sábado, 22 de julho de 2023

um fardo de nostalgia...



quase a vida no limite
longe dos sonhos,
que se perderam 
com o pulsar do tempo,
também os dias risonhos
se perdem no rumor das palavras,
reflecte-se no rosto a vida dura
fazem-me companhia
os momentos ébrios de ternura,
de alegria e loucura
no presente relembrados

a vida vinga-se a cada dia
ficam entre nós, diálogos calados
um fardo de nostalgia
outrora de alegria...

olho as sombras que a luz
inventa,
sorrio àquele tempo jamais
esquecido, a hora vai lenta
o silêncio cresce, lês os jornais
e eu vou buscando o sonho  

intensa esta madrugada
até o amor nos esquece
desliza no peito uma dor calada
olho teu rosto, um mar sombrio
e logo a saudade aparece e
eu  para ti sorrio...

rosafogo
natalia nuno



quarta-feira, 19 de julho de 2023

a dor que se dobra...



vou semeando o canto
com plena alegria
de crer-me ainda jovem,
acariciada pela generosidade
do vento, que me põe a memória
em delírio
acalento com ansiedade
mais um dia
a mágica saudade,
com a obsessão da luz que me forja 
os sonhos.

na avidez deste inverno
nada me dói mais
do que a dor que se dobra
no pensamento, e se torna 
um inferno

a memória sobrevive
é meu perfume constante
embriaga-me perante
o imprevisível..
-.faz-me esquecer,
cabe a Deus esse saber.

natalia nuno 
rosafogo

segunda-feira, 17 de julho de 2023

quase sem dar conta...



recolho em meus olhos 
a grandeza deste dia ensolarado
contemplo a liberdade das aves
e penso no meu passo já aquietado
sabes?!
quase sem dar conta
meu afã ficou à deriva
assegurou-me apenas a solidão
que é o que sobra da vida.

murchou meu tempo de qualidade
o tempo o tirou
com alguma maldade,
mas, hoje o dia está ensolarado
e meu pensamento ocupado,
vou olhando o horizonte
reclamo apenas dignidade.

da janela da minha vida
esqueço o sentido do tempo
rememoro-me menina, 
com saudade.

natáli nuno
rosafogo
imagem pinterest

sábado, 15 de julho de 2023

aromas no pensamento...



é tempo da giesta
e da sálvia aveludada
de folha delicada, no ar
aroma a lavanda e a jasmim
e o grilo rouco 
poisa no alecrim
na aldeia telhados vermelhos
casas de poucas janelas
mas vê-se por elas
o fio do horizonte
o rio e a ponte
 e ao longe a terra arada

pelo fim de tarde
na minha aldeia amada
tocam as trindades,
a lembrar de quem a gente
sente saudades

perto da noite
juntam-se os pássaros cansados
e eu neste jeito velho de ser
trago sonhos apaziguados
os aromas que o ar sustém
fazem-me reviver
quero para sempre viver
 e deter
o tempo fugitivo.

enquanto o céu da minha vida
decidir entreabrir-me a porta,
vou começar novamente
amanhã tudo será diferente.

natalia nuno
rosafogo




terça-feira, 11 de julho de 2023

pincelada de sol...



meus sonhos empobrecidos
queixam-se de abandono
e desamparo,
sonhos que busco em vão,
habitam no porão
da mente, em labirinto,
sigo em frente,
com toda a minha cegueira
interrogo-me incessantemente
diante do espelho, negação,
chove-me na alma
avanço, levando a saudade
à minha beira.
a imobilidade rodeia-me
nas janelas da insónia o medo
é minha prisão
viver assim, não quero não!

aromas silvestres
voltam de novo é primavera
esqueço o longo inverno
e mais uma pincelada de sol me espera
sorrio à luz que me acaricia
é como se a juventude ficasse
em mim por mais um dia.

natalia nuno
rosafogo




segunda-feira, 10 de julho de 2023

o céu abriu seu riso...

 

- o azul celeste hoje 
abriu-se luminoso
iluminando os meus olhos de gelo
despertou meu sorriso adormecido
acalmou meu mar impetuoso,
abriram lírios
como pensamentos de ternura,
transbordaram em meu dia dádivas
de aromas e cores
lembrei amores,
a brisa trouxe música e nostalgia
na sede dos meus sonhos
senti-me astro do dia.

nos meus olhos penetrou o espanto
surgiram palavras como se fossem novas
e no fulgor do acaso
nasceu mais um poema
e o céu abriu seu riso
voltei a criança que ama a vida
só preciso, do abraço teu
para que o mundo azul (paz), seja meu.

natalia nuno
rosafogo





quinta-feira, 6 de julho de 2023

ruas da memória...



as ruas da minha memória
eram de terra batida, chovia
ainda recordo o cheiro a terra
desse tempo de nostalgia
tudo incrivelmente distante
brincávamos na rua
vivíamos sem medo
a aldeia era minha e tua
e a amizade o segredo,
banhávamo-nos no rio
para aguentar o calor de verão
e no inverno à lareira vencia-se o frio
café ao lume, fatia de pão
na mão...
ouvia-se o vento
enquanto a tempestade passava
e com Deus no pensamento
pedia-se em oração
e a tempestade amainava.

tudo era simples assim
o pai tratava da horta
e a mãe dos filhos e do jardim.

havia fotos penduradas
na parede
antepassados que não conhecia
olhava-os dia após dia
«dali ninguém os arrede
que à avó são familiares
tios, avós, pais, e netos
ali nas fotos aos pares»

tempos de poucos afectos
de reprimidas emoções
de sufocados desejos
também de desilusões
alimentando-se ansejos

mas recordar me alimenta
guardo sempre esta vontade
e nesta manhã cinzenta
de silêncio vazia, chega a mim
a nostalgia
tudo lembro com saudade.

natalia nuno
foto do pinterest