terça-feira, 19 de novembro de 2024

prementes sonhos...

chegou quando sonhava
um som, à minha janela
era o inverno em segredo chegava
com uma carta de recordações
com palavras calando
nostalgias e cegas ilusões
num instante soube
que era a dor selvagem
dum grande vazio

débil a minha voz de frio
meu sentir,
foi um clamor apagado
o corpo quebrado.

onde deixei a branca primavera
o verão estonteante
e o fervoroso outono?!
lembro agora:
extraviados, num percurso
já distante

prementes sonhos, frio e nostalgia
despeço-me de outubro
e de saudade me cubro
até um dia.

natalia nuno


terça-feira, 12 de novembro de 2024

umas linhas d' outono...


e como a vida foge
surgem nuvens cegando
o nosso bem estar
um vento forte
na fronteira com a morte

contemplo o silêncio que me
envolve
sinto o desamparo em frágeis
instantes
um navio perdido entre a bruma
uma vida com tudo, e sem coisa
alguma

mistério de sonhos invictos
absurda miragem do que não alcancei
e um dia quis
um porto seguro onde ser feliz

felicidade
é clara e anunciadora
dum azul céu
mas pouco duradoura,
surge a solidão, inverno
que não termina,

sonhos, eu tenho desde menina!

sou como tarde declinante
que entra em escuridão
range o tempo e o tédio
fazem moradia no coração

um dia voltarei pela sombra
azul do arvoredo,
sentir-me-ei alegre e redimida
então rirei
do segredo celeste da vida.

natalia nuno

domingo, 10 de novembro de 2024

sonhar, distanciar a pressa...



um sonho vem à mente,
como uma tristeza que surge
do outono, ou ditosa luz de verão
e descarrega na gente, então
um fardo de lembranças 

abraça-se uma a uma
com olhos d'água
palavras, poucas ou nenhuma
precipita-se em nós a mágoa

a saudade senta-se 
ao nosso lado,
como dona, entra em casa
e faz estadia,
trazendo com ela 
um fardo de nostalgia
e a ventura que foi nossa um dia

o amor vive enquanto queima
abre-se um sorriso de esperança
o coração teima,
ganha-se um pouco de alento
e ousa-se agarrar o sonho
mesmo de rosto já macilento.

o coração vive enquanto bate
esquecer a ventura que é sonhar?

não!
minha alma absorta...
distancio a pressa
- nem que o poema
tenha de rasgar!

natalia nuno
rosafogo
imagem pintarest

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

o eterno inimigo...tempo



ando à procura dos sonhos 
onde possa abrir caminho
aos salpicos do sol,
desde a aurora ao arrebol

procuro sorrisos vestidos de branco
visito imagens escondidas
nos recantos da memória,
olho os brancos da fisionomia
que vão descrevendo minha história

antes que minha ânsia
continue a debater-se
antes que tudo me sufoque,
ando à procura de papoilas
que habitam os meus dedos
e que a esperança os toque!

procuro uma lufada de ar
quente,
para que a vida não acinzente,
caminhar sem dúvida, o caminho
até ao fim
não deixar a apatia chegar a mim

não quero tornar inútil a jornada
trago imagens a borbulhar
na mente e a vontade redobrada,
quero ser água livre, 
que nem pássaro poder voar

e a palavra sempre me ensina
uma porta de saída!
para o sonho, para a vida.

natalia nuno

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

a viagem...



pouco resta da viagem
olvido a mala aberta,
sento ao lado da bagagem
e a dor em mim aperta

tanta vida!
não restou quase nada
caio na realidade
apesar de tudo,
restou esta saudade,
e este silêncio mudo.

arrumei ideias
e recordações
que trouxe da juventude,
e tantas ilusões
que arrumo amiúde
até pedaços de  instantes
que para mim, tanto significaram
oásis, estrelas brilhantes
do amor que nossos corpos
festejaram.

depois de tudo arrumado
talvez seja agora a hora
de esquecer o passado

não se passa absolutamente nada
apenas eu,
- vou morrendo claramente!
num sussurro inquieto,
ressoa-me na mente, 
o vento a agitar
o recordar, de quando era flor, 
prestes a desabrochar.


natalia nuno
rosafogo




quarta-feira, 23 de outubro de 2024

a saudade é o meu tema...



inda lembro do riso solto
lembro o tempo da alegria de viver
quando ao passado volto
a tudo que não quero esquecer,

hoje trago a boca seca
sem gargalhada,
ficam os olhos rasados d'água
ao anoitecer,
- até de madrugada!

lembro do chilrear dos pássaros
e das carícias do vento
aos meus ouvidos,
e do perfume das flores,
a vibrar nos meus sentidos.

apesar do esquecimento,
que inda agora se apresenta 
e de inquietude me acorrenta

lembro de correr
de pés descalços em liberdade
lembro de cada rua, cada esquina
e a lembrança traz-me saudade

lembro a menina
- e os odores dos dias extintos
lembro das vidas perdidas
e da canções esquecidas

bastava um pouco de calor
deixar pular o coração
e nascia o amor,
envolvia-me na sedução
o sol confiava-me o seu poder
e assim me fiz mulher.

hoje já não quero percorrer
grande distância
prefiro ser o mar do poema
e sua inconstância
e fazer da saudade meu tema.

natalia nuno
imagem pinterest


terça-feira, 22 de outubro de 2024

indolência ardente


peço,
para ficar por aqui a viver
deixar-me ir neste caudal
só, 
na apatia de mais um dia
onde a saudade é fatal.

a embriagar-me
- em mais um entardecer
numa indolência ardente
deixar-me de tudo esquecer

que eu sou fiel às palavras,
apesar de desesperada descrença
já não me pertenço
azar ou instinto
é isto o que penso


nas minhas pupilas 
vejo ao longe horizontes
mas ninguém ouve o rumor 
dos meus lábios
mais um calmo dia dorme
junto a mim

e eu estou feliz por fim!

natalia nuno
imagem pinterest