segunda-feira, 23 de junho de 2025

sutura esquecida...






ao entreabrir a janela
senti a brisa desfraldando
as asas duma mariposa amarela
era sonho, 
um jardim de malvas
e ao acordar agigantou-se
pronta a melancolia,
mais outro dia, 
jogo de memórias salvas


na rua tantos seres, tanto mundo vivo
meu rosto junto ao vidro cativo.

cala-se agora o vento
e o silêncio me devora
na imobilidade deixo que ele seja lei
no pensamento, 
olho o horizonte nebuloso
é a morte, é a vida, já nem eu sei,
e ouço os gritos da chuva nos vidros
que aos meus ouvidos, 
são como latidos.

sinto no âmago o frio deste dia
o sonho da mariposa amarela
ainda em mim a melancolia,
eu pegada na janela
na fronteira, morte e vida, 
ferida, com sutura esquecida.

natalia nuno






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