domingo, 22 de novembro de 2020

doce ilusão...

 



o anoitecer trouxe um tom alaranjado, 
faz-me imaginar o inimaginável,
alarga a imaginação e até mesmo o coração
nas jarras há flores que choram
num pranto sentido
olho-as com uma expressão vazia
chega a noite, vai-se o dia.
com a respiração suspensa, num inventário
de recordações, mantenho-me embrenhada
na teia duma vida passada.
agora já tudo é escuridão 
as estrelas pontilham o firmamento
uma rosa vermelha cai ao chão
à vida um enaltecimento
por tudo que lhe dera, até a doce ilusão
de ser Poeta.

abrando os pensamentos de lembranças
penosas, e  com o olhar fixo e sombrio
olho as rosas, nas jarras, neste silêncio
devastador, lembro noites prenhes de intimidades
e amor... despertam em mim saudades
aquietando tudo o mais!
lembro as cartas d'amor, atadas com fio de juta
cheirando por demais, a tristeza e alfazema
algumas escritas e não enviadas
comunhão de sentimentos, em noites consteladas.

hoje os dias têm pouco significado
mais parecem devastados p'lo vento
ninguém sabe quando a hora do crepúsculo
lhe corta o pensamento.
as minhas mãos já não colhem rosas, nem molhos
de alecrim, apaga-se o dia
começa a noite em mim...

natália nuno



2 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Como sempre...simplesmente um poema fascinante de ler

Cumprimentos

Maria João Brito de Sousa disse...

Sempre esse travo de melancolia que está muito, muito longe de poder ser conotado com um defeito; é, pelo contrário, uma qualidade e uma característica da tua poesia.

Forte abraço, Natália.