quinta-feira, 8 de maio de 2025

saudade doce saudade...



nos meus olhos
trago disfarçada a alegria,
do pensamento brotam palavras
dia a dia,
- doloridas.
achei ditoso o dia em que te vi
procuro-o nas lembranças
-perdidas
na saudade de ti.

procuro nas cinzas frias
duma ardente chama e,
na saudade com que convivo,
do olhar de quem meu coração
ama

saudade doce saudade 
em vez de sarar, 
abre mais a ferida
saudade tem aroma de trevo
poema desditoso duma vida

os sonhos não podem regressar
nem os longínquos delírios, mas
o amor é licor suave
e quem o provou 
venturoso, continua a sonhar.

natalia nuno
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o fim do caminho...



cospe a vida sabor amargo
p'lo caminho vai pensando
tantos os anos que já trago!
o desagregar vou escutando

caminha, a morte à espreita
- vozes distantes algumas!
já esquecida a mão direita
poucas memórias, nenhumas

sem memórias inútil subida
e o que resta de humanidade?
pranto surdo, grande a fadiga
e do corpo enorme a saudade

natalia nuno
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sábado, 3 de maio de 2025

derrubando sombras...



estou sentindo um terrível vazio
tropeçando e caindo de cansaço
fundo bem fundo como o leito do rio
desmemoriada e surda
ao silêncio me abraço.

ouço apenas a terra e o mar
a espraiar-se até mim
e a terra enche-se de ar
com aroma de jasmim

quero ver-me distante daqui
onde a memória procura minha infância
- por aí,
onde tudo cure a dor
onde os olhos já não sintam a distância
a imaginação seja um festim d'amor,

e a vida se torne um beber lento e doce
e fulgure como se ontem ainda fosse.

natalia nuno


arranjando remedeios...



meu sonho é porta fechada
sou agora deserdada,
pela rapidez do tempo
deixei-me adormecer,
o sonho já me enfastia
porque hei-de eu querer
viver nesta fantasia?

trago o olhar turvado
e as palavras também secas
mas lá sigo o meu caminho
ora mal, ora mais aliviado

perco-me nos meus anseios
deambulam os pensamentos
vou arranjando remedeios
para aliviar meus tormentos

suponho que alguns sonhos
hão-de ainda até mim chegar 
não venham dias enfadonhos
mas vá poder-se, adivinhar!?

quem sonha não se vai perder
mas o destino sempre afronta
ninguém sabe, tem como saber?
e logo a vida nos amedronta

quanta força precisamos ter
de nascer outra vez prá vida
não deixar a  voz emudecer
e fazer das palavras sã comida.

natalia nuno
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sábado, 26 de abril de 2025

em Abril nasceu a esperança...



Inda não te vi primavera
será que haverá verdes trigais
andarão passarinhos pela ribeira?
farei minha sementeira,
na esperança de esquecer meus ais
avisto amendoeiras em flor
mas caem mil chuvas 
há lírios pelos campos
vão chorando nossa dor

Inda ontem foi Abril
abelhas pousavam no alecrim
eram esperanças que nasciam
acreditei em ti, e em mim!

Será que as esperanças estão mortas
ou fazemo-nos ao caminho?
há rosas a abrir, p'las hortas
a primavera não tarda
e Abril renascerá!

de liberdade, luz e riqueza
haverá silvados floridos
de margaridas e rosmaninho
outra vez se fará Abril
e as cegonhas chegarão ao ninho

meu coração anda a clamar
mesmo contra vontade minha
foi bom ver Abril chegar
a esta terra que é a minha.
já ouço rouxinóis na ribeira
a chilrear.

e o sonho que o Homem sonha
é ver Abril brilhar.

natalia nuno
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de 

sexta-feira, 18 de abril de 2025

a palavra e a poesia...



começo dia a dia a entrançar
palavras, algumas a acordar
o passado, é como se andassem
comigo de braço dado

são a causa da minha felicidade
de todos os dias
palavras como, saudade
palavras d'amor
abraçar, amar, acarinhar
receber, dar

quem precisa de mais
em sua vida?
Fazem-me sonhar 
sonho é chama
de quem ama!

a palavra faz parte da
arte de poetar
a poesia aparece
- e cada verso, amigo ou adverso
é destino, herança secreta
ou dom divino.

transparente e livre
assim, em mim vive!
a poesia tatuada
com asas de frescura e luz
no meu coração pousada.



natalia nuno

segunda-feira, 14 de abril de 2025

a emoção do caminho


anda no ar o aroma a rosmaninho
mas a casa está desabitada,
já não há flores no caminho
é noite e a luz apagada

a nostalgia rodeia
os móveis, reina o silêncio,
junto à chaminé
a avó fazendo meia,
no ar o aroma a café
a sombra da ramagem na janela
a candeia pendurada bruxuleia 
- a lua espreita, 
volta e meia
enquanto a mãe serve a ceia.


vivendo entre a minha gente
sentindo em jorros
a felicidade do sangue 
o riso e lágrimas, a saudade 
uma manta de recordações
um sonho, todo ele de ilusões

partiram!
- o pai já não faz o baloiço
a avó já não faz meia
a mãe não põe a mesa
a candeia não bruxuleia
e se estou viva? não tenho certeza?!

a aldeia em mãos estranhas
a primavera branca de flor
de laranjeira
ah que saudades tamanhas
de os ter à minha beira!
- ditosas presenças
em minha vida
e eu neste sonho tão perdida

tremente a noite de frio
e lonjura
a memória enche-me os olhos
de ternura,
sulcam-me o rosto rugas de saudade
prossegue a emoção
nesta minha idade, sem idade

natalia nuno