palavras escritas com o coração, em qualquer verso está vazada a saudade poética que a memória canta. A fascinação pelo campo, o idílio das águas, a inquietação o sonho, a ternura o desencanto e a luz, toda uma bagagem poética donde sobressai o sentimento saudade... motivo predilecto da poeta. visite-me também em: http://flortriste1943.blogs.sapo.pt/
terça-feira, 26 de junho de 2018
de novo o amor...
haja mais uma madrugada, apenas uma
em que o amor seja tudo ou nada
q' tudo se esqueça, e o amor não arrefeça
só nós existimos nesta madrugada
só nós sentimos o calor da chama
que não queremos apagada...
aperta-me nos teus braços nus
com as tuas mãos acende o fogo
que o sonho aconteça, se faça luz
deixa-me ser flor a arder
fresca e odorosa
a abrir teu dia, teu corpo no meu
entre o grito de desejo a tocar o céu
traz-me ainda o sabor
que tanto me prende
o resto do fogo que em nós arde
este fogo que se acende
que é tudo ou nada esta madrugada
só mais esta, quero sentir-me mulher
e entre fantasias loucas, redobrar o prazer
na moldura da saudade ainda a chama
e o sabor do teu corpo por inteiro
o meu reclama
impaciente, nesta madrugada
onde me sinto adolescente, de alma
renovada.
natalisa nuno
rosafogo
quinta-feira, 21 de junho de 2018
agora que não me tenho...
palavras são borboletas que esvoaçam
e o meu olhar embacia enquanto passam
nos umbrais da minha alma ainda menina,
vou esculpindo versos nas noites consteladas
os anos me levam, nestas palavras devastadas
eu me reinvento, e
sonho-me a mim mesmo pequenina
escrevo um verso de saudade mais intenso
e quando esquecer o meu nome
escassa e magra será a liberdade
a memória consumida, e a vda
não pode ser mais chamada de vida,
ficarei repetindo palavras aprendidas
na memória presas, despojadas de certezas
na solidão da hora, tudo o que amei esquecerei
agora que não me tenho, as palavras se perdem
e já de nada me servem.
pertence-me o vazio das horas
o vazio das vozes que me falam
e a boca a mastigar indiferença
e na branca nudez da memória
já nem minha história!
nada sei, nada sinto, a mim mesma atada
em mim enclausurada.
e sei e sinto a direcção do vento
ouvindo-o com nostalgia
enquanto continuo esperando mais um dia
um dia de esquecimento...
natalia nuno
rosafogo
sábado, 16 de junho de 2018
o silêncio das palavras...
que importa se mais não sei
só sei...
meu corpo é um barco que oscila
enquanto o vento desliza nos cabelos
e no pensamento uma secreta saudade
que sôfrega bebo,
a luz onde a caminhar me atrevo
espalha-se o silêncio sobre as palavras
a tarde faz-se longa e arrefece
e há memórias que jamais se esquece
que sei eu, dos pássaros nas ramadas escondidos
que sei eu dos meus sonhos perdidos?
que dirão as papoilas que em criança ouvia falar
ou os medronhos maduros que enfeitiçavam meu olhar
que importa se mais não sei
só sei...
que o rio cantava aos meus ouvidos
torneava a aldeia e fugia dos meus pés
correndo de lés a lés,
o salgueiro era altaneiro
teimava em mirar-se no espelho d'água
sacudia os cabelos ao vento
e olhava-me com mágoa
adivinhando por ele meu sentimento
tremulava o orvalho no canteiro
as flores guardavam ciosamente o segredo do mel
e eu embalava o sonho junto ao peito
enquanto me afagavam as madressilvas com seu cheiro
sei também, dos besoiros aguardando o verão
e sei do amor que trazia em meu coração
que importa se mais não sei
só sei...
das fitas de seda que a mãe punha no cabelo
com desvelo,
sei dos abraços e dos laços
do vestido atados atrás
sei das rosas bravas e da lua crescente
e sei do tempo, desse tempo em que me fazia gente
do resto não sei e tanto se me faz
que importa se mais não sei
só sei...
que tudo isto é lembrança, nada eu inventei
é meu norte é meu destino, ouço ao longe
o toque do sino, que não cessa de tocar
e dos alcatruzes ouço o constante soar
sei do trigo e do arado
e sei do meu chão amado.
natalia nuno
rosafogo
quinta-feira, 14 de junho de 2018
a solidão me enfastia...
trago comigo pedaços de tempo d'outros tempos
que vão alumiando meu chão,
enquanto outros descem na noite trazendo
algo perdido, junto à saudade, a desolação
e é então, que a palavra transborda envelhecida
rasga-me os tendões do pulso
fico vencida.
a solidão me enfastia, a memória fica vazia
esqueçam-me nesta solidão obstinada e fria.
percebam apenas que eu me dei conta
que a vida já me abandona
e todos os sentimentos que trago à tona,
são inúteis fragrâncias de flores
são inúteis lágrimas que amam
tudo é silencioso, e a solidão é dona
dona da minha vontade, da felicidade
que me sobrou e eu cinzenta,
dito palavras duras à vida
sinto-a, a respirar na minha respiração
ouço-lhe a acusação...mas
fico da dor despida
e não me dou por vencida
natália nuno
rosafogo
domingo, 10 de junho de 2018
silêncios...
há silêncios que dizem tudo
na aspereza da noite, são desabafo d'alma
nos olhos secos, raios
avermelhados a expurgar a solidão,
as veias soltam-se em trepidação
na quietude, não se ouve nada
a não ser, o bater do coração
a vida já se ajoelha
o tempo no rosto se espelha
assim se faz o começo do fim,
sigo o silêncio que se quedou em mim
na memória há um fogo que arde e não
se consome...uma porta larga que abre,
ao passado, estendo a mão
às lembranças,
o sonho impregnado de brandura e,
com ternura, vou criando asas
para sair da solidão.
sempre a mesma sujeição ao tempo
sempre a mesma memória obsessiva
a lembrar cenas que marcaram a vida
deixaram no peito a saudade viva
esta saudade tão minha, que sinto de verdade
e lá me faço asa, que me leva de volta a casa
mas o tempo se arrasta e da vida me afasta
silêncio mudo que em mim se deita
encontra guarida no peito e ali se ajeita
aceita a oferta do abrigo e quer-se ali comigo.
há silêncios que dizem tudo
atravessam m' alma vazia, meu coração mudo
cansaço na viagem, e passa mais um dia.
natalia nuno
rosafogo
quinta-feira, 7 de junho de 2018
sedas esvoaçantes na memória...
lembranças são pedacinhos de nadas
a entrançarem-se no dia a dia
são o vento que se levanta
e vêem de saudade impregnadas
pedacinhos que deixámos para trás
num mosto de poesia,
fotografias gastas em álbuns ditosos
colocadas com mestria
onde nossos olhos se debruçam ansiosos.
lugares, rostos com sorrisos francos
que foram engelhando no tempo
eles que foram rosas, cravos, lírios brancos,
mimosos...são apenas memória.
lembranças, zumbidos que se ouvem
a qualquer hora, sopros que reviram nossas vidas,
também tornam venturosa a nossa estrada
são temporais ou ausências sentidas
ou cartas d' amor, em lacinhos atadas
lembranças são rumores, pedacinhos passados
a que chamamos vida, um bem maior
aos quais às vezes damos escasso valor,
quanto mais o tempo nos afunda
mais a saudade em nós abunda
mas, o sonho é como a voz do sino não se cala
e acrescenta asas à vontade de viver
não quero estar vazia de mim
a vida sem lembranças, não seria vida sequer.
natalia nuno
rosafogo
domingo, 3 de junho de 2018
se triste me vires...
não sei até onde poderei ir
também é verdade que não
me interessa isso agora,
vale tão pouco minha memória pequena
que chega a hora,
que até lembrar de mim me dá pena.
há lembranças que me deixam triste
por isso choro quando a saudade insiste,
hoje não quero mesmo lembrar-me
de coisa alguma,
chegaram demasiado tarde as palavras
hoje não escrevo nenhuma,
secaram-me a alma, mas também me deram
conforto e alegria, fico a chorar baixinho
lembrando a cada momento que tenho
de seguir caminho e esquecer a melancolia
não sei até onde poderei ir
sei lá da alegria que tinha de vencer,
lembrar ou esquecer?
um dia, um dia vou ter de partir!
não sei quem me roubou meu arco-iris
pinto agora meus dias de negro
se triste me vires, ou de qualquer jeito
lembranças e sonhos adiados,
é o tempo a doer no peito
e a névoa nos meus olhos toldados.
natalia nuno
rosafogo
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