lá atrás ficou a juventude
abolida p'los anos
volto lá amiúde, em sonhos
para defrontar onde se meteu
minha euforia, minha alegria
à noite chegavam as estrelas
e os pirilampos do céu
no vaivém da nossa eira
as cigarras cantavam noite e dia
escondidas no trigo por malhar
a cotovia na oliveira se escondia
e o morcego que não dava sossego
tudo se enraíza na inquietude
da minha memória
que saudade da minha juventude
na estrada o chiar dos carros de bois
e o pastor com rebanho logo depois
lá em baixo no rio
coaxavam as rãs
e eu,
ouvia a melodia
ia longe, a noite de breu
na erva entrelaçavam-se as lagartixas
e nas árvores procurando pouso
os pássaros faziam rixas
logo a lua já me trazia o sono
e eu sonhava com ela no seu trono
fecho os olhos e ainda sinto
os aromas das flores de laranjeira
o voejar das abelhas nas cerejeiras
o sol crescia na ladeira
e um fervor ainda me alcança
tudo me chama, vive ama e canta
a alegria, a saudade, a criança
o ser inteira, neste sonho que criei
êxtase onde vivo e viverei
natalia nuno
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