palavras escritas com o coração, em qualquer verso está vazada a saudade poética que a memória canta. A fascinação pelo campo, o idílio das águas, a inquietação o sonho, a ternura o desencanto e a luz, toda uma bagagem poética donde sobressai o sentimento saudade... motivo predilecto da poeta. visite-me também em: http://flortriste1943.blogs.sapo.pt/
terça-feira, 5 de maio de 2015
no fervor do sonho...
Vão morrendo as estrelas
na madrugada já se ouve o galo e seu clarim
a manhã gloriosa, já tanta claridade
e tu alheio nem dás por mim
termina a noite em saudade.
amei-te inda menina era aurora venturosa
amar-te, ainda é minha sina
e esta noite tão misteriosa...
Quero ainda ser a flor do teu olhar
incendiar-me no teu fogo
no fervor do sonho que nos faz sonhar,
e logo tu seres a emoção
com que escrevo, nestes breves momentos de ilusão
Não adormeças ainda dá-me a tua mão
que as palavras sejam luz em nossa vida
farei com elas versos belos e intensos
e no teu amor me sentirei protegida,
imensos são os anos que nos levam
vamos morrendo como as estrelas...
e eu esculpindo versos tentando detê-las!
inventando esperanças, acalmando o vazio
esquecendo a sombra do olhar
e deixando-me no teu coração habitar
hoje, escrevo sonhos como estrelas cadentes
e escuto o amor com infinito desejo
dum beijo d'amor
que eu sinto... e tu sentes.
natalia nuno
rosafogo
segunda-feira, 4 de maio de 2015
Desce a sombra...
Duvidosa é sempre a morte
é destempero da vida
anda em nós arraigada
certa, disposta a fazer-nos a cilada
e ainda a mostrar-se compadecida.
Desce sombra sobre nós
sucumbe-nos o pensamento e a voz
não somos mais donos da vontade
inquieta-nos o rosto, fatalidade,
retira-nos dos pés o tapete
faz em nós o estrondo dum foguete.
Golpeia a cortina dos nossos olhos
espia-nos noite e dia
o pior está por vir, que ironia!
Como foi que sempre nos iludiu
o pulso já bate descompassado
o destino traz tudo determinado
...traçado! Sei que ela virá um dia.
natalia nuno
rosafogo
( homenajeando um amigo seciliano TóTó Lombardo que faleceu aos 58 anos inesperadamente)
domingo, 3 de maio de 2015
condenação da poesia...
posso queimar todos os poemas
há só um senão
nada restará, nem o sonho
que vem dar-me um dormir doce
às vezes,
e que a seu tempo acabará
quando a respiração for sustida
ao final desta alameda que é a vida.
aos poemas dou nova oportunidade
retiro a condenação,
mas há um senão,
que faço da saudade?
poemas ilusões por mim geradas
fazem parte de mim mesma
são mais fortes que todas as razões
são minha carne, meu pão
meu prazer, minha paixão
ilusões? pois que sejam ilusões!
o bálsamo com que mitigo a dor
o azevinho com que enfeito o natal
a quietude e o vendaval
a corda que me prende ao cais
custa-me a acreditar
que os queimaria e não os sentiria vivos
jamais...
vou mantê-los em liberdade
como o perfume das flores pela campina
e dizer-lhes da minha saudade
desse tempo de menina.
as flores encherão a terra
os versos flutuarão alheados ao tempo
só restará o eco da adolescência passada,
virá ao ouvido ainda...derradeiro eco
neste poema que finda.
natalia nuno
rosafogo
terça-feira, 21 de abril de 2015
eu e os sonhos...
pequena prosa
vou tecendo imagens pensando poder recuperar aquilo que não poderá mais
voltar a não ser à minha mente, chove-me na alma gotas de nostalgia e também de agonia, há memórias onde certos rostos já não
possuem identidade, desse passado que não pretendo esquecer que é meu e que ainda
me pertence… vou cedendo, mas não me permito na queda perder a dignidade, e não
me nego à esperança que a vida ainda me oferece, às vezes me embaraça a tristeza, trespassa-me o âmago, mas só às vezes, deixa cicatrizes que eu vou curando com
as palavras e lá passa o medo daquilo
que por enquanto desconheço, o esquecimento…o tempo é ave de rapina, que se abate sobre a memória, deixa os olhos nublados e todo o corpo em
desassossego. Mas eu agarro-me a tudo que está perto do coração, às melhores e
mais felizes recordações, esqueço pressentimentos maus, deixo-me ir lá atrás à
casa da infância, onde a grande lua
amarela me fala de sonhos, deixa-me o coração palpitante e eu fico ditosa julgando-me dona do mundo…e no meu fugaz paraíso, nimbado de sonhos d'ouro, ao compasso duma melodia que só eu escuto, consigo reencontrar a felicidade, até que a luz clara da manhã dum novo dia que se ergue talhado pelo sol faz comigo uma aliança d'amor e nas horas que se seguem percorremos a praia da infância num desejo que nos leva ao delírio... nas águas felizes o aroma da saudade onde minha alma navega ainda como uma ave levada pelo vento num vôo livre, elevando-se por onde cresce o céu...dos meus sonhos.
natalia nuno
rosafogo
aldeia 4/2015
coisas da minha cabeça...
pequena prosa
a forma antiga de escrever certas palavras já não se usa, mas eu sou como o salgueiro, posso até vergar um pouco consoante o vento, mas na escrita continuo arraigada ao modo como me ensinaram e faz tempo!
- a língua materna não pode andar ao sabor do vento, se ela é a nossa pátria temos que a respeitar, eu acho-a tão bela, tão bela, que desespero por vê-la indefesa.
ai!!!!! mas passou repentinamente um melro e cortou-me o fio dos pensamentos, não importa, deixo afastar as ideias, pois de que serve matutar na escrita passada se agora existe a moderna sem acentos, com letras arrancadas à força, e se de facto nem estou de acordo, para quê pensar no assunto!?
- estou tão longe do tempo em que aprendi!
- mas hoje prefiro estar atenta aos últimos raios de sol sobre o rio que daqui a pouco desaparecem no horizonte, deixando-me a pensar onde irão depois de nos deixarem na escuridão, possivelmente irão aquecer as cores esvaídas de algum inverno, o sol está sempre decidido a dar vida a tudo por onde passa, enquanto isso, estou já a olhar a alameda dos astros, agitada pelas memórias que o vento me traz nem sei de onde...
- tenho esperança que amanhã vou vê-lo nascer de novo a gritar de alegria aqui nas minhas hortências... os tempos são outros, o passado sinto-o sólido em mim e sinto-me constrangida quando leio palavras torturadas porque lhes tiraram o sentido...eu escrevo de acordo como me foi ensinado com brio, submeteram-me a exame e não sei outra forma de escrever e nem quero aprender.
- faz tempo escrevi um poema que se chamava «morreu a última rosa amarela» e agora a surpresa em mim, a roseira trouxe de novo aos meus olhos meia dúzia de rosas amarelas fragrantes que me olham num silêncio ternurento e parece ouvirem as palavras tolas que me saem da boca nestes momentos tão nossos.
- nos meus sonhos mais ermos, há sempre o resplendor da erva molhada pelo orvalho, onde eu sentava para ler as primeiras letras numa manta estendida pela avó logo que o sol nascia, pela frescura da manhã e na presença das coisas que eu amava pois esse era o mundo, o meu mundo agora quase lendário... onde havia o ar odorífero das flores de laranjeira e rouxinóis que cantavam enquanto eu lia, esses continuam vivos cantando em mim quando eu vou ao encontro do sonho.
natalia nuno
rosafogo
sábado, 18 de abril de 2015
resta-me, que me abras os braços...
pequena prosa
a frondosa ramagem que avisto da janela dos meus olhos, é a que
tantas vezes aparece nos meus sonhos, repetidamente, como se fosse uma armadilha
do tempo a querer dizer-me que não saí da margem do meu rio de árvores
frondosas, que sou ainda aquela menina que vai lavar ao rio, que corre
despreocupadamente pelo açude... e a minha pobre memória que já tudo confunde,
acredita…e então escrevo poemas de amor em letras
que ficarão para sempre com a impressão que a juventude ainda em mim habita…
uma hora, um dia, um mês, um ano mais, não importa, há sempre um
instante de felicidade que me aguarda, o amor é o sonho dos sonhos é a
felicidade, e só o sonho comanda a vida... mas é nesta loucura, cansada, que vou
morrendo todos os dias mais um pouco, esquecendo mais um pouco, desgastando a
vontade mais um pouco, com a solidão mais presente, com a dor mais persistente,
e a última esperança a adormecer…o desânimo a percorrer-me as veias, parda a minha alma, as palavras a fugir, perdida a audácia que me restava de menina, mas que estação sombria!...resta-me que me abras os braços e me acolhas, bastando-me esse instante, que será o instante de todos os instantes a provar a força que nos une. Na casa dos meus versos há nostalgia, há palavras submersas no crepúsculo, e na mente um inventário de recordações, um jardim onde rasgo emoções, e um passado que escuto, mas já não alcanço...
natália nuno
rosafogo
quarta-feira, 15 de abril de 2015
nas mãos do tempo...
pequena prosa
fico imóvel como o silêncio, de pernas e braços extenuados, meu corpo é um
barco sem remos, que oscila ao sabor da maré…e apesar da vontade me agitar, já
é difícil libertar-me deste estranho cansaço como se estivesse no centro do
vento sem conseguir aguentar a tempestade, e assim se seguem os dias
sepultados no silêncio, vivem e morrem tal como eu num mundo de recordações. Sedenta alcanço cores e claridades, que surgem no ar cálido do entardecer e me olham jovem na minha idade sem tempo, e
me deixam esquecida do tempo real… mas, o tempo crava as suas garras sem dó nem
piedade e em certas horas me despe da ilusão, me retira essa existência feliz do sonho…no entanto, a
minha ânsia queima todos os tempos, emudece a solidão, e também a melancolia, entrego-me de novo à vida e prossigo e é como se esse vendaval aprisionado em mim voltasse sem
demora em busca do azul do meio dia onde
eu volto a ser a gazela livre e feliz...nada permanece como é, o horizonte começa a ficar sem luz, vou esquecer a fuga dos dias, espero que o próximo me aguarde porque no peito trago a avidez de viver, e um desejo sempre presente na memória, o de caminhar escrevendo pedaços de recordações... com palavras ternas que me saltam dos lábios e me fazem renascer...
natalia nuno
rosafogo
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