domingo, 14 de dezembro de 2025

palavras sonâmbulas...



como o celeiro abriga o trigo, o coração abriga a saudade, que é uma mistura de de amor e ternura,  de afecto, vindo do passado, que arrecado e não deixo passar ao lado, trago na bagagem a memória do que vivi, o que ainda me estimula, e é uma mais valia enquanto a mente funciona... sigo sendo eu mesma, à minha frente uma neblina fosca, que me deixa na dúvida, e me põe a caminhar por ruas estreitas, incertas, onde a única certeza, é a vontade que tenho de não me deixar desabar, enquanto restar uma última esperança,.. aguento o vazio das horas, há nelas sentimentos inexplicáveis, que se vão perdendo sem me aperceber, mas que ainda me molham o peito e fazem doer...quero mergulhar no sonho, sentir a correnteza de mansinho, quero depois estar do lado da vida...por vezes minha cabeça trago confusa, porque a torturante saudade se faz acompanhar de ansiedade crescente...

natalia nuno

sábado, 13 de dezembro de 2025

memórias dos dias...



há sempre uma sombra nostálgica no pensamento, que não me permite esquecer, uma lembrança veemente que surge na mente em tempo de melancolia, e descarrega um fardo de ventos e de chuvas, a pedir que lembre mais uma dia, a criança em mim... trazem o aroma da infância e a saudade de quem já me é estranho, a voz já não é a mesma, os gestos foram esquecidos e os sorrisos ficaram là  à distância... figura melancolicamente confundida, mas que ainda me olha com ternura, as imagens cruzam-se no pensamento como aves a recolher ao ramo e, no rosto a ternura, a luz e o sonho detêm-se ainda no olhar, o único que me é familiar... 

- agora no tempo velhíssimo, está tudo perdido entre si, já não há saída deste labirinto, o que existe  do meu mundo é um borbulhar de imagens, um sonho que ficou inacabado, um coração que se agita de ânsia em cada palpitação, e a mente caída na armadilha do tempo... sem remédio, assediada pelo tédio que veste de melancolia o coração.

nnuno

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

vai a lua enfraquecida...

às vezes o poema vem chamar-me baixinho, volta e meia dá-me a mão e ali ficamos a olhar o firmamento e a ouvir as folhas a cair, esvoaçando entre minhas angústias e o vento, depois o definitivo anoitecer, e o poema continua o chamamento, louco, sem fim, sufocando em memórias de mim, resta um pouco de felicidade por tecer, coisas pequenas, lembranças, saudades...agora que estamos em sintonia, e a lua já vai enfraquecida, debruço-me sobre a folha branca com palavra colorida, sorridente, que a vida merece outro poema, vou escrever docemente, dou um golpe na melancolia que me persegue amargamente...e deixo a escorrer os espinhos que me fazem sofrer... 

nnuno
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domingo, 7 de dezembro de 2025

tempo de melancolia...

 


folhas de semblante avermelhado
que o outono deixou cair
fazendo um tapete aveludado
que é belo ao pisar sentir

moribundas, caem na terra
fria
é assim do tempo, a ditadura
tempo de melancolia,
é também tempo de solidão 
e ternura

geme na noite a escuridão
negra de silêncio e tédio
toda a esperança é posta
entre amor e oração
que ao coração dos pobres
é remédio

é Natal, com canções de ar
perfumado
e de orações
de júbilo incendiado

como se nunca mais pudesse ser
para alguns será solitário e triste
e sem palavras de amor
e conforto, a esperança
de sentir em Cristo 
um novo reconforto.

natalia nuno
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minha fé no singelo...



às vezes as pequenas coisas são a nossa salvação, quando a memória dos dias é quase nada e a vida nos arrebata o pouco que já temos, persistimos na beleza dum simples poema, de olharmos os narcisos de amarelo dourado, das lembranças dum primeiro amor, dum sorriso aberto, é o ter por perto motivos válidos para continuar o caminho...quando persentimos que tudo se converte num tempo obscuro, quando enfrentamos a solidão e o silêncio,  ficamos surpreendidos e mudos, como um vento adormecido, parece já nada fazer sentido, mas se a memória lembrar ainda o riso das águas, o voejar dos pássaros cheio de graça, o tocar as flores com as mãos, basta, para que o sonho ainda grite, para que a vida não nos asfixie de vez...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

quase a velhice chega e me aborda...



o coração não se rende e avança, como quem segue um caminho florido, tem tendência para acreditar que a vida continua, apesar de tanto ter já vivido, agarra-se ao sonho que já vai distante, agita o seu bater sabendo que o sonho não vai regressar e que a meta está a chegar, esquece o sentido do tempo enquanto a memória assume a desordem, e já é um vento livre, que faz eco numa clareira de sílabas confusas, como a chuva de outono... e apesar de que, cada letra dita, esforçada ou não, arrasta sempre o passado para viver a essência da memória, ficam sempre os dias metade luz e metade escuridão, até chegarem à fronteira do nada...e é tudo tão confuso que de repente a velhice chega e me aborda, traz-me a desgraça do espelho e prende-me a uma perpétua insónia...

nnuno

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quase a esperança se nega...



contam-se os dias que faltam, e um desgarrador silêncio é inimigo, algo anda sempre em sobressalto, calo as palavras que mais amo e consinto que a alma entristeça...vou cedendo os sonhos, como uma mão que diz adeus na despedida, salva-me talvez a esperança e até essa às vezes se nega...mas acalmo os rumores que separam metades do meu corpo, perco-me nas sombras dos meus olhos e vivo um labirinto de memórias, enquanto o relógio continua a pulsar com uma fúria que não termina...

nnuno

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

quase, quase inverno




céus que me trazem o sonho, os dias são tão pequenos que podia fechá-los sob os meus dedos apertados, cativos, para não me magoarem, apertá-los para perpectuar a vida, e com as minhas mãos desfraldar um arco-íres brilhante para que o sol tivesse inveja.

-absurda imaginação, é como sorrirmos a sonhar, assim leve e claro, numa noite de outono, quando tudo já fica distante e o tempo corre sem parar... e eu sempre digo, fica não vás!

- o corpo vai morrendo, como uma folha que cai...

nnuno

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quase perdida nos sonhos...



ando por aqui perdida nos meus sonhos, ontem enquanto lia lembrei da minha vida inteira, tentei apanhar as imagens, mas a memória sugeria que parasse, dado haver tantas vidas na minha existência, tentei prender as palavras para poder com elas escrever os poemas que me habitam em segredo num jogo contínuo, e que afanosamente procuro trazer à luz do dia, um de quando em quando, ao pôr do sol  que avisto ocupando todo o horizonte, é ele que incendeia a saudade e logo surge a vontade de contar estrelas, de descer a noite, de acalmar o meu respirar, e como a solidão é uma arte, escrever é o sonho da alma quando ela se dispõe a partilhar...

nnuno

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quase e sempre saudade...



as memórias são muito importantes em dias de solidão, são elas que nos dão aconchego, algum consolo, ao lembrar os impulsos do coração quando jovem, os momentos de êxtase, todo o bom que vivemos, o presente é importante sim, não deixarmos apagar a existência dos sentidos, sermos persistentes, viver o melhor possível, não nos deixarmos cair no marasmo do vazio, mas para quê tentar decifrar o que há-de vir?

-o futuro é sempre duvidoso, misterioso, e pode ser um vasto tempo de gelo e silêncio...remeto-me na saudade, enquanto a memória não estiver esquecida, percebo a queda, mas o sonho ainda me vigia...

nnuno


quase o caminho percorrido...



que o dia seja para todos um belo vínculo com a vida, seja anunciador de sonhos, e que todos se concretizem...o dia ainda agora começa, mas já levo saudade do ontem que me deixou sorrindo perdida nos sonhos duma alegre rapariga de pé descalço e viva ternura, pelos dias que Deus lhe vai concedendo... sem lamentos nem queixas, vai decifrando o caminho ainda a percorrer , com os olhos nas bermas da estrada, com medo do assalto da morte...sentindo náusea enquanto caminha, há sempre uma voz que a chama, e na saudade relembra a menina que foi, que a tenta libertar da melancolia e lhe sussurra com afecto... que jamais a abandonará.

nnuno

quase um passo à frente e outro atrás...



doem-lhe os pulsos de tanto rasgar o medo que a envelhece, oxidam seus olhos que correram mundo e, nas ribanceiras do peito há dores sem jeito...na mente memórias em labirinto, a morrer de cansada a vida a leva e a travar-lhe a estrada o tempo que a ameaça... numa tristeza sem idade sente a saudade da perdida graça...leva o rosto carregado de nuvens mas não se deixa desfalecer, chegou à fronteira, tanto faz um passo à frente, ou outro atrás, tudo parou de correr, traz o olhar envolto em poeira e jamais se vê como era, mas ela espera... fala-lhe o coração da voz das manhãs, dos lírios a abrir, dos moinhos de vento, das heras a trepar, ainda não é o definitivo anoitecer, há labaredas que a fazem aquecer e um jardim de ideias onde se procura por dentro da madrugada, até ficar a voltar cansada...

nnuno

quase mais morta que viva...



não sei por quanto tempo seguirei esta sucessão de instantes, ainda que o meu coração vá batendo, e assim o corpo obedeça, aqui pertenço por enquanto ao mundo dos vivos, resta-me um pouco de felicidade, todas as manhãs sinto-me como ave que regressa de longe e encontra poiso na doce geografia do ano anterior, deixo adormecer algumas memórias vou ainda com alguma força, fazendo com que a luz que me segue, tenha algum brilho... embora já não seja como antes para mim, o tacto das flores, o riso das águas, nem o voo belo dos pássaros...

- trago as minhas pouco apuradas palavras tão perdidas na minha imobilidade que a nostalgia já me está chegando no turvo silêncio da tarde.

nnuno

quase de volta o sorriso...



quero alagar as raízes das coisas sombrias, encher o peito de levezas, esquecer o espelho da desordem, que me estrangula a memória e o coração... desfaço a tristeza com palavras que a hão-de desfalecer. voltará o sorriso com a luz duma lua esbelta e tudo se inverterá, até o silêncio e a solidão sairão gota a gota, do meu peito aberto à felicidade, os meus olhos aprenderão a saborear a vida de novo..

-.é sonho difícil de acreditar dado que o rio que corre em mim, desliza com águas remotas, onde a saudade é rainha e, as lembranças vivem em mim para sempre...

nnuno

quase o final do caminhar...



as memórias quase sem regresso, são como rosas de outono a desfolhar, lembram caminhos percorridos, por vezes são como rios de esquecimento, mas quando surgem vêm devagarinho, são pedaços de mel que adoçam o coração, ou fazem pernoitar a ternurenta saudade, aquela que faz tremer por dentro... há memórias que rodopiam nos meus dedos mas ficam silenciosas nas palavras que não escrevo, são chão movediço, trazem vestígios d'amor, deixam os olhos húmidos...assim nesta cinzenta manhã acordaram meu coração, são tudo o que arde em mim...são neblina rendilhada a remendar  os meus dias, quando falta a inspiração...

nnuno

quase o desalento...



o rio que carrego corre ao mar, traz-me a saudade que da nascente lhe vem, há noites em que o ouço soluçar, porém das mágoas não conto a ninguém... no leito leva feridas com lágrimas sobre elas caídas, é noite e o silêncio se adensa, só a mente não descansa e pensa: como a vida é coisa estranha e o medo logo se entranha.

- foi-se a primavera, o verão surge a inquietação, chega o outono, abre a porta à desilusão... com mais certezas que esperanças, corre ainda o rio om alguma ousadia, então corro atrás com o coração e a alma vazia, como quem se afoga perdida na maresia, com ar ofegante quebra-se meu fluir, há um murmúrio escondido no resto da apagada voz.

- a memória imóvel, em desassossego um novo gemido...

nnuno

quase a desmemória...



oscilam as velhas roupas molhadas nos estendais, enchem-se meus olhos com memórias quase destruídas, imagens já tão vagas, algumas ainda guardo quando espero o poente e lembro minha gente...sinto a mão do pai na minha e a noite fica mais tranquila, ouço as conversas à volta da mesa, enquanto adormeço e os sonhos caem no vazio, como presentemente, mas esse tempo já partiu, e de repente tantos anos, cai a primeira lágrima de resignação e uma angústia mais certa, que surge tatuada na escrita, ao peito se agarra e me persegue como uma sombra, logo um acre frio cortante me afugenta a memória.

nnuno

sábado, 15 de novembro de 2025

saudade é tormento...



anda a cotovia nos trigais

ando eu contemplativa

e as andorinhas nos beirais

numa roda viva...

respiro o aroma campesino

nuvens agrupam-se rendilhadas

viver de saudade é meu destino

que me traz recordações tão delicadas

neste idílio enamorada

lembro os campos da minha terra

a frescura e a fragrância

que pela aldeia se espalha

lembro a criança a jogar à malha

trago uma lágrima furtiva

desperta em mim um sublime sentimento

sinto-me viva...bem viva!

mas a saudade às vezes é tormento.

 

natalia nuno

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com o pulso do tempo...



há um pouco de inércia 
que a memória assume
por vezes é grande a desordem
a um sopro de abandono se resume
como se duma flor colorida
passasse a um galho ardido
cansada da vida

já não recupera
o que dantes alcançava
é como se fechasse um pouco a janela
da minha vida
torna o destino sem meta possível
ou talvez este chegue veloz
mas nenhuma esperança tida

parece ficar detrás dum véu de bruma
num vazio já um pouco prisioneira
sem volta de ser a primeira
a não deixar-me esquecer coisa alguma
vai tornando-se um hábito esquecer
debaixo da língua a palavra se afoga
na sombra dos olhos me vejo a perder
a luz de outrora.

.natalia nuno
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terça-feira, 11 de novembro de 2025

palavras sem sentido...


despertam palavras com furor
nesta solidão vazia,
saltam ainda algumas com amor
e, eu sempre alheia à alegria!

acordam memórias
a felicitar-me por ainda estar viva
dou comigo a recordar histórias
esvazio esquecimentos
e afago meus sentimentos

inquieto-me com o tempo
que me resta,
e escrevo poesia triste
com palavras ou rimas soltas,
- tristonhas, já sem festa!

no pensamento
como um ferimento,
trago barulhos medonhos
sentires amargos
e os últimos sonhos
em atropelo

é total a obscuridade
neste meu vazio a anoitecer
chora o coração noite afora
chega a saudade
p'lo amanhecer

palavras espalham-se sem sentido
aproximam-se da melancolia
que alastra e de tudo me afasta

imensa a minha força?
como um ventania!

natalia nuno
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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

um fogo diminuto é a vida...


trago asas apagadas em pleno voo
no olhar o negro da noite desolada
o tempo, o caminho atravessou
fiquei p'la solidão devorada

hei-de cair ali mais à frente
ouvindo o eco do sonho
perdido na mente,
juntamente a vinda da morte
transe profundo 
faz com a vida o corte

é a vida e seu senão
que veloz se evade
sob a exaltação e
a saudade


para lá do inverno o tempo se parte
indeciso como folha que cai
ao chão
ao tocar esse chão, já não
brilha a alegria
e uma lágrima que humedece,
no olhar se cria
desce
no rosto com resignação
a aguentar do corpo a traição

no espelho a face retida
misturada com as sombras 
que a golpeiam
um fogo diminuto é a vida
quando os sonhos já não se anseiam.

natalia nuno
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sábado, 25 de outubro de 2025

já tudo era ontem...


a noite abriu o baú dos sonhos
num belo arrebatamento, a felicidade
surgiu, deixando nosso coração na saudade

dos anos predadores, fomo-nos habituando
supondo-nos agora sós e ignorados
fechados em ruídos, pelo destino golpeados

ante a tristeza uma lágrima que se afoga
ameaçando, incendeiam-se desmemórias
ante o sangue  que nos interroga

sonhos que abarcam uma distância maior
um reino d´aromas longe, mas tão perto de nós
onde sonhos deixam-nos rendidos ao fogo do amor

natalia nuno
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quarta-feira, 22 de outubro de 2025

o vazio que me quebra...

às vezes fantasio
prefiro, a passar tempo vazio
sinto que o longe já se cala
que ao menos o vento
me venha à fala,
guarde minha memória,
ouça meu lamento
e da minha história

- o que me vai na alma!

não vou perder a oportunidade
de ouvir a saudade
que me visita amiúde,
filtrando minha quietude
talvez o remédio para a minha
solidão
quando esta, é minha prisão

às vezes, cresce uma angústia
que à pele se agarra
e nada mais sei, nem quero saber
descrente deste mundo envelhecido
o desejo e o nada, o vazio
tão meu conhecido,
a mim se amarra

então, fantasio!
e nos degraus da imaginação
fujo aos golpes e redemoinhos
sigo por outros caminhos
sou a que não sou
e vou
abrindo  uma brecha
na vida opressora.

natalia nuno
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domingo, 19 de outubro de 2025

o que resta da infiel memória...


na parede da casa de branco caiada
desenha-se a minha sombra escurecida
e solta-se ao meu ouvido a palavra saudade
da juventude sonhada, 
p'las águas acariciada
que não mais me será devolvida

olho o sol nos canaviais
desperta-me do mais profundo
garras da memória provocando meus ais
dois tempos dois lugares
- meu mundo!

nestes lugares habita o sopro da minha voz
apesar dos anos decorridos
e apesar da solidão crescente
ainda trago nos sentidos,
a sombra do sol, morrendo no poente

e um tapete dourado se estende
irrompe na paisagem
a água do rio torna meu vestido transparente
como antigamente e,
a minha imagem
é como mistério, que se esconde
como enigma que ninguém sabe por onde

acato o destino
cai a noite na aldeia e também na minha vida,
nasce um poema pequenino
com palavras que amo de lembranças queridas
leio-o agora que termina
admiro-o como peça de relojoaria
é um sonho do meu tempo de menina
e enumera as pulsações do meu coração dia a dia.

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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

palavras de existência...





as palavras seguem seu rumo
como água
procuram o rumor da tempestade
na ânsia de chegar ao mar
levam com elas a saudade
e não se deixam aprisionar

há palavras que são recordação
das nossas sensações
vestidas de insondável doçura,
seguem vestidas de lamentações 
ou de violência dura 
  

há palavras quando a solidão
é maior
faz-me companhia uma breve dor
às vezes «un je ne sais pas qua»
que me traz um alívio ligeiro
logo a saudade em chega primeiro

há palavras quando a sorte
nos abandona,
também quando ela nos corteja
vai-se escapando a vida, e assoma
a morte que nos beija

as palavras dormem em mim
em sossegado esquecimento
vão ouvindo os caminhos do vento
trazendo-me à alma o aroma do jasmim.

natalia nuno
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segunda-feira, 13 de outubro de 2025

onde deixei a lembrança?...



no sonho caminhei
pelos lugares da minha infância
perdida  me perguntei
onde deixei a lembrança?

que embaraço
- nem um abraço!

por ali os pássaros já não
anunciam madrugadas
nem surgem rostos aos postigos
e as mós dos moinhos estão paradas
onde estão meus amigos?

do sonho quem dera fugir
e da saudade que não
me liberto
sinto-me a exaurir,
sem a lembrança por perto

meus versos já trazem rugas
nos umbrais da sua inquietude
da saudade não conseguem fugas
e num reino de sombras
vivem amiúde

perco-me no passado, bem presente,
confusa neste mar de tempo
à distância,
perdida me pergunto
onde deixei a lembrança?

meu coração recolhe a dor da terra
que ficou deserto desde que a deixei
todos os recantos minha mente encerra
e a saudade no peito fez-se lei

meu olhar é farol que embacia
e meus sonhos vou reescrevendo
entrego-me à promessa que um dia
mais morta que viva, os lugares
estarei de novo vendo.

neste inventário de saudades
levo comigo a descrença
ficam nos versos verdades
e nas margens do rio o frio
e o vazio da minha ausência

natalia nuno
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quinta-feira, 9 de outubro de 2025

entrega...



viaja a boca até à boca
alegria, loucura feitiçaria
e já a mão se desloca
cresce o desejo, esfuzia
no rosto a alegria

magia, o entusiasmo redobra
coisa louca, 
os beijos da tua boca
o meu corpo te cobra
que seja dia de festa.

e o que tem de melhor?
a entrega ao conquistador!

... e eu me entrego por amor. 💕

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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

o tempo nos toca... pequena prosa



penso em como a felicidade nos fortalece, e a dor nos enfraquece à medida que o tempo passa...ver os filhos e os netos tornarem-se homens e mulheres, faz-nos abolir do pensamento a passagem do tempo , faz-nos perder a noção que ele passa e não perdoa, tocando-nos com a sua mão invisível, e quando nos apercebemos, os anos felizes e descuidados passaram, são agora como um rosário de penas rezadas.

natalia nuno

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palavras na hora...




perdida nas horas, onde tu és ainda,
morre-me o tempo de ti...

mas o sol não afrouxará
apesar das sombras.

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o silêncio do meu inverno...





inclino-me sobre o espelho das águas amenas
e choro minhas penas
abrigo-me dos dias de frio
fico olhando o marulhar do rio
as águas desoladas pressentem minhas mágoas
e eu, como pomba que arrulha no ramo
segredo-lhes que existo
porque te amo

fica a vida lenta e sombria
e a luz do sol amarelenta ao anoitecer
do dia
lembranças saudosas são rosas e malvasias
no meu peito
há alegrias ingénuas e emoções mimosas
que quebram a solidão
as decepções e o desalento
as aves apagaram os gorjeios na margem 
do rio que corre em mim
esvoaçam no meu céu cinzento
em sombra e silêncio
do inverno que me esfria
e vão pousar longe no chão
ilusão...

onde ainda se veem estrelas, e restos de sonho
da minha juventude
rasgam-se meus dedos em vão
em estremecimento de primaveras passadas.

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domingo, 5 de outubro de 2025

meus olhos d'hoje e de amanhã...



sobre o mar secreto dos pensamentos,
surge de quando em quando
uma nuvem negra
vai-se desviando o fio da vida
pronta, a morte, um susto nos prega

o que fica para trás
não se recupera jamais,
sequer se é capaz
de limpar as lágrimas
e calar os ais

a distância entre o que fomos
e o que somos
mede-se por silêncios

e às vezes as emoções são bem fortes,
quando corremos em busca da felicidade
deixamos acontecer às sortes,
até que o coração morra de saudade

há sinais inquietude nos meus versos
porém, não deixo a folha vazia,
- escrevo
palavras temperadas de sol
são formosa profecia, são elas o farol 
que ninguém embacia
-mesmo que parta um dia!

natalia nuno
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poema só para mim...



verdes como  hera
que subindo vai
esperam, desesperam
e um dia a vida neles cai
meus  olhos onde estão,
que olham e não veem nada
em estéril contemplação?
são eles e eu cansada!

verdes, não veem o verde dos campos
a vida sempre a mesma!
o futuro é não... ou nem sabido,
pálido e sombrio
paisagem onde não há rio.


entra por mim adentro um calafrio
vejo minha estrada desdobrada
a chegar ao fim,
já tudo me esquece
até de mim!
nos olhos tristes dissipa-se a aurora
passa por eles o tédio
hora a hora.
hoje não sei se sou
ou não sou!
não sei se existi
meu olhar turvou,
nem me sei aqui.

águas passadas que inda fazem dano
sorrindo interiormente
apercebo-me, como a vida
foi um engano,
fustigou-me o tempo
os olhos que se abriram ao nascer
flores imprevisíveis
nascidas de verde
um dia irão morrer, 
quando a solidão e a carência
fôr rumor de mágoa e do amor
a sede...

já não invento sonhos
dou-me à sorte
neste final, sulcado pela morte.

natalia nuno
rosafogo
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deixa-me sonhar...



não m'acordes do sonho

nem me retires a ilusão

se o amor é vivo,

- risonho,

sonhos vão, outros virão!

tristes, imóveis, parados

cansados andam meus olhos 

e de lágrimas marejados,

da saudade que em mim sinto,

olhando atrás por instinto

esta saudade eu combato

ponho-me a pensar em ti

agonia não desato,

de tanto lembrar de ti

eu já de mim me perdi!

 

natalianuno

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sexta-feira, 3 de outubro de 2025

os dias da flor...



 surgiu o dia em ebulição, aí senti um desejo doce, não era de vinho, nem de pão, mas a alegria obtida de me sentir de novo eu, do véu que envolve a memória trazendo-me o sonho, e de novo os dias da flor, eis-me viva com o peito a arfar, neste encontro com a que de mim se perdeu, e a manhã fica mais rosada e fresca a terra e o céu...é a recordação que sempre me acode, restitui-me um pouco de alegria enquanto a vida é neve ao sol....

memórias rimadas...




as memórias eu não quero calar
são elas orvalhos nas madrugadas
hei-de por certo sempre lembrar
enquanto as raízes não forem cortadas

vivo  meus sonhos bem acordada
de mim, ainda não estou esquecida,
- de mim não me sinto abandonada,
e a memória da solidão se esquiva

a ninguém importa, a mim tão pouco
nem espero que meu entusiasmo dobre
às vezes o coração ainda se porta louco
quer-se vivo, pois d'amor não é pobre


por isso digo lembrar-me é promessa
- vou de tudo lembrar pela vida afora!
ao bater valente o coração não cessa,
promessa cumprida ontem, aqui e agora

não sou de ficar sentada à espera de nada
nem de lamentar-me ou sequer chorar
vou viver com audácia a vida que me é dada
enquanto estou cá, vou ousar sonhar...

natalia nuno
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rumo...

 

lento outono, assim sou eu de verdade 
como folha caída ao abandono,
- no coração a nostalgia, saudade... 
tudo unido do princípio ao fim, 
da verde à amarelada folhagem, 
é assim hoje minha imagem, 

deixem-me em paz então,
- escuto o passado e o futuro neste pedaço de chão, 
onde a fé já esmorece e tudo se entristece...

conforma-me, se o amanhã voltar!
- a noite, estranha doçura deixa, 
talvez a saudade a lembrar...
- em mim uma íntima queixa, 
difícil é o caminho, mas há que caminhar.

natalia nuno
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domingo, 28 de setembro de 2025

destino...



o tempo une-se à minha vida
do início até ao fim
leva a alegria de mim
passa sem dar conta,
e sempre este rame rame
me afronta.

nunca me abandona a nostalgia
no coração arrebatado 
nele renova e ressuscita
dia após dia,
a saudade,
prossigo na obscuridade
onde trémulas morte e vida
me perseguem, metade 
por metade

sinto a presença
dos aromas das flores,
dos pinheiros os cheiros
a levar-me à exaustão
como paixões e amores
e a vida ainda fosse Verão

ao meu e ao teu coração
ver-te e ver-me nos teus olhos
é sentir ainda presença,
porque somos saudade
do amor que voa na proximidade

aproxima-te, aproxima-te e verás o mar
d'amor, que se espraia até nós
o tempo enche o ar d' aroma a jasmim
amar-nos-emos até ao fim!

natalia nuno

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

sou o tempo que em mim perdura...


só me restam poucas palavras por dizer
que ressoam em espaço fechado
e eu proponho-me a esquecer
mas fica uma ferida aberta
por tanto as ter amado

assola-me o frio
da noite deserta
sinto na pele orfandade e o medo
o peito aperta,
num instante sinto uma lágrima
que me procura

sou o tempo que em mim perdura
trago a memória da infância
interrompe-me a voz da água
e à distância, meus olhos calam a mágoa

a vida vai caindo cansada
no fundo bem fundo do meu ser
a ela me sinto agarrada
e vou vivendo, enquanto o peito
de ar encher

há palavras que se calam entre as tuas
que jamais  esquecerão
o amor e a tranquilidade 
para sempre vivendo como recordação
em harmonia lenta, com saudade!

natalia nuno


terça-feira, 23 de setembro de 2025

murmúrios da noite...





noites intensas
com o vento a rondar
rio de trevas, cresce a solidão
e, nem restos de sonhos a sobrar
a ânsia e a dor são agasturas,
reverdece a nostalgia no coração
das noites enluaradas de ternuras.

sou mulher sonhadora
entregue ao tempo, à chuva e ao vento
a vida me é devedora
da pele lisa que já não tenho,
de lembrar-me quem sou, e de onde venho

defraudados os sonhos surge o amargor
o frio da vida e do espelho, 
trago o rosto impávido de certeza,
a única coisa que resta são estas mãos,
com sua estranha destreza.

escrevo cada palavra com a doçura
que a saudade me dá de mão cheia,
sempre com lealdade e ternura
como se fosse abraço que me rodeia

não posso saber quando será a definitiva
neste mar fugaz que é a vida
por maior que seja o vazio, 
pelo tempo que perdurou em mim
ficará por certo, dentro do meu ser, perdida.

a memória leva-me ao eu mais distante,
enquanto a desmemória
- é meu medo constante!

natalia nuno
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parte de mim...



a solidão refugiou-se no meu peito,

 partilha comigo o tempo,

 acomodou-se, 

e agora passámos a andar de mãos dadas


emoções dentro de mim

dão conta da minha conduta, 

um dia me sinto demasiado nova, 

outro demasiado velha, 

e lá se vai meu equilíbrio, minha harmonia, 

aqui delinearei parte de mim, dia a dia

e escreverei do passado sem pretensão  

e estados de espírito no presente,

deste meu coração.


natalia nuno

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rente ao mar...

 



hoje o mar alterou-se, sabe-se lá porquê...

 ficou paranoico, avassalador, 

mas depois, deixou-nos a fúria

- de o amarmos em liberdade,

mais tarde passou-lhe a cólera 

e veio-nos beijar com paixão, e delicadeza,

e ali mesmo fiz um verso e foi o desvario

 

com frio,

nele adormeci o sol , 

coloquei cigarras a cantar nos canaviais

 e acreditei 

que era verdade o sonho que eu, o mar e o sol sonhávamos...


natalia nuno

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