de alegria
ao nascer de cada dia

na noite a saudade que se arrasta
chorando ao ouvido devagarinho
a lembrar-me que o caminho
ainda me traz sol ao rosto!
depois que o sol é posto
o coração pede atenção

sonhando coleciono asas multicor
para aprender o voo
da abelha sobre a flor.

natalia nuno
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é todo o meu sentir...



devo ou não devo sonhar?
pergunto a mim própria
se terei que pensar num céu
só meu
e arranjar asas para nele voar

entre mim e o sonho
há uma realidade
onde me sinto perdida,
apenas é real o bater do coração
a vida é uma ilusão!

é este coração que almeja existir
passa por mim a sombra rente
e ele, morrendo completamente,
rodopia o olhar
e é todo o meu sentir
metade de mim é saudade
sonho e loucura
a outra é estranha realidade
que até hoje dura!

hoje trago o olhar verde
duma floresta
é tudo que me resta!

no fim, eu só quero a sombra 
duma árvore, para poder descansar.

natalia nuno
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segunda-feira, 25 de agosto de 2025

a poeta...



a poeta,
- tudo o que faz
pensa que é ruim
que nada presta, que não é capaz,
esconde-se num céu cinzento
acorda, e surpreendida
tem p'la frente mais um dia de vida
à espera daquele sol que vai
surgir no firmamento
despreocupado e lento,

ela corre a fazer de conta
pois raramente sai do mesmo lugar

sem se aquietar,
escreve poemas que ninguém lerá,
fala de saudade logo ao acordar
como quem um tapete tece
sem saber ler, nem escrever
o poema acontece
e seu destino desconhece

a poeta
não tem tempo pra nada
nem para chorar!
ora em desassossego, ora sossegada

carrega o passado como tempestade, 
trá-lo guardado
na memória e no coração
tantos anos já lá vão!


natalia nuno
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domingo, 24 de agosto de 2025

o grito!...


a vida é um livro de recordações
companheiro até ao fim,
tudo nele, sonhos da alma, ilusões,
dúvidas e incertezas em motim
alucinação, sonhos rendidos
tudo o que leva o coração ao desvario
nesta hora, 
em que sonhar nada melhora.

sombras que na noite apoquentam
são os risos que se aposentam
falsas maravilhas
insólitos instantes
prazeres distantes,
e assim se adia a sentença
procurando a dia renascer
o destino não há quem vença

o sonho nunca é inteiro
vagabundo no rosto, o tempo a correr
discreto, mas presente e verdadeiro

e o livro vai ficando escrito
é a soma da vida, o grito!

natalia nuno
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lembrança, flor a morrer...

no meu rosto hoje é inverno
é um barco na maré alta
que o vento leva raivoso
que inferno!
a saudade me faz falta.

era janeiro um choro desatado
mas logo na seara um girassol
por todos amado,
apesar de inverno mas dia de sol!

a vida é um rio solto
um mar revolto
uma abelha recolhendo o mel
um delírio que suga minha pele


por tudo isso a dor
que me aperta o peito
e sem jeito, os olhos me molha
o amor?! ah o amor!
esqueceu o rosto
já pouco o olha!

rosto de inverno que estremece
que é paisagem que ninguém quer
ver
a primavera já esquece
na memória perece!
lembrança é flor a morrer

chegou-lhe o tempo sem futuro
onde o sol não se pendura
grita-lhe o esquecimento duro
esquece, foi-se a formosura

já a manhã não surpreende
dói o olhar o espelho
é então que meu rosto entende
que não é só o espelho
que está velho.

natalia nuno
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