sábado, 5 de setembro de 2020

amo à toa...


deixei o rumor das mãos em silêncio, os pensamentos amassados e em desordem, e deitei o corpo na lentidão do tempo... e, assim neste silêncio abrupto, todo o poema me sente,, toca-me o coração, arrepia-me a pele, atravessa-me o corpo dolente e sem acção... amo à toa o silêncio dos teus olhos, num breve encanto como quem semeia palavras doces num poema de amor, e até reparo que nas noites vão crescendo nenúfares a despertar dum longo sono, a sussurrar-me para te amar...

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

os meus dedos choram...




nesta solidão quase obrigatória
que mais posso fazer
que escrever
o que me vai na memória?
os meus dedos choram e sofrem da crueldade
esperam o soar da hora da liberdade
desintegro-me numa amálgama de estilhaços
sofre meu corpo com falta de abraços,
este gume fino que me fere
o coração, que ainda pulsa!
faz-me penetrar numa escuridão
com o medo de menina pequena
que coloca a máscara
para escapar ao papão.

quero aspirar à paz e felicidade
esquecer as marcas da tristeza
e os escombros deste tempo difícil
sondo meus sonhos, e sinto
a vida a escassear,
semicerro as pálpebras e fico
a pensar como tudo é proibido,
e a perguntar-me se valeu a pena
ter vivido.
já não resta tempo, é demasiado tarde,
para responder a esta ou outra questão
porque na verdade
tudo é névoa na minha visão.

natalia nuno
rosafogo





vestígios...



é na noite que levanto asas nas minhas mãos e olho nas minhas entranhas o mundo de palavras que as faz mover, e aí encontro o enigma do jamais escrito... e nos vestígios que escolho, brota sempre a saudade dum instante, de todos os instantes.

natalia nuno
rosafogo

sopro...



minhas pulsações são dum ser vivo...vivo, que às vezes vive na obscuridade, na solidão daquelas páginas de penumbra onde mora a saudade, ouvindo um sopro que me chega dum poema indizível com o qual procuro renovar meu sol...

natalia nuno
rosafogo

domingo, 30 de agosto de 2020

utopia...



carrego novelos de vida
que se vão distanciando de mim
são eles como um mar distante
uma terra prometida,
ou um sonho sem fim.
procuro levar avante,
deixar vibrar em mim o sonho,
onde o coração se esconde
onde é menor a presença da mágoa
e deixo meus olhos por onde
os esqueço, rasos d'água.

no sonho sou tudo ou nada
sou o milho verde da horta
uns dias sou muito amada
outros p'lo amor ando morta!

sou criança a correr pela rua
sou sol que desfalece
quem quer que seja, sou eu, talvez a lua!
num imenso estrelado céu.
sou do orvalho a pura essência
que brota do mar da minha existência.
ando à mercê,
como quem procura alguém,
que numa dor dorida
à procura não vê ninguém.
trago o coração fechado
carrego novelos de vida
vou morrendo a cada dia
e o sonho renovado...é utopia!

na face trago tristeza que me foi atribuída,
e um manto calmo no olhar
carregando novelos de vida
que são eles, como um distante mar
talvez escondam um pouco de saudade
tropeço no meu rosto... agora é tarde,
não há remédio nem saída,
cai o sol a pino, como em mim a solidão
não ouço o cair da hora, sem demora,
visto de saudade o coração

natalia nuno
rosafogo