quinta-feira, 21 de agosto de 2025

o verso...


escrevo este verso
faz de conta que não sou eu
há coisas que a gente não perdoa
e ele é filho,
- que não me reconheceu!

foi à vida
sem despedida,
vou aguentar quanto puder
vou deixá-lo carpir,
e quando tempo houver
talvez interrompa o poema
para o  verso ouvir

ele é meu por direito
é a minha face no espelho
fala de saudade e nostalgia
e tal como eu está velho!

veste a minha pele 
como outros tantos
há os que são de mel,
e os outros de desencantos

são filhos na saudade parados
no silêncio, paridos sem poesia,
porém ansiosos que eu os liberte
um dia.
- como velhos achados!

natalia nuno
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terça-feira, 19 de agosto de 2025

poema dum dia adverso...


a minha poesia
tem dias
que me quer bem, 
me alenta, me acalenta
como nada, nem ninguém

noutros faz da vida barca
ao cais encostada
de remos parados e quilha
quebrada
ninguém mais a olha,
vem uma onda e a molha!
deixa-a de saudade encharcada

uma nuvem cinzenta
gaivotas, devotas
a fazer de guarda,

às vezes aparenta
que vai de vento em pôpa
e ao chegar ao fim 
a morte não a poupa!
..................................

a poesia me quebranta
onde a dor mais me dói
me põe frente ao abismo
mas o poema é meu herói

continuo o jogo
do gato e do rato
estarei presente
até, ao último acto.

natalia nuno
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domingo, 17 de agosto de 2025

a utopia que me leva...




hoje deito o poema fora
quero a noite sem hora
não quero nada que me doa
serei ave que voa
quero-me viva
que nada me retenha

quero sentir-me activa
quero ser alma da saudade
e vida da alegria
ter a bondade que me adoce
o coração, e não atormente como hoje
a poesia

poema criado imperfeito
ora me despe, ora floresce
é jogo para a morte iludir
um ardil que sempre cresce
quando a noite está pra vir

poema serve para tudo ou
para nada
que de nada me serve
e nem me fala da saudade
como se atreve?

deito fora, sem idade nem data
olho-o com altivo desdém
não será memória pra ninguém

sonâmbulo não acordará
nem sabe quantos anos andará
foi poema com quem cruzei
que me fez promessas vãs
nasceu fora do meu regaço
atormentou minhas manhãs

na tentativa do meu abraço
como se me importasse o tema
se o poema,
- não me fala de saudade!

natalia nuno
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à procura de mim...



o sonho adormeceu
durou tão pouco
ficou remoto, não me aqueceu

meu tempo é limitado
hoje meu sorriso se fechou
fez-se silêncio
ficou o vento pendurado
nas janelas, debruço-me nelas
à procura de mim

a memória acena-me distâncias
quando chorava no berço 
minha avó por perto rezando o terço
lembro ainda a ladainha


sinto que sou uma andorinha
que emigrou para longe
nesta vida tão excessiva
cujo sopro descaminha

com que prazer o tempo
me esmaga!
apagando mais um pouco
a última miragem
fico à espera que o espelho traga
nem que seja uma pálida imagem

um dia perco o brio
que me resta,
e rompo a negação
não quero mais que meus olhos
molhados, 
vejam triste meu coração.

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sábado, 16 de agosto de 2025

contudo pergunto, ama-se ou odeia-se?...



vem o sol e nos aquece
logo o frio nos arrefece

há quem diga que a vida
é para ser bem vivida

atenção não vá ao engano
pode vir-lhe daí algum dano

a noite antecede o dia
p'la manhã canta o galo
- com alegria!

ficam os sonhos na almofada
desperta a realidade
- daqui a nada!

o tempo, com que prazer nos esmaga
a infausta memória humilhada

mesa posta, pão na mesa
que amanhã não há certeza

a fome grassa por perto
vida sem jeito, sem amor é deserto

não há quem possa estancar
tenho até repulsa de lembrar

a terra verde adormecida
onde o veneno não se fez esperar

moeda falsa, maldição
falta de amor pelo próximo
ama-se ou odeia-se?
e a paz a cair ao chão!

o mundo em desgraça presente
cruxifica a vida de tanta gente

a paz distancia-se humilhada
é velha memória guardada


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se eu pudesse esconjurar...



há um caminho entre a bruma
calem-se sirenes e alarmes
o pavor que incendeia
até não restar coisa alguma

e ninguém acode a ninguém
nem ousam o frente a frente
e o mundo já agoniza
e o que se tem?
guerra que o mundo não precisa
nem de alguém com soberbo desdém

ah, se eu pudesse esconjurar
o louco que abriu a ferida
mostrar lhe o meu desprezo
até ele agonizar?!

é tamanha minha aversão
que fico sem coração
se fosse jovem e forte
lutaria pela paz até à morte.

somente o silêncio
neste mundo esfarrapado
não se pode cair no engodo
de gente que se diz do nosso lado

a terra é sombra perdida
luz apagada, mais frio que inverno
cai em desgraça tanta vida
luz mortiça, um inferno!

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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

absurda imaginação...



os dias são tão pequenos
que podia fechá-los
sob os meus dedos apertados,
cativos para não me magoarem
apertá-los para perpectuar a vida,
e com as minhas mãos
desfraldar um arco-íres brilhante,
para que o sol tivesse inveja

absurda imaginação!
é como sorrirmos a sonhar
assim leve e claro
numa noite de outono
quando já tudo fica distante
e o tempo, corre sem parar
- e eu sempre digo... « não vás»!

e o corpo vai morrendo
como uma folha que cai.

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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

poema sem poesia...




a saudade senta-se 
na soleira da porta
esperei por ela desde a primeira
estrela
debruçada na janela, a vê-la
cansada, chegar quase morta.

trouxe-me as emoções
do costume
que me enternecem,
lembrando tempo das ilusões
como magoar-me quisessem

vi-me criança a crescer
com sonhos pendurados
na lua
até o dia nascer

sonhos que ficaram 
por lá sem me aperceber
nas asas dum tentilhão,
que hoje ainda canta
na minha solidão

e a noite demora-se
na minha cabeça
até as acácias darem flor,
no silêncio a saudade
a curar minha dor!
sempre sentada na soleira 
da porta
a cada dia dói mais
a saudade, e eu quase morta

neste poema sem poesia
falhei como criadora
hoje em mim a nostalgia
porque a saudade foi embora

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domingo, 10 de agosto de 2025

duelo...

 

meu esquecimento está
num duelo
sem saber se esquecer o passado ou
o futuro
passado, poderá esquecê-lo
que é remota luz e já escapa
é esta a realidade!
ou o que há-de vir,
- que se prevê duro
e de saudade 

por um instante sinto o latejar
do tempo
vejo a solidão das árvores
tão igual à minha,
minhas visões cada vez mais quebradas
e a vida sem caminho,
- pouco caminha!

nasci no meu próprio abraço
trouxe comigo a luz dum sonho
confio à linha da mão meu passo
decifro nela o viver e o morrer

e aceito a dor da saudade que me
percorre  a pele
fadário que é viver de veneno e mel
faz já parte de mim e eu a ignoro

minha memória é um caudal 
de lembranças,
onde sonhos se vestem de plumagem
neles brincam crianças
e uma delas, sempre é minha imagem.

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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

nas horas de silêncio...



que mistério é este
do acontecimento que me levará?
eu me pergunto porquê as flores
têm de murchar,
- tão pouco tempo durar

e o tempo as esquecerá!

atordoado meu discurso
porque sou louca varrida
vejo o fim do percurso
e vivo abraçada à vida

meus olhos pingam saudades
do que ainda está por vir
o que passou, passou
a vida ainda pra mim inventa
e assim me tenta
no sonho caminhar.

de onde me vêm estas perguntas
meu coração impaciente
quanto mais da vida me afasto
mais minha alma fica ausente.

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para não rimar com a morte...



das noites sou refém
conto as horas, 
mais além pela madrugada
vem a saudade de alguém
que o destino me trouxe à sorte

escalo o verso
para não rimar com a morte
que é triste e sombria
e vaga pelo meu dia, a dia!

há uma voz em mim sempre em silêncio
frágil como a vida que me resta

quando olho as rugas da minha testa
linhas com sonhos à mistura
descobrem minha fragilidade
veladas de saudade

este poema ancora nele a solidão
mas com ele não me sinto só!

é como um deserto árduo
- sem água nem pão!
onde um dia o Poeta vira pó.

natalia nuno



recordações acordadas...



noites solitárias, de sonhos povoadas
sonhos que não acabam, eternos
noites em que não quero dormir
com as recordações acordadas

guardo na lembrança a tua imagem
desperta em minha mente
nas sobras da memória

na solidão das tardes onde ainda 
me sinto gente 
ao lembrar nossa história

tantos anos se foram
sangra a saudade no meu peito
as imagens habitam no palpitar
do coração,
em horas de solidão.

já não sou a ave livre como o vento
é antiga minha linguagem,
nostálgica minha lembrança
tenho a idade do tempo da criança 
que ainda habita em mim
hoje com um desencanto sem fim.

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as palavras já me abandonam...

 

onde os pequenos instantes?

o riso, o amor, as sensações
não posso fugir, deixá-los distantes
agora q' me habitam as confusões

os olhos choram sem saber
porquê,
o rosto com expressão de enforcado
pra quê, porque choram porquê?
por sonhos perdidos,
tão perdidos, mesmo que, perto de mim
terem ficado

molhando o peito o pranto, sempre
o pranto
desce até à alma, à profundidade
ao encontro de todos meus sentidos
até 
tropeçar deixando-me na saudade

preciso dum abraço
duma blusa colorida

perder-me entre sonhos e realidade
trazer o brilho nos olhos
pois viver só de saudade
tornou-se lugar incerto, quero vida
sentir do coração a batida forte
já que ronda a qualquer hora a morte

as palavras já me abandonam
e assim vou sucumbindo 
trago na memória, inventada, 
sonhada, uma outra caminhada
vou seguir, sorrir, vou prosseguindo.

natalia nuno

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

sonhos que se enovelam...



avisto as ondas do centeio
dançando ao vento
com arrebatada sensualidade
numa felicidade que incendeia
a vida

o gotejar da fonte,
como doce cansaço,
gotejando a compasso
com a vida me reconcilia,
adormecida na almofada
na fronteira da noite o dia,
aspiro pela madrugada!

em mim um frio fino
atravessa-me a pele,
guardo na memória
as manhãs a saber a fruta
a abelha que colhe o mel
água do rio no açude em luta

magia com sabor a aurora
colho esperança na hora!

- uma nova luz a brilhar!
um voo de gaivotas em ansiedade
sonhos que se enovelam
na minha saudade

vejo-me percorrer o firmamento com o olhar
pelas tardes d' ocres de âmbar
e fogo
navegando nas alturas
 e logo,
toda a terra com dádivas de cores
- e amores!

neste dia que é de Outono
com brisa, trinados e nostalgia
chega a mim como uma profecia

natalia nuno

domingo, 3 de agosto de 2025

a tarde inunda no silêncio...


romper este silêncio
esta incomparável solidão
deixar de sentir do tempo,
o esmagamento,
ouvir o rumor da folhagem
o pensamento
serenar

e à vida retornar!

hoje a vontade cede e precipita-se
como um vendaval,
e cai-me na alma
uma chuva torrencial

vai enchendo meus rios
há séculos esquecidos
encerrados na água,
em ribeiros de desvios,
de sonhos empobrecidos

num recanto solitário dum jardim
emaranhado de sombras

escrevi este poema
só para mim!

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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

depende de quem olha...



o dia nasceu, aos outros igual
sem nenhuma singularidade
não há sinais no céu,
por enquanto nem sol ardente
mas em mim, a mesma saudade

como um parto que se anuncia
assim nasceu o dia
como todos os outros dias,
vai crescendo, 
sem grandes anomalias

os ventos, e o sol, fazem turnos
e eu todo o dia envolvida
na mesma sombra
como se nada tivesse mudado
e o pensamento tivesse congestionado

hoje só traços feitos num papel
sem nenhuma utilidade
tão iguais a tantos outros
onde escrevo minha saudade

e quanto mais este dia igual a tantos
avança,
faço riscos no papel com aberturas
para que as aves se aninhem
e ali criem filhos com ternuras
sem me aperceber que isto não é
poesia,
e assim avança meu dia!

aberturas?
apenas ligeiro relevo
na superfície da folha
não sei se com poesia, ou sem ela
depende de quem olha
enquanto parto num barquinho à vela.

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quinta-feira, 31 de julho de 2025

sem quem entenda nada...

 


 este amor à vida
 é inquietude que me arrasta
 quero amá-la com os cinco sentidos
 mesmo quando de mim se afasta

sou  tarde humana
que se despede do seu
esplendor,
meu riso deixou de ser transparente
trago mãos de mãe cansadas 
que já deram d'amor ardente

tarde, que espelha desassossego
vive num silêncio ensimesmado
num sonho destroçado

queixa-se do futuro sem lá chegar
num jogo de não querer, 
e perceber
que não há como recusar,
estranha mágoa por perder 
esperança
de ar cansado envelhecer

a noite acossa os pensamentos
transforma-os em ruas de ausência
golpeia o sono
e traz a fuga aos dias
a memória ao abandono
e a vida em apagão,
vão-se as alegrias
resta o frio e a solidão.

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quinta-feira, 17 de julho de 2025

a ilusão ousa tocar-me...



por entre meus versos
sou como areia pelo mar engolida
que se vai diluindo,
e assim fugindo luz à vida 

as recordações que em mim
habitaram
também se calaram
estou entre o transe de ser
e não ser nunca mais,
sou apenas um comboio
sem carris e sem sinais

o olhar no espelho
morde-me, 
como um cão com fome
rebelo-me e gritarei
até esquecer meu nome

no meu sangue navegam velas
com a vertigem dos ventos
levam sonhos às estrelas
e aos braços da lua meus lamentos

estendo a minha mão
desperto, abro o olhar,
- e a vida não passa de ilusão!
feita de sonhos, sonhos cúmplices

até meu coração, o peito pisa
ulula o vento por perto
como a dizer que me avisa
que a vida sem sonho é deserto.

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quinta-feira, 10 de julho de 2025

para quê importar-me com a sorte dos meu poemas?



vivo nas margens da escrita
com a chama dum frio que não abala
e um inventário de esperanças,
logo a saudade vem comigo à fala

a vida é uma aventura excessiva
reinvento-me nesse labirinto
que é viver,  e sentir-me viva
nutrindo-me de melancolia
para sobreviver

rememoro poemas, os mais intensos,
ou ali ao acaso
onde a leitura me faz tremer,
o tempo já os vai desvanecendo
- prontos a morrer

desprotegidos, nada justifica
a sua existência
nada os vivifica, ficam escuros
como o fundo duma mina
e nele abafam as lembranças
de menina

chega do silêncio o fastio
os olhos leem até ao esgotamento
abrem-se ao vazio,
com um frio que corta!
- os sonhos tocam ao de leve,
inquieta-me esta mudez,
e o esquecimento
parece, que a vida é coisa morta

para quê importar-me
- com a sorte
dos meus poemas?

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segunda-feira, 7 de julho de 2025

o tempo que me desafia...



entre a pedra e a urze
sou semente,
o orvalho veste-me de doçura
e eu ferida, inocente
fico sem vida, presente, nem futura

a escrita é o pulsar
que me contêm,
e se me quiser dispôr a perecer
não contará a ninguém

elevo a nostalgia 
à casa dos meus versos,
será cinzento meu abandono
deixar-me-ei tacteando entre sombras
e uma inaudível melodia

deixo mais um poema inquietante
resta-me esta última estação
o espelho mostra o rosto que não encontro
acaba rasgando-me o coração

o tempo pôs a sombra no meu rosto
para me ir enclausurando
com estranha obstinação
o tempo todo me olhando

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quinta-feira, 3 de julho de 2025

silenciosa passagem...



com o tempo tudo se tornou
saudade
e meu coração é grato
por tanta serenidade,
canto à vida com gratidão

na silenciosa passagem,
como a água dum ribeiro
sigo caminho, levo no rosto,
da madrugada a aragem

mudei ideias e sentimentos
choro até já sem voz,
na noite eternamente surda,
fica meu pensamento veloz
na angustia que a vida
lhe impõe.

o tempo e a incerteza
provocam-me fragilidade
quero seguir com firmeza
e, esquecer, a cruel verdade

uma névoa já me confunde
os passos,
a memória em esquecimento
sem ela vem o nada
quase absoluto vazio
recordações aos pedaços


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na companhia do silêncio...


as palavras cálidas foram
levadas p'lo vento,
num dia nascido sem horizonte
nenhuma ficou,
- lamento!
não há agora saudade que me afronte.

as recordações desperdicei na hora,
ficaram para trás, deixaram
um sabor nostálgico,
já nada me satisfaz.

mesmo que não existam já palavras
o meu céu se ilumina
e isso me basta!
a esperança em mim
veste-se de menina
a tristeza se afasta.

quero que fique de fora
o medo
contemplo serena a vida
e dos momentos absurdos do
meu esquecimento,
- faço segredo!

esqueço o espelho
nu e velho!
que me observa cruel
sorrio-lhe ainda que vencida
aproveito a longevidade
que me ofereceu a vida,
e vou encarando a realidade.


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utopia que me move...

o rumor dos pássaros
anuncia o dia,
correm as águas do rio
olho-as, preencho o vazio
enxergo um dia feliz!

será a minha esperança vã
ou será que foi Deus quem 
assim quis?
que este querer meu
esta minha ousadia
de escrever dia após dia,
fosse utopia
que me move?

ouço sussurrar aos ouvidos
a música das águas me revigora
é saudade de volta
sou feliz nesta hora!

mas o sonho é breve, do nada
a realidade bate-me à porta
e eu sem coragem,
nem viva nem morta!

cansei de caminhar
acabou o ritmo da corrida
caminhei ao sol e à chuva,
e, ainda assim,
cabe que nem uma luva 
a saudade em mim!


natalia nuno
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quarta-feira, 2 de julho de 2025

pensamentos perdidos entre si...



este zumbido que enlouquece
restos da festa que soam na mente
como enxame de abelhas em festim
quando o corpo desfalece
e o coração já não sente
é a aproximação do fim

não deixo que o sonho se extinga
jubilosa, festejo ainda a vida
resignada como rosa desfolhada
mas, com vontade que não finda

há coisas que a gente não esquece
olham-se em silêncio as molduras
enquanto o tempo nos envelhece
fica o coração,
- pássaro de penas escuras

como malmequer
que não resiste ao vento
já o sonho vai caindo 
no esquecimento

-e um apertado medo
arqueja na almofada
chora até de madrugada,
o peito estilhaçado em pedaços
clama p'los teus abraços.

natalianuno


do que já não volta...




entra a noite agressora
despoja-me do sono
e do sonho,
o corpo fria mais frio
em submerso abandono
sombras pavorosas
correm no pensamento
difíceis se fazem as palavras
já não são generosas
nem a meu contento

já o desejo não me pertence
só as recordações dão algum alento
e o coração sente
que já nele houve sol a incendiar

amar?!
hoje é nostálgico o sabor
não há caminhos que ofereçam
um possível regresso
neles se cala o amor.

natalia nuno
rosafogo

meu pensamento inventa...



às vezes regressam os medos
os presságios,
os dias desolados,  segredos,
pensamentos longínquos alcançados
nas sobras perdida
sem esplendor de vida

às vezes rompem meus dias
como cristais
num amplo corredor 
com apertado amor
que me dão sinais
de luz, que me conduzem 
à vida

e sempre o meu pensamento
inventa
que o amor é viva companhia
e tenta
trocar a tristeza  por alegria.

natalia nuno
rosafogo


domingo, 29 de junho de 2025

teimosa nostalgia...

teimosa nostalgia
que nunca me abandona,
é dona, de meu recolhido coração
onde não mora a alegria
e a felicidade já pouco pulsa,
na memória é tarde demais, 
apagou-se o clarão
trago agora o olhar preso à solidão.

há uma luz que se instala
no meu frio,
o teu olhar parecendo atento,
olha-me, também ele vazio!

como água clara da fonte
abraço-te com ternura
tocamos o horizonte,
esquecemos a noite escura
claros os silêncios,
insinuas apenas um sorriso
e é tudo o que preciso!

então a morte não se atreve
deixa-nos a sonhar, é saudade
sem saber se deve ou não deve
pressagiar tempestade,

fica nosso céu cristalino
traz-nos um sol, é saudade
e um alento ressuscitado,
eu ainda menina, tu menino,
num passado
que não quer ser apagado.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 25 de junho de 2025

a intensidade dos momentos...





gosto de ver, sentir, a beleza crua
de olhar o céu de estrelas cravado
e gosto de à noitinha de olhar a rua
e ouvir o miado do gato aluado.
 
nas horas desperdiçadas a dormir
tudo pode desmoronar ali à volta
não quero para mim esse sentir,
quero viver, quero sentir-me solta.

versos a horas mortas, entusiasmada,
versos caem em cascatas sobre o mar
para continuar a minha caminhada
já que a vida é aventura pra durar.

meus olhos são janelas com vitrais
meu andar já contornou a encosta
custa-me a crer, atrás não volta mais
deixarei versos a quem deles gosta

minha humilde origem lembro agora
tantos cheiros e sabores ficaram atrás
um marco importante, é nesta hora,
tanta recordação que a saudade me traz

as águas calmas em que devo partir,
são o ponto alto da minha caminhada
no sangue cantará a brisa que surgir
e chorará a saudade, em mim tatuada.

nos relógios d'outras horas a solidão,
com  pegadas lentas e tão distantes
hoje imagem solitária que dá a ilusão
que fui, vento forte todos os instantes.

natalia nuno




segunda-feira, 23 de junho de 2025

esquecer os espinhos...




meus versos alçam vôo
sobre o cansaço da minha jornada
e vão onde não vou,
partem das minhas mãos
logo p'la alvorada

às vezes olho as últimas estrelas
cicatrizes das dores do universo,
palpitam minhas veias feridas
solto palavras em verso

é preciso florear os caminhos
espreitar por todas as nesgas o céu
esquecer os espinhos

soltar os ais que a vida não gastou
esquecer tudo o que desfraldou

libertar as consoantes e vogais
que ainda flutuam no voo dos dedos,
deixar nas saudades os ais
acalmar os sons dos medos

tudo o que fomos se cruza na mente
e uma lágrima seca, surge de repente
na tíbia memória dos meus olhos
onde a saudade mora

despenham-se versos da imaginação
sem formosura e sem demora
que são apenas rumores
- deste velho coração.


natalia nuno







premonição...






os sonhos não dão trégua
ao pensamento,
sou ainda
aquela que sempre te espera
basta-me a tua carícia
é prazer na minha pele
é cura pró meu desalento

quando o sol se apagar de vez
ficar somente a noite escura,
talvez, 
volte a mim
a minha alma ungida
de frescura!

o viver promete esperança
fugaz a alegria que já foi
a vida rodopia numa dança
com premonição que dói.

natalia nuno
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sutura esquecida...






ao entreabrir a janela
senti a brisa desfraldando
as asas duma mariposa amarela
era sonho, 
um jardim de malvas
e ao acordar agigantou-se
pronta a melancolia,
mais outro dia, 
jogo de memórias salvas


na rua tantos seres, tanto mundo vivo
meu rosto junto ao vidro cativo.

cala-se agora o vento
e o silêncio me devora
na imobilidade deixo que ele seja lei
no pensamento, 
olho o horizonte nebuloso
é a morte, é a vida, já nem eu sei,
e ouço os gritos da chuva nos vidros
que aos meus ouvidos, 
são como latidos.

sinto no âmago o frio deste dia
o sonho da mariposa amarela
ainda em mim a melancolia,
eu pegada na janela
na fronteira, morte e vida, 
ferida, com sutura esquecida.

natalia nuno






maldito tempo



maldito tempo
que até a ilusão me cobra
e eu sonhando com searas douradas
que do Senhor são obra
p'la mão do homem cuidadas.

não prendas minha liberdade,
tempo que me segues os passos,
deixa-me tempo pra ter saudade
das lembranças quase esquecidas,
das ideias foragidas,
não me prendas a liberdade.

deixa-me os sonhos vestidos
de luar,
quero mastigar o trigo
de pés descalços andar,
ficar para sempre menina
ser fogo, ser brisa, corpo silvestre
menina franzina.

não sangres mais meu coração
não... não fiques longe, nem perto
que eu contigo não acerto.

quero comer pão de ló
despetalar malmequeres
estar ao colo de minha avó
deixa-me só, se puderes!

não me prendas a liberdade
prende-me somente à vida
tempo que eu levo de saudade
saudade nem sei bem de quê,
nem quem sou na realidade
por que me segues... porquê?!

natalia nuno
rosafogo




quinta-feira, 19 de junho de 2025

os olhos do meu esquecimento




cai uma chuva de sílabas brancas
silencia o outono,
asfixiam as pétalas das rosas
o vento veste-se de folhas negras
é a loucura do instante 
já não ressurge o sol brilhante

já as palavras não me bastam
levo uma longa desmemória
neste mundo de luas e marés
que avisam os meus sentidos
e contam minha história

meu corpo é de barro
sua existência despenha-se 
enegrecida
apanhou-me desprevenida,
e aos poucos
leva-me a vida

diária é a condenação
a chuva vai ceifando o sol
do crepúsculo ao arrebol,
foram-se os bandos de pássaros azuis
do meu coração, levaram-me a alma
a ansiedade ficou, e não acalma

precipitadas nuvens caem em choro
sobre as árvores, que alargam os braços,
- lentos são meus passos!
os pensamentos atravessam muros
o meu horizonte é feito de fuga
e de vitória a saudade, é
asa, que me oferece um pouco
da perdida memória.

solitários ficam os olhos
do meu esquecimento
contemplo o céu, agradeço
mais um dia,
o outono já silencia

natala nuno
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fogo morno...



sou prisioneira em meus exílios
de solidão
quando escapo, regresso a ti,
dás-me a mão,
sinto o fogo da felicidade
a vida desperta de novo
e uma estranha luz me envolve,
e me comovo,
uma carícia de ondas
- chega-me ao rosto!

perdi-me entre os sonhos
ou a vida inteira se consumiu?
tentam-me os dias estas incertezas

mentem-me as noites e num instante
rodeia-me a melancolia
que me deixa
numa alquebrada nostalgia.

nos teus olhos o calor do sol-posto
fogo morno, entrega de magia
serena o coração, e no rosto,
um sentimento firme com intensidade
- amor, paixão,
porque me és saudade!

amámos livremente,
cuidámos deste amor com esperança
e obstinadamente!
na mais serena felicidade
apenas queremos tranquilidade

 - no envelhecer que nos traz saudade.

natalia nuno
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terça-feira, 17 de junho de 2025

os olhos das minhas horas...




dentro dos olhos das minhas horas
há promessas por cumprir
sonhos por realizar
memórias atadas
silêncios,
e sombras do meu sentir

o tempo transbordou
e a saudade aumentou,
o vazio devorou os sonhos
derramou o amor e sua quimera

voltar à juventude quem dera
à promessa dum voo sem fim
que fugiu de mim!

resta a memória extraviada
onde não há mais sóis
apenas um silêncio errante,
na lezíria dos meus sonhos
onde havia girassóis,
- livres e embelezados!

são agora as velhas palavras
a lembrar o aroma da antiga
inocência
e os sonhos jamais realizados.

natalia nuno
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domingo, 15 de junho de 2025

cinco tostões...memórias


uma das melhores memórias, 
são as idas à biblioteca
onde ia para o tempo entreter
velhos livros lia, alguns não
próprios para a idade, 
sem recomendação, 
era o passatempo, uns  leves
outros pesados,
alguns ainda lembrados
retidos na memória e no coração
com saudade!

como ler era bom!
lembro o Conde de Monte Cristo
e lembro o Papillon

custava o aluguer de cada um
cinquenta centavos  «cinco tostões»
lidos à luz do candeeiro
enquanto o sono não era pego
era o tempo das ilusões...

era feliz assim,
não descansava enquanto
não lhes via o fim.

sossegadamente,
 horas seguidas lia
e o céu era meu,
e assim o sonho cresceu,
e a inquietude me consumia
a tenacidade enlaçava-me
e hoje faço das palavras aprendidas
Poesia!

surgem poemas de saudade
consumidos, quando recordam
tudo o que amei,
momentos grandiosos vividos
que sempre recordarei!

natalia nuno


o presente, perdido no passado...




hoje vi um rosto triste
como aquele que dá pena ver
com uma ruga taciturna a doer
como o tempo que põe sombra
no arvoredo
este rosto, me deu medo!

hoje espiei esse rosto triste
procurando-o como um cego
a escapar-se ele insiste!
por entre as ramagens o pego

hoje de novo esse rosto triste
para ser precisa é como a noite,
sustenho a respiração, e ele insiste
ser lembrança na escuridão

hoje vou esquecer o rosto triste
o silêncio murmura por perto,
destino sem prazo ainda existe
quero merecer de Deus,
- um caminho certo.

natalia nuno







Poema Marés de Natália Nuno (privilégio)

privilégio...

 https://youtu.be/WXUDFixqE2c

Este menino adora Poesia e é fã da minha. já é a segunda vez que me envia um vídeo com a leitura dum poema meu, sou pois premiada com mais esta homenagem com o Francisco lendo o Poema «MARÉS», com o qual iniciei a partilha no LUSOPOEMAS. Embora não o conhecendo pessoalmente, agradeço-lhe o carinho com que lê, grande recitador, sinto-me uma privilegiada, obrigada.

natalia nuno



domingo, 8 de junho de 2025

olhos selados no ódio..




enche-se de inquietação
o coração,
entre meus ouvidos o som 
da guerra
e do choro, que deixa um fogo
preciso na minha escrita
tudo ela devora
- guerra maldita!

destino e sua impiedade,
onde habitaram quimeras
a dor agora não sara
já não há primaveras,
e como um tear que não pára
chegam notícias gritantes
e morre-se a todos os instantes

olhos selados no ódio
surgem de suas entranhas,
injustiças tamanhas
atormentando um mar de gente

com avidez rancorosa
e uma teimosia indiferente

não há um sonho eminente
a paz não encontra retorno
há morte e o fumo embacia
o poente

quem dera que cada homem
estendesse uma ponte
e que o amor fosse a fonte
que a todos a sede saciasse

natalia nuno

quarta-feira, 28 de maio de 2025

perguntas que a mim faço



às vezes encontro respostas
que queria ignorar
a perguntas que a mim faço
ao olhar o rosto,
morto de cansaço

desencadeia-se um nevão
na alma e no coração
as lembranças também fogem
ausentam-se aos dedos de solidão,
fico cativa, como a que não
está morta nem viva!

um sopro de cinza permanente
é a sombra da recordação
que o coração sente,
a saudade dos trinados
das promessas e ardores
dos amores,
desesperados, e desencontrados

mansas lágrimas pelo perdido,
crescem nos olhos como formigas
tantos anos ter vivido!
trago o rosto enrugado
memórias consumidas
de tanto labor,
- tantas fadigas.

natalia nuno
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domingo, 25 de maio de 2025

pequeno poema...




piso a terra há tantos anos
sou mãe de tantas brisas
apesar dos enganos
ainda acredito no porvir
não tenho como fugir

a vida me dá tão pouco
que até de amar já me apouco

nada de bem vem pela frente
as mãos já estremecem,
às emoções sou indiferente
as ideias empobrecem

minha loucura desencadeia
toca suavemente a alegria
canta-me um sonho
a somar à minha idade
a saudade de mais um dia

saudade de travo amargo
lembro assim deste jeito
aquele abraço apertado
que me deste

a dor antiga no peito
à despedida,
 - palpitação, a chama
que só atravessa o coração
de quem ama.

natalia nuno