sobre os socalcos ventosos
passa uma nuvem cinzenta
que me consegue distrair
assim, meu coração se aguenta
em mais um dia que há-de vir.
uma névoa de chuva densa
misteriosa e imponente,
lança tudo na escuridão
enquanto o medo fustiga
as paredes do coração.
respiro profundamente,
ouço o grito no horizonte
do ribombar do trovão,
e no cimo do monte
árvores inclinam ao chão.
apaga-se a candeia com o vento
reza a avó com devoção,
ainda no meu pensamento
ouço o farfalhar do rio
vejo a lareira meia acesa
esse dia longínquo o frio
amolgava meus olhos de incerteza.
o vento fustigava as janelas com cortinas
de pano puído, soprando livremente
até outro dia ter nascido
o verde das hortas brilhante e, novamente
o sol aparecia,
a avó à Santa Bárbara rezava
enquanto o vento inda gemia,
mas já a lareira ateava
e na candeia a luz bruxuleava.
voltava ao campanário a voz
a água do rio era agora leitosa
e o chão da terra ficava ensopado
a vida continuava custosa
mas a resistência é grande éramos por Deus
um povo amado.
a boca da mãe sorria, tudo volta a ter encanto
na do pai, nem um ai,
e eu feliz no meu canto,
ao lume
ouço a reza do costume,
que tem a força que tem!?
a avó rezava seu rosário como ninguém.
hoje, resto eu!
tudo o vento levou e a morte se afadigou.
natalia nuno
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