terça-feira, 18 de março de 2025

o sol que avisto da minha janela...



Hoje o sol que mal avisto, olha-me com seu olho negro por detrás das nuvens, deixando-me a sensação que me abandona de vez. Golpeada por uma luz cinzenta, a vida é cada vez mais depressa lavareda sufocante que me queima os sentidos, até que tudo se distancia na memória. Desvanecidas as lembranças fico ouvindo o vento, e contemplo a chuva que corrompe a esperança e o frio nebuloso traz-me o tremor como se fosse a última folha caída da tarde, e impede a alquimia da minha mente, de voltar às lembranças.

natalia nuno

quarta-feira, 12 de março de 2025

avançando às cegas...


regressam de longe as aves
deixam mundo atrás de si
também meu corpo em viagem
leva saudade de ti

desperta um vento adormecido
faz tempo, em meu peito retido

pensamentos em turbilhão
já não suporto o vazio das horas
nem o frio da solidão
já nem sei como caminho, com
tempestades apontadas ao coração

já não entendo o voo dos pássaros
nem o riso das águas a marulhar
e nem os olhos já sabem
- o porquê de chorar!

tão perdida
há uma sombra que me prende
e aqui fico nesta prisão
abre-se o chão,
chuva torrencial cai

as mãos inertes 
e na garganta nem um ai.

vou avançando às cegas
na penumbra do nada
que é mestra na ruína,
é esta sina, algo turvo
que m ferve na memória.

natalia nuno 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

o rumor das palavras...



nos traços do meu caminho
a névoa permanece,
cada vez com mais intensidade
reviver o vivido dói

cresce pela manhã a saudade
e pela última luz da tarde tocada
já o sol se foi!

sei que a vida é fugaz pressentimento
da morte, do lamento, e do nada

há sentimentos intemporais
mas o tempo corrompe a esperança
sigo errante, chora demais
em mim a criança.

sinto bater o frio
enquanto semeio palavras
e a noite avança!

meu corpo envelhecido
esquece os golpes do cansaço
não quer quebrar, decidido!
compreende quanta luta inútil
quanto passo,
quanta aceitação,
felizmente ainda me devolve
o sonho, a quebrar a solidão.

natalia nuno
imagem pinterest








quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

o amor que me coube...





como a fome que tenho de viver
igual a tanto d' amor que me coube
é com a mesma que procuro saber
se foi bastante, e a tanto me soube
 
deixo resvalar o  meu pensamento
seja como um mar que nunca acaba
um mar calmo, ou um mar violento
ou sede cinzenta q' em mim desaba

vou caindo no charco da solidão
trago a dor que não pude escolher
dor vai e volta, e não esquece não
é pedra alojada no coração a doer

a vida adormece mas ainda aguarda
procura ainda o sol com intensidade
que o amor adormece  não tarda
tão perto, quanto longe, virará saudade.

natalia nuno

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

o inverno é novidade...



parti para longe de mim,
naquele instante, que me dói
lembrar
meu sonho ficou mudo
foi o fim de tudo!
vil inverno, inimigo a chegar

quando o destino nos tortura
quando o ocaso nos abandona
quando as noites já não trazem doçura
a loucura, é dor dum grande vazio
solidão onde cresce o frio

parti para longe de mim
quando a vida me agrediu
agora na solidão me vejo assim
e olho-me,
como alguém que nunca se viu

varro minhas folhas secas
deste outono que de mim se despede
o inverno é novidade
deixo soltar a saudade
da vida, que foi ensaio breve

esqueço os sonhos que almejei
nada me devolve a imagem perdida
sou uma sombra
em busca de mim mesmo
assim é, o vazio entediante da vida.

natalia nuno
imagem pinterest

domingo, 9 de fevereiro de 2025

sombra duma sombra...

 



de costas viradas aos sonhos
relembro instantes amargos
e esqueço os dias risonhos

remendo meus olhos tristes
rio, choro meu olhar torvo
e nem comigo estou de acordo

vou caindo, sempre caindo
como uma pedra no charco
assim vou levando meu barco

despertam sombras no espelho
desgastando-me a cada olhar
olho-as até, a dignidade me deixar

quando a dor persistente me traz
que a memória dos dias é nada
na garganta do tempo sinto-me parada

não me chegam já as palavras
com que me possa refugiar no poema
voltarei noutra vida com outro tema

sou forte como as raízes do vento
caminho com a morte à espreita
não sei quanto tempo!? mas aguento!

natália nuno




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

mais espinhos que rosas...





nesta viagem sem retorno
águas passaram, muitas águas
mas a sede aguentei!
e eis que dei,
pelas aves redobrando
o canto, como música aos ouvidos

em meus sentidos
mais espinhos do que rosas
trago caídas as folhas ao chão
e em versos palavras mimosas,
trago entusiasmo, também hesitação

acolho-me à sombra do que há-de vir
um dia partirei
- e nada levarei!

somente o que trouxe
meu corpo um rio despido
entregue á terra mãe
tão pouco importa esse pouco
que tenha trazido,
partirei, despojada 
de quanto amor dei, também.


natalia nuno