terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

nas dobras da noite...



nada pode alegrar mais minha alegria
do que aquilo que existe e continua
dia a dia
na memória, todo o passado,
toda a minha história,
embora por vezes bata nos meus dias
o vento norte, bravo, forte,
deixando meu coração destroçado
meu rosto desfigurado,
onde o tempo semeou com mão
pródiga, sinais de cansaço
e deixou-me nas mãos gestos de solidão
e sem vigor o passo.

mas a memória é ave que voa sobre
um mar sem fim
e ainda que haja um dia cinzento
nada mais me alegra a mim
que deixar voar o pensamento
encher o peito de ar
e amar, amar tudo, escrever poemas no silêncio
abraçar a vida até me apetecer
levar de vencida uma lágrima comovida
e esperar a morte, que venha quando quiser!

é nas dobras da noite que na minha mão
roça a saudade, me lembra do caldo e do pão
e do luar bordado a lantejoulas
e em delírio me leva aos cantos da aldeia
à mesa verde onde a mãe coloca a ceia
e os meus sonhos ainda ali estão
como nenúfares prontos a colher,
cada uma das suas pétalas é ainda um dia
por viver, e sonhar,
com a serenidade no rosto a pairar,
e uma certeza a cada dia
nada pode alegrar mais, minha alegria.
que rememorar...

natalia nuno
rosafogo


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