sexta-feira, 1 de agosto de 2025

depende de quem olha...




o dia nasceu, aos outros igual
não há sinais no céu
sem nenhuma singularidade
por enquanto nem sol ardente
mas em mim, a mesma saudade

como um parto que se anuncia
assim nasceu como todos os outros dias,
vai crescendo, sem grandes anomalias

os ventos, e o sol, fazem turnos
e eu todo o dia envolvida
na mesma sombra
como se nada tivesse mudado
e o pensamento tivesse congestionado

hoje só traços feitos num papel
sem nenhuma utilidade
tão iguais a tantos outros
onde escrevo minha saudade

e quanto mais este dia igual a tantos
avança,
faço riscos no papel com aberturas
para que as aves se aninhem
e ali criem filhos com ternuras
sem me aperceber que isto não é
poesia
e assim avança meu dia!

aberturas?
apenas ligeiro relevo
na superfície da folha
não sei se com poesia, ou sem ela
depende de quem olha
enquanto parto num barquinho à vela.

natalia nuno
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quinta-feira, 31 de julho de 2025

sem quem entenda nada...

 


 este amor à vida
 é inquietude que me arrasta
 quero amá-la com os cinco sentidos
 mesmo quando de mim se afasta

sou  tarde humana
que se despede do seu
esplendor,
meu riso deixou de ser transparente
trago mãos de mãe cansadas 
que já deram d'amor ardente

tarde, que espelha desassossego
vive num silêncio ensimesmado
num sonho destroçado

queixa-se do futuro sem lá chegar
num jogo de não querer, 
e perceber
que não há como recusar,
estranha mágoa por perder 
esperança
de ar cansado envelhecer

a noite acossa os pensamentos
transforma-os em ruas de ausência
golpeia o sono
e traz a fuga aos dias
a memória ao abandono
e a vida em apagão,
vão-se as alegrias
resta o frio e a solidão.

natalia nuno
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quinta-feira, 17 de julho de 2025

a ilusão ousa tocar-me...



por entre meus versos
sou como areia pelo mar engolida
que se vai diluindo,
e assim fugindo luz à vida 

as recordações que em mim
habitaram
também se calaram
estou entre o transe de ser
e não ser nunca mais,
sou apenas um comboio
sem carris e sem sinais

o olhar no espelho
morde-me, 
como um cão com fome
rebelo-me e gritarei
até esquecer meu nome

no meu sangue navegam velas
com a vertigem dos ventos
levam sonhos às estrelas
e aos braços da lua meus lamentos

estendo a minha mão
desperto, abro o olhar,
- e a vida não passa de ilusão!
feita de sonhos, sonhos cúmplices

até meu coração, o peito pisa
ulula o vento por perto
como a dizer que me avisa
que a vida sem sonho é deserto.

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quinta-feira, 10 de julho de 2025

para quê importar-me com a sorte dos meu poemas?



vivo nas margens da escrita
com a chama dum frio que não abala
e um inventário de esperanças,
logo a saudade vem comigo à fala

a vida é uma aventura excessiva
reinvento-me nesse labirinto
que é viver,  e sentir-me viva
nutrindo-me de melancolia
para sobreviver

rememoro poemas, os mais intensos,
ou ali ao acaso
onde a leitura me faz tremer,
o tempo já os vai desvanecendo
- prontos a morrer

desprotegidos, nada justifica
a sua existência
nada os vivifica, ficam escuros
como o fundo duma mina
e nele abafam as lembranças
de menina

chega do silêncio o fastio
os olhos leem até ao esgotamento
abrem-se ao vazio,
com um frio que corta!
- os sonhos tocam ao de leve,
inquieta-me esta mudez,
e o esquecimento
parece, que a vida é coisa morta

para quê importar-me
- com a sorte
dos meus poemas?

natalia nuno
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segunda-feira, 7 de julho de 2025

o tempo que me desafia...



entre a pedra e a urze
sou semente,
o orvalho veste-me de doçura
e eu ferida, inocente
fico sem vida, presente, nem futura

a escrita é o pulsar
que me contêm,
e se me quiser dispôr a perecer
não contará a ninguém

elevo a nostalgia 
à casa dos meus versos,
será cinzento meu abandono
deixar-me-ei tacteando entre sombras
e uma inaudível melodia

deixo mais um poema inquietante
resta-me esta última estação
o espelho mostra o rosto que não encontro
acaba rasgando-me o coração

o tempo pôs a sombra no meu rosto
para me ir enclausurando
com estranha obstinação
o tempo todo me olhando

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quinta-feira, 3 de julho de 2025

silenciosa passagem...



com o tempo tudo se tornou
saudade
e meu coração é grato
por tanta serenidade,
canto à vida com gratidão

na silenciosa passagem,
como a água dum ribeiro
sigo caminho, levo no rosto,
da madrugada a aragem

mudei ideias e sentimentos
choro até já sem voz,
na noite eternamente surda,
fica meu pensamento veloz
na angustia que a vida
lhe impõe.

o tempo e a incerteza
provocam-me fragilidade
quero seguir com firmeza
e, esquecer, a cruel verdade

uma névoa já me confunde
os passos,
a memória em esquecimento
sem ela vem o nada
quase absoluto vazio
recordações aos pedaços


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na companhia do silêncio...


as palavras cálidas foram
levadas p'lo vento,
num dia nascido sem horizonte
nenhuma ficou,
- lamento!
não há agora saudade que me afronte.

as recordações desperdicei na hora,
ficaram para trás, deixaram
um sabor nostálgico,
já nada me satisfaz.

mesmo que não existam já palavras
o meu céu se ilumina
e isso me basta!
a esperança em mim
veste-se de menina
a tristeza se afasta.

quero que fique de fora
o medo
contemplo serena a vida
e dos momentos absurdos do
meu esquecimento,
- faço segredo!

esqueço o espelho
nu e velho!
que me observa cruel
sorrio-lhe ainda que vencida
aproveito a longevidade
que me ofereceu a vida,
e vou encarando a realidade.


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utopia que me move...

o rumor dos pássaros
anuncia o dia,
correm as águas do rio
olho-as, preencho o vazio
enxergo um dia feliz!

será a minha esperança vã
ou será que foi Deus quem 
assim quis?
que este querer meu
esta minha ousadia
de escrever dia após dia,
fosse utopia
que me move?

ouço sussurrar aos ouvidos
a música das águas me revigora
é saudade de volta
sou feliz nesta hora!

mas o sonho é breve, do nada
a realidade bate-me à porta
e eu sem coragem,
nem viva nem morta!

cansei de caminhar
acabou o ritmo da corrida
caminhei ao sol e à chuva,
e, ainda assim,
cabe que nem uma luva 
a saudade em mim!


natalia nuno
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quarta-feira, 2 de julho de 2025

pensamentos perdidos entre si...



este zumbido que enlouquece
restos da festa que soam na mente
como enxame de abelhas em festim
quando o corpo desfalece
e o coração já não sente
é a aproximação do fim

não deixo que o sonho se extinga
jubilosa, festejo ainda a vida
resignada como rosa desfolhada
mas, com vontade que não finda

há coisas que a gente não esquece
olham-se em silêncio as molduras
enquanto o tempo nos envelhece
fica o coração,
- pássaro de penas escuras

como malmequer
que não resiste ao vento
já o sonho vai caindo 
no esquecimento

-e um apertado medo
arqueja na almofada
chora até de madrugada,
o peito estilhaçado em pedaços
clama p'los teus abraços.

natalianuno


do que já não volta...




entra a noite agressora
despoja-me do sono
e do sonho,
o corpo fria mais frio
em submerso abandono
sombras pavorosas
correm no pensamento
difíceis se fazem as palavras
já não são generosas
nem a meu contento

já o desejo não me pertence
só as recordações dão algum alento
e o coração sente
que já nele houve sol a incendiar

amar?!
hoje é nostálgico o sabor
não há caminhos que ofereçam
um possível regresso
neles se cala o amor.

natalia nuno
rosafogo

meu pensamento inventa...



às vezes regressam os medos
os presságios,
os dias desolados,  segredos,
pensamentos longínquos alcançados
nas sobras perdida
sem esplendor de vida

às vezes rompem meus dias
como cristais
num amplo corredor 
com apertado amor
que me dão sinais
de luz, que me conduzem 
à vida

e sempre o meu pensamento
inventa
que o amor é viva companhia
e tenta
trocar a tristeza  por alegria.

natalia nuno
rosafogo


domingo, 29 de junho de 2025

teimosa nostalgia...

teimosa nostalgia
que nunca me abandona,
é dona, de meu recolhido coração
onde não mora a alegria
e a felicidade já pouco pulsa,
na memória é tarde demais, 
apagou-se o clarão
trago agora o olhar preso à solidão.

há uma luz que se instala
no meu frio,
o teu olhar parecendo atento,
olha-me, também ele vazio!

como água clara da fonte
abraço-te com ternura
tocamos o horizonte,
esquecemos a noite escura
claros os silêncios,
insinuas apenas um sorriso
e é tudo o que preciso!

então a morte não se atreve
deixa-nos a sonhar, é saudade
sem saber se deve ou não deve
pressagiar tempestade,

fica nosso céu cristalino
traz-nos um sol, é saudade
e um alento ressuscitado,
eu ainda menina, tu menino,
num passado
que não quer ser apagado.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 25 de junho de 2025

a intensidade dos momentos...





gosto de ver, sentir, a beleza crua
de olhar o céu de estrelas cravado
e gosto de à noitinha de olhar a rua
e ouvir o miado do gato aluado.
 
nas horas desperdiçadas a dormir
tudo pode desmoronar ali à volta
não quero para mim esse sentir,
quero viver, quero sentir-me solta.

versos a horas mortas, entusiasmada,
versos caem em cascatas sobre o mar
para continuar a minha caminhada
já que a vida é aventura pra durar.

meus olhos são janelas com vitrais
meu andar já contornou a encosta
custa-me a crer, atrás não volta mais
deixarei versos a quem deles gosta

minha humilde origem lembro agora
tantos cheiros e sabores ficaram atrás
um marco importante, é nesta hora,
tanta recordação que a saudade me traz

as águas calmas em que devo partir,
são o ponto alto da minha caminhada
no sangue cantará a brisa que surgir
e chorará a saudade, em mim tatuada.

nos relógios d'outras horas a solidão,
com  pegadas lentas e tão distantes
hoje imagem solitária que dá a ilusão
que fui, vento forte todos os instantes.

natalia nuno




segunda-feira, 23 de junho de 2025

esquecer os espinhos...




meus versos alçam vôo
sobre o cansaço da minha jornada
e vão onde não vou,
partem das minhas mãos
logo p'la alvorada

às vezes olho as últimas estrelas
cicatrizes das dores do universo,
palpitam minhas veias feridas
solto palavras em verso

é preciso florear os caminhos
espreitar por todas as nesgas o céu
esquecer os espinhos

soltar os ais que a vida não gastou
esquecer tudo o que desfraldou

libertar as consoantes e vogais
que ainda flutuam no voo dos dedos,
deixar nas saudades os ais
acalmar os sons dos medos

tudo o que fomos se cruza na mente
e uma lágrima seca, surge de repente
na tíbia memória dos meus olhos
onde a saudade mora

despenham-se versos da imaginação
sem formosura e sem demora
que são apenas rumores
- deste velho coração.


natalia nuno







premonição...






os sonhos não dão trégua
ao pensamento,
sou ainda
aquela que sempre te espera
basta-me a tua carícia
é prazer na minha pele
é cura pró meu desalento

quando o sol se apagar de vez
ficar somente a noite escura,
talvez, 
volte a mim
a minha alma ungida
de frescura!

o viver promete esperança
fugaz a alegria que já foi
a vida rodopia numa dança
com premonição que dói.

natalia nuno
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sutura esquecida...






ao entreabrir a janela
senti a brisa desfraldando
as asas duma mariposa amarela
era sonho, 
um jardim de malvas
e ao acordar agigantou-se
pronta a melancolia,
mais outro dia, 
jogo de memórias salvas


na rua tantos seres, tanto mundo vivo
meu rosto junto ao vidro cativo.

cala-se agora o vento
e o silêncio me devora
na imobilidade deixo que ele seja lei
no pensamento, 
olho o horizonte nebuloso
é a morte, é a vida, já nem eu sei,
e ouço os gritos da chuva nos vidros
que aos meus ouvidos, 
são como latidos.

sinto no âmago o frio deste dia
o sonho da mariposa amarela
ainda em mim a melancolia,
eu pegada na janela
na fronteira, morte e vida, 
ferida, com sutura esquecida.

natalia nuno






maldito tempo



maldito tempo
que até a ilusão me cobra
e eu sonhando com searas douradas
que do Senhor são obra
p'la mão do homem cuidadas.

não prendas minha liberdade,
tempo que me segues os passos,
deixa-me tempo pra ter saudade
das lembranças quase esquecidas,
das ideias foragidas,
não me prendas a liberdade.

deixa-me os sonhos vestidos
de luar,
quero mastigar o trigo
de pés descalços andar,
ficar para sempre menina
ser fogo, ser brisa, corpo silvestre
menina franzina.

não sangres mais meu coração
não... não fiques longe, nem perto
que eu contigo não acerto.

quero comer pão de ló
despetalar malmequeres
estar ao colo de minha avó
deixa-me só, se puderes!

não me prendas a liberdade
prende-me somente à vida
tempo que eu levo de saudade
saudade nem sei bem de quê,
nem quem sou na realidade
por que me segues... porquê?!

natalia nuno
rosafogo




quinta-feira, 19 de junho de 2025

os olhos do meu esquecimento




cai uma chuva de sílabas brancas
silencia o outono,
asfixiam as pétalas das rosas
o vento veste-se de folhas negras
é a loucura do instante 
já não ressurge o sol brilhante

já as palavras não me bastam
levo uma longa desmemória
neste mundo de luas e marés
que avisam os meus sentidos
e contam minha história

meu corpo é de barro
sua existência despenha-se 
enegrecida
apanhou-me desprevenida,
e aos poucos
leva-me a vida

diária é a condenação
a chuva vai ceifando o sol
do crepúsculo ao arrebol,
foram-se os bandos de pássaros azuis
do meu coração, levaram-me a alma
a ansiedade ficou, e não acalma

precipitadas nuvens caem em choro
sobre as árvores, que alargam os braços,
- lentos são meus passos!
os pensamentos atravessam muros
o meu horizonte é feito de fuga
e de vitória a saudade, é
asa, que me oferece um pouco
da perdida memória.

solitários ficam os olhos
do meu esquecimento
contemplo o céu, agradeço
mais um dia,
o outono já silencia

natala nuno
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fogo morno...



sou prisioneira em meus exílios
de solidão
quando escapo, regresso a ti,
dás-me a mão,
sinto o fogo da felicidade
a vida desperta de novo
e uma estranha luz me envolve,
e me comovo,
uma carícia de ondas
- chega-me ao rosto!

perdi-me entre os sonhos
ou a vida inteira se consumiu?
tentam-me os dias estas incertezas

mentem-me as noites e num instante
rodeia-me a melancolia
que me deixa
numa alquebrada nostalgia.

nos teus olhos o calor do sol-posto
fogo morno, entrega de magia
serena o coração, e no rosto,
um sentimento firme com intensidade
- amor, paixão,
porque me és saudade!

amámos livremente,
cuidámos deste amor com esperança
e obstinadamente!
na mais serena felicidade
apenas queremos tranquilidade

 - no envelhecer que nos traz saudade.

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terça-feira, 17 de junho de 2025

os olhos das minhas horas...




dentro dos olhos das minhas horas
há promessas por cumprir
sonhos por realizar
memórias atadas
silêncios,
e sombras do meu sentir

o tempo transbordou
e a saudade aumentou,
o vazio devorou os sonhos
derramou o amor e sua quimera

voltar à juventude quem dera
à promessa dum voo sem fim
que fugiu de mim!

resta a memória extraviada
onde não há mais sóis
apenas um silêncio errante,
na lezíria dos meus sonhos
onde havia girassóis,
- livres e embelezados!

são agora as velhas palavras
a lembrar o aroma da antiga
inocência
e os sonhos jamais realizados.

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domingo, 15 de junho de 2025

cinco tostões...memórias


uma das melhores memórias, 
são as idas à biblioteca
onde ia para o tempo entreter
velhos livros lia, alguns não
próprios para a idade, 
sem recomendação, 
era o passatempo, uns  leves
outros pesados,
alguns ainda lembrados
retidos na memória e no coração
com saudade!

como ler era bom!
lembro o Conde de Monte Cristo
e lembro o Papillon

custava o aluguer de cada um
cinquenta centavos  «cinco tostões»
lidos à luz do candeeiro
enquanto o sono não era pego
era o tempo das ilusões...

era feliz assim,
não descansava enquanto
não lhes via o fim.

sossegadamente,
 horas seguidas lia
e o céu era meu,
e assim o sonho cresceu,
e a inquietude me consumia
a tenacidade enlaçava-me
e hoje faço das palavras aprendidas
Poesia!

surgem poemas de saudade
consumidos, quando recordam
tudo o que amei,
momentos grandiosos vividos
que sempre recordarei!

natalia nuno


o presente, perdido no passado...




hoje vi um rosto triste
como aquele que dá pena ver
com uma ruga taciturna a doer
como o tempo que põe sombra
no arvoredo
este rosto, me deu medo!

hoje espiei esse rosto triste
procurando-o como um cego
a escapar-se ele insiste!
por entre as ramagens o pego

hoje de novo esse rosto triste
para ser precisa é como a noite,
sustenho a respiração, e ele insiste
ser lembrança na escuridão

hoje vou esquecer o rosto triste
o silêncio murmura por perto,
destino sem prazo ainda existe
quero merecer de Deus,
- um caminho certo.

natalia nuno







Poema Marés de Natália Nuno (privilégio)

privilégio...

 https://youtu.be/WXUDFixqE2c

Este menino adora Poesia e é fã da minha. já é a segunda vez que me envia um vídeo com a leitura dum poema meu, sou pois premiada com mais esta homenagem com o Francisco lendo o Poema «MARÉS», com o qual iniciei a partilha no LUSOPOEMAS. Embora não o conhecendo pessoalmente, agradeço-lhe o carinho com que lê, grande recitador, sinto-me uma privilegiada, obrigada.

natalia nuno



domingo, 8 de junho de 2025

olhos selados no ódio..




enche-se de inquietação
o coração,
entre meus ouvidos o som 
da guerra
e do choro, que deixa um fogo
preciso na minha escrita
tudo ela devora
- guerra maldita!

destino e sua impiedade,
onde habitaram quimeras
a dor agora não sara
já não há primaveras,
e como um tear que não pára
chegam notícias gritantes
e morre-se a todos os instantes

olhos selados no ódio
surgem de suas entranhas,
injustiças tamanhas
atormentando um mar de gente

com avidez rancorosa
e uma teimosia indiferente

não há um sonho eminente
a paz não encontra retorno
há morte e o fumo embacia
o poente

quem dera que cada homem
estendesse uma ponte
e que o amor fosse a fonte
que a todos a sede saciasse

natalia nuno

quarta-feira, 28 de maio de 2025

perguntas que a mim faço



às vezes encontro respostas
que queria ignorar
a perguntas que a mim faço
ao olhar o rosto,
morto de cansaço

desencadeia-se um nevão
na alma e no coração
as lembranças também fogem
ausentam-se aos dedos de solidão,
fico cativa, como a que não
está morta nem viva!

um sopro de cinza permanente
é a sombra da recordação
que o coração sente,
a saudade dos trinados
das promessas e ardores
dos amores,
desesperados, e desencontrados

mansas lágrimas pelo perdido,
crescem nos olhos como formigas
tantos anos ter vivido!
trago o rosto enrugado
memórias consumidas
de tanto labor,
- tantas fadigas.

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domingo, 25 de maio de 2025

pequeno poema...




piso a terra há tantos anos
sou mãe de tantas brisas
apesar dos enganos
ainda acredito no porvir
não tenho como fugir

a vida me dá tão pouco
que até de amar já me apouco

nada de bem vem pela frente
as mãos já estremecem,
às emoções sou indiferente
as ideias empobrecem

minha loucura desencadeia
toca suavemente a alegria
canta-me um sonho
a somar à minha idade
a saudade de mais um dia

saudade de travo amargo
lembro assim deste jeito
aquele abraço apertado
que me deste

a dor antiga no peito
à despedida,
 - palpitação, a chama
que só atravessa o coração
de quem ama.

natalia nuno

o silêncio traz-me quase tudo...






hoje observei o pôr o sol
e pensei!
- que talvez o mundo já se aquietasse,
na ramagem o vento parou,
o céu estrelou,
e a injustiça dum Deus sempre mudo
em Deus de luz despertou?!
um sonho que ouso sonhar
talvez a solidão no meu peito
a enraizar não possa voltar

vi o dia ir embora
e tudo mudou nessa hora!

na mente o recordar do outono
e agora que me chegou o inverno,
sentimentos em mim ao abandono
a minha crença quase perdida
a vida endurecida,
recolho vestígios de fé
sigo envolta em flores da melancolia
carente de acreditar
em mais um dia
que traga com ele a paz.

passa o tempo, cresce a saudade
pingam gotas do meu olhar
e é na noite que mais dói
no meio da escuridão
o sonho se foi!

já definha a minha fala
só ouço a coruja piando
perto da janela,
será a morte que virá velá-la?
à luz faiscante duma vela?
tragam Poesia, 
e de Mozart uma sinfonia

na minha derradeira opacidade
levarei delas saudade.

natalia nuno
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quarta-feira, 21 de maio de 2025

acúmulo memórias...


surge uma solidão benigna
ao final da tarde
adormece cativa em mim
no ar um aroma a jasmim
o sol já não arde
e desperta a saudade!

contemplo o nascimento
misterioso da noite
conto estrelas, e por um momento
elas me acolhem,
e me levam ao profundo
esqueço com veemência o Mundo

de todos os tempos fico ausente
e prossigo inteiramente
o sonho
acumulo memórias
para ter  certezas

e enquanto a vida se despenha
aos pedaços
recomeço mais um dia
mais um dia de luta
eu faço e desfaço

ainda há manhãs que me sabem
a fruta...

natalia nuno
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domingo, 18 de maio de 2025

ainda fico de faces coradas...



sinto-me solta como balão
amanhã é outro dia
um dia com flores no jardim
Deus me mandará mais poesia
trato dela, e ela trata de mim

às vezes de palavras fico nua
e sem sonhos para vestir
aguardo a chegada da lua
arrepios líricos no meu sentir

ainda fico de faces coradas
e à janela da insónia me ponho
noutra realidade me abandono,
um frenético desejo d' amor
e surge sonho

estou perto de mim e tão perdida
agora é a confusão e o esquecimento
o espelho, e o abismo
que emita o meu  movimento
prendendo-me enquanto cismo.

se o sonho à vida não voltar
para nele semear fascinações
vou ter que à vida podar
imagens nascidas de ilusões

natalia nuno
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o tempo é escasso...



adormece a tarde
e o sol cansado, descansa
no horizonte,
no ar um reino de aromas
e eu sem palavras de esperança
nesta selva dos dias
onde só o vento dança

sem qualquer promessa
tudo é em vão
nem a paz se apressa,
delapidou a esperança
em meu coração

se houvesse um brilho 
que abrisse este dia cinzento 
da sua monotonia,
talvez descobrisse
a palidez do meu rosto,
e levasse dele toda a nostalgia


aflijo-me agora
vou até onde me leva a obscuridade
no vazio da hora
onde o sonho se esfuma, 
e surge a realidade

o tempo é escasso,
seca-me a idade sem tréguas,
lembro o abraço, e o refúgio
onde havia doçura
o que um dia foi, o tempo perfura,
rasga, sem dó nem piedade

comovido o olhar,
e num esforço palpitante,
sigo caminho
esqueço, 
quero a solidão distante.

natalia nuno







quinta-feira, 8 de maio de 2025

saudade doce saudade...



nos meus olhos
trago disfarçada a alegria,
do pensamento brotam palavras
dia após dia,
- doloridas.
achei ditoso o dia em que te vi
procuro-o nas lembranças
perdidas
na saudade de ti.

procuro nas cinzas frias
duma ardente chama 
e na saudade com que convivo,
do olhar de quem meu coração
ama

saudade doce saudade 
em vez de sarar, 
abre mais a ferida
saudade tem aroma de trevo
poema desditoso duma vida

os sonhos não podem regressar
nem os longínquos delírios, mas
o amor é licor suave
e quem o provou 
venturoso, continua a sonhar.

natalia nuno
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o fim do caminho...



cospe a vida sabor amargo
p'lo caminho vai pensando
tantos os anos que já trago!
o desagregar vou escutando

caminha, a morte à espreita
- vozes distantes algumas!
já esquecida a mão direita
poucas memórias, nenhumas

sem memórias inútil subida
e o que resta de humanidade?
pranto surdo, grande a fadiga
e do corpo enorme a saudade

natalia nuno
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quarta-feira, 7 de maio de 2025

indiferente ao mundo...



a vida é tela que pinto 
singela, como eu a sinto
gosto que o vento me afague o cabelo
e me venha falar de saudade
que a lua mais tarde
me invada o olhar
ouça meus ais e até meu chorar

fico indiferente ao mundo
lá fora
deixem amar-me,
na silenciosa hora

talvez surja o sonho, 
e me leve no voo sem destino
sem paredes azedas de tristeza
diante de mim
e seja livre por fim.

acabei a tela
adormeço em vertigens d'amor
e no silêncio chega a noite
ecoa a saudade, e com ela a dor.

procuro nas linhas breves da mão
o sorriso que deixei entre os salgueiros,
e as turbulências que me afloram ao coração

e travo os passos aos pensamentos
que correm ligeiros.

natalia nuno
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sábado, 3 de maio de 2025

derrubando sombras...



estou sentindo um terrível vazio
tropeçando e caindo de cansaço
fundo bem fundo como o leito do rio
desmemoriada e surda
ao silêncio me abraço.

ouço apenas a terra e o mar,
a espraiar-se até mim
e a terra enche-se de ar
com aroma de jasmim

quero ver-me distante daqui
onde a memória procura minha infância
- por aí,
onde tudo cure a dor
onde os olhos já não sintam a distância
a imaginação seja um festim d'amor,

e a vida se torne um beber lento e doce
e fulgure como se ontem ainda fosse.

natalia nuno


arranjando remedeios...



meu sonho é porta fechada
sou agora deserdada,
pela rapidez do tempo
deixei-me adormecer,
o sonho já me enfastia
porque hei-de eu querer
viver nesta fantasia?

trago o olhar turvado
e as palavras também secas
mas lá sigo o meu caminho
ora mal, ora mais aliviado

perco-me nos meus anseios
deambulam os pensamentos
vou arranjando remedeios
para aliviar meus tormentos

suponho que alguns sonhos
hão-de ainda até mim chegar 
não venham dias enfadonhos
mas vá poder-se, adivinhar!?

quem sonha não se vai perder
mas o destino sempre afronta
ninguém sabe, tem como saber?
e logo a vida nos amedronta

quanta força precisamos ter
de nascer outra vez prá vida
não deixar a  voz emudecer
e fazer das palavras sã comida.

natalia nuno
imagem pinterest


sábado, 26 de abril de 2025

em Abril nasceu a esperança...



Inda não te vi primavera
será que haverá verdes trigais
andarão passarinhos pela ribeira?
farei minha sementeira,
na esperança de esquecer meus ais
avisto amendoeiras em flor
mas caem mil chuvas 
há lírios pelos campos
vão chorando nossa dor

Inda ontem foi Abril
abelhas pousavam no alecrim
eram esperanças que nasciam
acreditei em ti, e em mim!

Será que as esperanças estão mortas
ou fazemo-nos ao caminho?
há rosas a abrir, p'las hortas
a primavera não tarda
e Abril renascerá!

de liberdade, luz e riqueza
haverá silvados floridos
de margaridas e rosmaninho
outra vez se fará Abril
e as cegonhas chegarão ao ninho

meu coração anda a clamar
mesmo contra vontade minha
foi bom ver Abril chegar
a esta terra que é a minha.
já ouço rouxinóis na ribeira
a chilrear.

e o sonho que o Homem sonha
é ver Abril brilhar.

natalia nuno
imagem


de 

sexta-feira, 18 de abril de 2025

a palavra e a poesia...



começo dia a dia a entrançar
palavras, algumas a acordar
o passado, é como se andassem
comigo de braço dado

são a causa da minha felicidade
de todos os dias
palavras como, saudade
palavras d'amor
abraçar, amar, saudar
palavras  como, partilhar

quem precisa de mais
em sua vida?
fazem-me sonhar 
sonho é chama
no coração de quem ama!

a palavra faz parte da
arte de poetar
a poesia aparece
- e cada verso, amigo ou adverso
é destino, herança secreta
ou dom divino.

transparente e livre
assim em mim vive,
poesia tatuada
com asas de frescura e luz
no meu coração pousada.



natalia nuno

segunda-feira, 14 de abril de 2025

a emoção do caminho


anda no ar o aroma a rosmaninho
mas a casa está desabitada,
já não há flores no caminho
é noite e a luz apagada

a nostalgia rodeia
os móveis, reina o silêncio,
junto à chaminé
a avó fazendo meia,
no ar o aroma a café

a sombra da ramagem na janela
a candeia pendurada bruxuleia 
- a lua espreita, 
volta e meia
enquanto a mãe serve a ceia.


vivendo entre a minha gente
sentindo em jorros
a felicidade do sangue 
o riso e lágrimas, a saudade 
uma manta de recordações
um sonho, todo ele de ilusões

partiram!
- o pai já não faz o baloiço
a avó já não faz meia
a mãe não põe a mesa
a candeia não bruxuleia
e se estou viva? não tenho certeza?!

a aldeia em mãos estranhas
a primavera branca de flor
de laranjeira
ah que saudades tamanhas
de os ter à minha beira!
- ditosas presenças
em minha vida
e eu neste sonho tão perdida

tremente a noite de frio
e lonjura
a memória enche-me os olhos
de ternura,
sulcam-me o rosto rugas de saudade
prossegue a emoção
nesta minha idade, sem idade

natalia nuno


pensamentos desatados...



procuro por entre as sombras
que são aliadas do meu desalento,
um rumo,
para não cair no desconhecido
no nada, sem sentido

não posso enterrar o momento
que ainda me pertence
nem o consolo que ainda me conforta
entorpecida a vida, 
ainda a morte não vence
mas, o desconsolo por vezes 
me põe morta

tudo o que a vida me deu
com o tempo foi-se perdendo
ou, quase tudo se perdeu!
ficou por detrás dum véu de bruma
como um sonho distante, 
feito espuma,
meta impossível de alcançar

procuro claridade onde pousar
com um escondido resto de esperança
vou até ao esquecimento desbravar
os sonhos, que ainda por mim
parecem esperar.

natalia nuno








que faria eu sem o sonho?...

por detrás dos vidros molhados
ouve-se o eco do vento
e a solidão que a nada se compara
o bulir gritante da folhagem
em lamento
e a minha, muda imagem

violenta-me o corpo sem sono
a chuva torrencial cai
meus sonhos empobrecidos
meu rosto frio, museu,
da garganta nem um ai!

faço das  palavras meu sonho,
um sonhar de juventude
abro a mente à claridade
depressa existo
- entre a tristeza
e a felicidade.

natalía nuno






sábado, 12 de abril de 2025

saudade de ti...

entediante é o vazio da vida
nem o céu azul é mais azul
na lembrança nada passa,
dói a memória perdida
 
a juventude ao longe,
as palavras estão gastas
a companhia é o silêncio
e a visão dum mundo perdido
quando de mim te afastas

fico à tua espera
ameaça-me a incerteza
da última vez,
quem sabe amanhã talvez,
procures em meu coração
um abrigo

escrevo-te palavras com suavidade
e as semeio ao vento
nas lentas e frias madrugadas,
quando do tempo vivido
- só resta saudade!

no pensamento 
inúteis palavras caladas.

natalia nuno

quinta-feira, 10 de abril de 2025

firmeza de seguir...



olho os oiros velhos
do horizonte
é hora de magia,
cantam as águas na fonte
logo a chegada da noite,
e assim, 
me despeço de mais um dia

a vida sempre nos dá a cor
dos instantes
passeio os olhos pela vastidão



com sorriso de orvalho
que não teme o trovão

abro asas e como gaivota
que aceita o destino, continuo
a voar
sob o poente oscila o arvoredo
e na memória há sempre um lugar
para lembrar, a vida que busquei
e a luz que brilha e sustenta
a minha felicidade

destinei caminhos a percorrer,
o que me vai na alma 
é a ansiedade de viver,
quando o sol começa a descer
pulsam em mim todos os sonhos
com intensidade, 
e logo a saudade me vem abarcar


natalia nuno