sábado, 3 de outubro de 2020

terno o orvalho...

terno o orvalho da madrugada quando o amanhecer ainda não é...e o sonho vacilando se desfaz em nada, logo que a realidade em nós assenta o pé...escuta meu coração e, a mensagem incessante que te passa meu olhar a cada instante...quebraram-se as nuvens, o chão ficou molhado de giestas, imóveis os pássaros no vidro quebrado dos meus olhos, permanecem ainda na memória d'outras primaveras,os sonhos, com a amarga dor do que não volta. a juventude envelheceu subitamente,desde então és a luz que de mim não despega,o fogo das noites em que nos olhávamos com amor, que era tudo que a gente precisava e, que nada poderá apagar nem o esquecimento. natália nuno rosafogo

o clamor do amor...

agita-se o lenço de seda branca
o coração agita-se em ritmo apressado
rítmico os movimentos dos nossos corpos
pouco a pouco o gemido das nossas bocas
loucas,
verdadeiro frenesim
o olhar incendiado
um deslumbrado momento de paixão
em ti e o desejo em mim 
sentindo em borbotão o clamor do amor
o outono, a nostalgia, o riso o verão, no coração 
de júbilo incendiados como velhos amantes
ou recém apaixonados.

natália nuno
 rosafogo

feitiço

enlaça-me na madrugada que nasce 
traz o feitiço, sou tua fêmea trepidante
ama-me neste instante
e surpreende a minha memória atada.
uma infinidade de lágrimas de orvalho
caem de repente e vêm dar de beber
ao meu esquecimento
jorro de luz que se despenha no meu corpo
acaricia meus braços
encandeia minha pele volto a ser jovem... 
ouvindo o canto dos grilos nas árvores seculares
e o teu respirar profundo,
quando vens pra me amares
és meu tudo, meu mundo.

o que anseio e sinto 
é o desejo que me abraces
lenta e perdidamente, e eu serei tua mulher ardente.

 natalia nuno
 rosafogo

nasci à beira rio...



nasci à beira rio 
trago em mim com intensidade
o aroma da infância, da fragrância 
das estevas e do alecrim
gosto dos mitos que envolvem a aldeia 
trago ainda a alma cheia
aqui se desenrolou o começo da minha existência,
singelas eram as coisas aprendidas no seio do povo
agora? nada de novo! 
palavras se perdem no vazio das horas,
esquecem-se velhas sabedorias 
da escola da vida. minhas alegrias, 
ficaram a uma distância surda
há vozes que já não se ouvem
a vida é isto, tudo acaba, tudo muda. 

nasci olhando-me na água onde o céu crescia
e era bom o futuro que intuía
e hoje quando a noite entorna a saudade,
deixo -me embriagar
da serra vem «o cheiro das estevas e da urze»
aroma que ninguém me pode tirar.
bela a memória do passado, caudal de tempo
que não ignoro
trago paisagens de luz no olhar
e de saudade às vezes eu choro.


natalia nuno
rosafogo

entre a terra e o céu...


as flores vêm de longe, ainda não chegaram ao jardim, lembranças azuis encontrei no meu olhar, aguardo por ti... sonho com o beijo quando a saudade amanhece, e há de(lírios) que me levam às estrelas, na hora meu corpo estremece...lateja o coração sob a labareda do desejo, falta-lhe o que ainda não amou, o calor da nostalgia das noites d´amor, o corpo que acariciou, o odor desse corpo como se fosse a essência que ainda me seduz ao lembrar, tudo chega contigo, e eu olho-te como se fosse a primeira vez, passas a viver  nos meus olhos, e eu só quero viver na carícia de te amar...tudo fica distante, a vida é este instante, o dia emigrou, a noite chegou, e nosso amor aconteceu, ébrio entre a terra e o céu...


natalia nuno

rosafogo


quinta-feira, 1 de outubro de 2020

de repente...

 


de repente há um aroma que me recorda o que ficou para trás, e as palavras são as sombras onde me encontro perdida, lá onde a dor é mais forte e me deixa sem norte, sou agora a velhice e ao mesmo tempo a juventude, grito a dor num poema invisível, que declamo amiúde, e num golpe de garra saio do silêncio dos versos e continuo a pulsar com uma força que não aceita o derrube...e o amor é um agasalho que me cobre e me põe a sonhar... caio assim neste abandono de doçura vestida, adormecida na minha derradeira saudade...


natalia nuno

rosafogo

cativa no tempo...



cativa no tempo, enterrada na melancolia permaneço silenciosa, entre o labirinto que vai da distância percorrida ao presente, chegada aqui nenhum sonho se anunciou, o pensamento abriu e fechou, ficou-se pelas sombras, as palavras batem na garganta, mas ficam-se pela ficção dum monólogo que só as as  vozes das árvores conseguem julgar... tenso é o ar da espera até que se faça um poema de vida.

natalia nuno

rosafogo

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

sempre que os sonhos se nos oferecem...

despertava a minha vida, tão doce e silvestre,
era a chama no coração os passos que tremiam,
era o corpo que se queria no teu ao abandono, 
era o sim e o não, o desvario
hoje são as lembranças girando
seduzindo-me de doçura
mas já o coração se vai calando...
o segredo está na cumplicidade 
esquecemos o mundo, esquecemos a idade
sempre que os sonhos se nos oferecem
o amor é nossa audaz liberdade ainda, 
é sonho que não finda, 
e os dias maus se esquecem... 
e sempre que brote a nostalgia 
aguardaremos a luz da aurora 
faremos amor nessa hora 
unindo-nos em êxtase mais um dia.

e é na doçura que borda o meu olhar 
que virás correndo para meus braços 
sentiremos de novo o pulsar
daquele tempo sem cuidados, de abraços
de paixão e suave amor.

 natalia nuno
 rosafogo

terça-feira, 29 de setembro de 2020

volta a mim...

 o vento varre folhas do jardim com força derruba o estragão, e as angústias vão correndo em mim escondo o cinzento que me vai no coração, desata-se o silêncio em queda livre, já não há mais sóis na minha visão...

acinzentou o céu de Setembro, e eu esqueci de esquecer-te e ainda me lembro. ai esta felicidade fugitiva que põe meus olhos embaciados, por mais anos que viva soltarei memórias, como bandos de pássaros, ainda que meus lábios calados. fiquei nesta encruzilhada enquanto o vento fez voar e p'lo chão deixou tua recordação derramada. improviso versos à toa enquanto esta chama arder, mesmo que a saudade me doa ainda no teu amor vou crer. volta a mim, como o rio volta ao mar e nos teus lábios, traz o mel quente a tua sede em frenesim, que eu quero amar, e prontamente serei a fonte, a tua quimera. natalia nuno rosafogo

de sorriso em sorriso...



canto a ventura da esperança 
que inda me cabe, 
mesmo que nos meus olhos 
passe um ribeiro de incertezas, 
derrama-se no peito a ternura,
e a saudade é ramagem embaciada 
onde também mora a brisa e a frescura
do vento, 
e até meu destino atento 
olha-me na corrida que faço com brio 
mesmo que ao redor dos olhos, 
leve sombras do estio. 

perdi os lírios do rosto, 
na vida atrás de mim, 
na abulia da espera, 
                                                                no sonho que se esfumou, 
                                                                ainda assim,  de rosto invernal,
                                                                e sombrio desdobro um sorriso, sonho e sorrio...
  natalia nuno
 rosafogo

sulcos na pele...



com o rodar dos ponteiros dia e noite, o tempo vai-nos marcando a pele

levou-nos da primavera o mel e deixou-nos na selva da idade solitária, com saudade...

fomo-nos habituando e convertendo-nos num frio de estátuas

e ante uma lágrima que nos afoga, nos supomos sós, e ignorados... é o efeito do tempo que por nós passa sem que demos por ele.

amanhã mais uma ruga inscrita, mais uma ideia transviada

a memória esquecida e a boca  calada.

dize-me se fores capaz : vale a pena viver? Que eu no teu amor +ossa ainda crer! natalia nuno

rosafogo

 

horas que não voltam...




olho a luz que nasce
quero esqueçer os restos da noite
 das horas que não voltam, 
mas que deixam um sabor nostálgico
 e a memória perturbada, que a esquecer se nega! 
rompe o dia, a solidão me pega.
urge renascer 
esquecer, a fuga dos dias
mesmo sabendo que é grande a luta
que são poucas as alegrias. 
que a vida foge como o vento
um adeus lento,
o desagregar do pensamento,
 já nada tenho,
nada me devolve a inquietude do coração,
submersa no esquecimento
o que foi vida, o amor, é agora só ilusão... 
a vida foge como o vento! 
 natalia nuno

o outono...




aproxima-se a monótona chuva de outono
os vidros das janelas embaciados 
a surpresa dos tons embelezados
folhas caídas ao abandono
e nós viajantes nesta estação
num silêncio insistente,
aprendendo a sobreviver
com a vida a desaparecer, 
às vezes com o coração aos ais... 
o vento faz-se ouvir nos ramais
como mensageiro da intempérie.
expectantes deixamos-nos ficar
no aconchego do lar 
levanta-se a noite, quem sabe amanhã 
o sol nos espera?
transbordando ardente
trazendo-nos de novo o sonho...a quimera. 

 natalia nuno

domingo, 27 de setembro de 2020

sinto-me criança perdida...

o tempo pendurou-se em mim
 chegou agora à plenitude 
 deixou-me confusa neste outono
 ai de mim, que m' afundo neste abandono 
neste torpor sem fim!
 calou-se a água nos vidros
 a janela perdeu a graça, 
 é tão grande a desdita que dos tempos idos,
 só a recordação não passa
 e a saudade em mim habita. 
 vai a vida em seu ar distante
 e cansados levo os passos 
 neste silêncio constante 
 sinto a falta dos abraços, 

 o amor foi um beber lento e doce
 que bom seria voltar atrás
 nem que por um dia fosse! 
 «dize-me se fores capaz»
 que teu amor ainda é tenaz, 
 sinto-me criança perdida 
 trago nos olhos inquietude 
 por onde andará o fogo da vida?
 que me sinto na sombra amiúde.
 nesta obscuro agitação nada mais resta
 que viver ouço o uivo surdo do coração
 que ainda me leva a crer, 
 que o medo é a minha prisão.

 «dize-me tu se fores capaz»
 quando acaba esta minha solidão. 

 natalia nuno

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