sábado, 23 de abril de 2022

aroma a saudade...



hoje a saudade falou alto
no coração ela ecoa,
e em cada linha que escrevo
não sei se devo
aceitá-la, pois sempre me magoa. 
é uma saudade que desatina
que anda em mim desde menina
ora me faz sorrir,
ora me faz dor sentir!
parece não sair de mim
trazendo-me o afago doutra era
doutro lugar, resoluta até ao fim,
sempre me desafia
a tirar-me da escuridão,
e num cálido sussurro dia a dia
emociona-me, toca-me o coração.
leva-me ao ponto de onde parti
memórias que tento agarrar
tudo o que no coração senti
e que tarda em sarar.

no leito do meu rio a secar,
ainda a saudade  me traz
um pouco de sol e luar.

natalia nuno
rabiscos (escrito em Setembro de 1971)

domingo, 17 de abril de 2022

pétalas vermelhas...



quando tudo era sede, fogo e ternura
e o sonho a fonte, 
nossos corpos eram de vôo
pousando como pássaros ardentes
nas ondas do centeio,
enquanto o sol se punha de permeio
no horizonte,
ribeiros despertavam do seu sono
em murmúrios e suspiros melodiosos de flautas
eu, em teus braços ao abandono
olhando o esplendor do dia a findar
nossos rostos sorriam...
hoje, com vontade de chorar,
pousarei minha boca em tua fronte,
quando o sol adormecer
no horizonte.

natalia nuno
(rabisco)

murmúrios...no recôndito da noite



frágeis são as borboletas, 
dançando no ocaso,
no adeus à tarde...
também minha memória é luz em fuga,
quando nas alturas surge a primeira estrela da noite,
amo a sombra dolente sonolenta,
brilhando como chispa de fogo que eu era, de verdade
hoje sou reflexo de alguém
a esconder o pesar
na noite que já lá vem
e, porque sou somente a lágrima que ficou
a flor incerta na próxima primavera,
já valor algum me dou,
quem muito viveu já pouco espera
chegou o inverno,
cantam tristes as aves na ramada
um canto doce, e terno
resvala do meu peito a dor, calada.

natalia nuno
(rabisco)
imagem pinterest

remanso...


aos meus olhos és
a frescura do vento
que nasce nas montanhas,
a canção dum pássaro
que se eleva em nostalgia,
a palavra azul com que escrevo AMOR.
aos meus olhos és 
a manhã primaveril em que me acolhes
a tarde onde me aprisionas
a noite em que despertas meus sentidos.

e eu, o sossego onde te recolhes
o regaço onde te abandonas
a voz que tece palavras doces
aos teus ouvidos...

natalia nuno
imagem pinterest
01/1996
(chamo-lhes rabiscos), pequenas coisas que escrevi
faz tempo e que vou encontrando pelas sebentas). 

sinto que...



poisou o acaso em mim
deixou-me de sorriso triste
tentando desviar-me assim
por caminho que não existe
e por becos apertados
sujeita a tropeçar,
nestes poemas calados
com tristeza a soçobrar.

natalia nuno
da querida amiga Mª João Sousa
«com tristeza a soçobrar.»
Foi-se o acaso condoendo
E, depois, foi-se plantar
Como uma haste de aloendro

À beira da tua boca:
Espera agora algo indeciso,
Muito quietinho, à coca,
Pla graça do teu sorriso! :)

*Mª João



sem cura...

 




 por entre a intermitência do caminho,
 sento-me a pensar em ti
 com carinho 
 o vento bate na janela da insónia
 a única coisa que não entendo
 é este silencioso grito que me vai na alma
 esta loucura, este amor frenético
 sem cura...



(rabiscos)

natalia nuno

pensamentos que desato...



mãos que trago ainda atadas pela vida, que importa isso agora, vêm de longes ignorados, só as palavras vivem o prazer de conhecer seus desejos incontidos, às vezes vazias, adormecidas no regaço, alheadas de tudo...quando deste pelas minhas mãos? - sôfregas, desenhando carícias em teu corpo, na melancolia duma qualquer tarde doce...como o tempo voa, são agora mãos cheias de nada!

natalia nuno