quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

o negro da noite...



o ressoar das palavras toca o meu silêncio
e a solidão o sossego da minha alma
a saudade estende-me as mãos tão perto
que sinto-me perdida e detida no seu eco,
a vida é um beco
sempre pronta a ser-me ruim
roída de desejo, querendo emudecer
a minha memória, respiro no ar
o desdém que quero esquecer,
neste rosto que os anos gravaram
há uma angústia sustida
rosto invernal, no inverno da vida
queimo o meu olhar no longínquo
quero esquecer a que me nega
e evadir-me deste vazio que me pega.

o silêncio me olha
sinto minhas mãos impassíveis
ouço o tiritar da sua dor
numa angústia mais que certa
mas, vou inventando o amor
e ausento-me assim deste poema
que criei só para mim
apagou-se no tempo a menina sonhadora
quem conseguirá escutá-la no seu lamento?
nunca serei inteiramente esta que fez de mim prisão
quero ser essa menina perdida ao relento
livre como folha que esvoaça sem direcção
mais viva a cada pulsação...

natalia nuno