quinta-feira, 7 de agosto de 2025

para não rimar com a morte...



das noites sou refém
conto as horas, 
mais além pela madrugada
vem a saudade de alguém
que o destino me trouxe à sorte

escalo o verso
para não rimar com a morte
que é triste e sombria
e vaga pelo meu dia, a dia!

há uma voz em mim sempre em silêncio
frágil como a vida que me resta

quando olho as rugas da minha testa
linhas com sonhos à mistura
descobrem minha fragilidade
veladas de saudade

este poema ancora nele a solidão
mas com ele não me sinto só!

é como um deserto árduo
- sem água nem pão!
onde um dia o Poeta vira pó.

natalia nuno



recordações acordadas...



noites solitárias, de sonhos povoadas
sonhos que não acabam, eternos
noites em que não quero dormir
com as recordações acordadas

guardo na lembrança a tua imagem
desperta em minha mente
nas sobras da memória

na solidão das tardes onde ainda 
me sinto gente 
ao lembrar nossa história

tantos anos se foram
sangra a saudade no meu peito
as imagens habitam no palpitar
do coração,
em horas de solidão.

já não sou a ave livre como o vento
é antiga minha linguagem,
nostálgica minha lembrança
tenho a idade do tempo da criança 
que ainda habita em mim
hoje com um desencanto sem fim.

natalia nuno
imagem pinterest


as palavras já me abandonam...

 

onde os pequenos instantes?

o riso, o amor, as sensações
não posso fugir, deixá-los distantes
agora q' me habitam as confusões

os olhos choram sem saber
porquê,
o rosto com expressão de enforcado
pra quê, porque choram porquê?
por sonhos perdidos,
tão perdidos, mesmo que, perto de mim
terem ficado

molhando o peito o pranto, sempre
o pranto
desce até à alma, à profundidade
ao encontro de todos meus sentidos
até 
tropeçar deixando-me na saudade

preciso dum abraço
duma blusa colorida

perder-me entre sonhos e realidade
trazer o brilho nos olhos
pois viver só de saudade
tornou-se lugar incerto, quero vida
sentir do coração a batida forte
já que ronda a qualquer hora a morte

as palavras já me abandonam
e assim vou sucumbindo 
trago na memória, inventada, 
sonhada, uma outra caminhada
vou seguir, sorrir, vou prosseguindo.

natalia nuno

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

sonhos que se enovelam...



avisto as ondas do centeio
dançando ao vento
com arrebatada sensualidade
numa felicidade que incendeia
a vida

o gotejar da fonte,
como doce cansaço,
gotejando a compasso
com a vida me reconcilia,
adormecida na almofada
na fronteira da noite o dia,
aspiro pela madrugada!

em mim um frio fino
atravessa-me a pele,
guardo na memória
as manhãs a saber a fruta
a abelha que colhe o mel
água do rio no açude em luta

magia com sabor a aurora
colho esperança na hora!

- uma nova luz a brilhar!
um voo de gaivotas em ansiedade
sonhos que se enovelam
na minha saudade

vejo-me percorrer o firmamento com o olhar
pelas tardes d' ocres de âmbar
e fogo
navegando nas alturas
 e logo,
toda a terra com dádivas de cores
- e amores!

neste dia que é de Outono
com brisa, trinados e nostalgia
chega a mim como uma profecia

natalia nuno

domingo, 3 de agosto de 2025

a tarde inunda no silêncio...


romper este silêncio
esta incomparável solidão
deixar de sentir do tempo,
o esmagamento,
ouvir o rumor da folhagem
o pensamento
serenar

e à vida retornar!

hoje a vontade cede e precipita-se
como um vendaval,
e cai-me na alma
uma chuva torrencial

vai enchendo meus rios
há séculos esquecidos
encerrados na água,
em ribeiros de desvios,
de sonhos empobrecidos

num recanto solitário dum jardim
emaranhado de sombras

escrevi este poema
só para mim!

natalia nuno
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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

depende de quem olha...



o dia nasceu, aos outros igual
sem nenhuma singularidade
não há sinais no céu,
por enquanto nem sol ardente
mas em mim, a mesma saudade

como um parto que se anuncia
assim nasceu o dia
como todos os outros dias,
vai crescendo, 
sem grandes anomalias

os ventos, e o sol, fazem turnos
e eu todo o dia envolvida
na mesma sombra
como se nada tivesse mudado
e o pensamento tivesse congestionado

hoje só traços feitos num papel
sem nenhuma utilidade
tão iguais a tantos outros
onde escrevo minha saudade

e quanto mais este dia igual a tantos
avança,
faço riscos no papel com aberturas
para que as aves se aninhem
e ali criem filhos com ternuras
sem me aperceber que isto não é
poesia,
e assim avança meu dia!

aberturas?
apenas ligeiro relevo
na superfície da folha
não sei se com poesia, ou sem ela
depende de quem olha
enquanto parto num barquinho à vela.

natalia nuno
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quinta-feira, 31 de julho de 2025

sem quem entenda nada...

 


 este amor à vida
 é inquietude que me arrasta
 quero amá-la com os cinco sentidos
 mesmo quando de mim se afasta

sou  tarde humana
que se despede do seu
esplendor,
meu riso deixou de ser transparente
trago mãos de mãe cansadas 
que já deram d'amor ardente

tarde, que espelha desassossego
vive num silêncio ensimesmado
num sonho destroçado

queixa-se do futuro sem lá chegar
num jogo de não querer, 
e perceber
que não há como recusar,
estranha mágoa por perder 
esperança
de ar cansado envelhecer

a noite acossa os pensamentos
transforma-os em ruas de ausência
golpeia o sono
e traz a fuga aos dias
a memória ao abandono
e a vida em apagão,
vão-se as alegrias
resta o frio e a solidão.

natalia nuno
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