terça-feira, 5 de janeiro de 2021

frágeis memórias...




no lusco-fusco da mente
há hortas iluminadas pelo sol
e um riacho doce que canta
como se gente fosse.
uma ribeira a outra ribeira se junta 
e eu fico a escutar o som das águas
que seguem rumo ao mar
deixando nas margens mágoas.
das moças que ali foram lavar.
uns se foram, outros vieram
e todos disseram do seu amor à terra,
a natureza a renovar-se o mistério que encerra
a bruma sobre a nossa pele escorre
é lembrança que não morre.

desafio a mente
a lembrar as ruas estreitas
a criançada, domingo de casamento,
os sinos que ainda tocam meu pensamento
e meu coração sente
que é dia festivo, que ainda ali vivo
vou de cântaro à cabeça,
avanço resoluta por entre os homens
na praça, que largam sempre uma chalaça.
a minha imaginação procura em vão
encontrar a mãe, o pai e a avó também,
mas na horta iluminada pelo sol
já não se encontra ninguém.
«na cálida tarde a luz reverbera»,
sento-me à beira da estrada, 
estou numa encruzilhada, olhar turvado,
de nada me serve a espera...
foi só, mais um sonho inacabado.

natália nuno
rosafogo

2 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Mais um poema lindíssimo que me deliciou ler.
.
Cumprimentos

Teles disse...

Bonito poema| Parabéns.