domingo, 19 de julho de 2020

.o avô da corrente d'oiro...



há um retrato pendurado
na parede
a fazer lembrar alguém
fico olhando, fazendo frente
mostrando não ter medo
de ninguém...
mão na ilharga
corrente d'oiro
dizia a avó com voz amarga
teu bisavô homem às direitas
homem de semeadura e de colheitas.

olhava-me com um olhar desaprovador
como se bem me conhecesse
mas no fundo lhe tinha amor
embora porquê, não percebesse.
era tão pequena, irrequieta...
é imagem da infância que trago
comigo,
a criança que não pára quieta
e a foto pendurada na parede
com ar sério a olhar
e às vezes até eu desesperar.

enquanto eu crescera
olhámo-nos umas centenas de horas
e os anos passaram num abrir
e fechar de olhos
é difícil conseguir
esquecer
esse avô da corrente d'oiro
que com ar severo me olhava,
mas que eu amava...
sem saber porquê.

vivíamos em mundos distintos,
suponho!
mas ele sempre vive no meu sonho.


natalia nuno
rosafogo



3 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Boa noite de Domingo, querida amiga Natália!
Tenho um único retrato que me acompanha,o do meu pai.
Gosto muito de fotografias, guardo as das gerações, com terno carinho.
Ficou lindo seu poema versando um sentimento que nos pertence quando criança e pode perdurar até os dias atuais, como deixou explícito.
Gostei muito de sentir suas reminiscências poéticas.
Tenha uma nova semana abençoada, amiga!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

orvalhos poesia disse...

Olá querida amiga, este poema também é um dos primeiros e nunca tinha colocado no blog por achá-lo tão íntimo e talvez sem interesse para quem o lê, mas no fundo ele é uma homenagem ao bisavô que não conheci, mas que me à força de me dizerem que era parecido comigo, comecei a amá-lo, então hoje bisbilhotando aqueles poemas que tenho guardados, achei por bem partilhá-lo lembrar os tempos de criança traz-me algum bem estar.

Grata pelo carinho com que o leste.
Desejo-te uma boa semana, tudo bom para ti
Beijinho

Roselia Bezerra disse...

🙏🕊️🌈🏡😘