quinta-feira, 21 de agosto de 2025

o verso...


escrevo este verso
faz de conta que não sou eu
há coisas que a gente não perdoa
e ele é filho,
- que não me reconheceu!

foi à vida
sem despedida,
vou aguentar quanto puder
vou deixá-lo carpir,
e quando tempo houver
talvez interrompa o poema
para o  verso ouvir

ele é meu por direito
é a minha face no espelho
fala de saudade e nostalgia
e tal como eu está velho!

veste a minha pele 
como outros tantos
há os que são de mel,
e os outros de desencantos

são filhos na saudade parados
no silêncio, paridos sem poesia,
porém ansiosos que eu os liberte
um dia.
- como velhos achados!

natalia nuno
pinterest





terça-feira, 19 de agosto de 2025

poema dum dia adverso...


a minha poesia
tem dias
que me quer bem, 
me alenta, me acalenta
como nada, nem ninguém

noutros faz da vida barca
ao cais encostada
de remos parados e quilha
quebrada
ninguém mais a olha,
vem uma onda e a molha!
deixa-a de saudade encharcada

uma nuvem cinzenta
gaivotas, devotas
a fazer de guarda,

às vezes aparenta
que vai de vento em pôpa
e ao chegar ao fim 
a morte não a poupa!
..................................

a poesia me quebranta
onde a dor mais me dói
me põe frente ao abismo
mas o poema é meu herói

continuo o jogo
do gato e do rato
estarei presente
até, ao último acto.

natalia nuno
imagem pinterest



domingo, 17 de agosto de 2025

a utopia que me leva...




hoje deito o poema fora
quero a noite sem hora
não quero nada que me doa
serei ave que voa
quero-me viva
que nada me retenha

quero sentir-me activa
quero ser alma da saudade
e vida da alegria
ter a bondade que me adoce
o coração, e não atormente como hoje
a poesia

poema criado imperfeito
ora me despe, ora floresce
é jogo para a morte iludir
um ardil que sempre cresce
quando a noite está pra vir

poema serve para tudo ou
para nada
que de nada me serve
e nem me fala da saudade
como se atreve?

deito fora, sem idade nem data
olho-o com altivo desdém
não será memória pra ninguém

sonâmbulo não acordará
nem sabe quantos anos andará
foi poema com quem cruzei
que me fez promessas vãs
nasceu fora do meu regaço
atormentou minhas manhãs

na tentativa do meu abraço
como se me importasse o tema
se o poema,
- não me fala de saudade!

natalia nuno
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à procura de mim...



o sonho adormeceu
durou tão pouco
ficou remoto, não me aqueceu

meu tempo é limitado
hoje meu sorriso se fechou
fez-se silêncio
ficou o vento pendurado
nas janelas, debruço-me nelas
à procura de mim

a memória acena-me distâncias
quando chorava no berço 
minha avó por perto rezando o terço
lembro ainda a ladainha


sinto que sou uma andorinha
que emigrou para longe
nesta vida tão excessiva
cujo sopro descaminha

com que prazer o tempo
me esmaga!
apagando mais um pouco
a última miragem
fico à espera que o espelho traga
nem que seja uma pálida imagem

um dia perco o brio
que me resta,
e rompo a negação
não quero mais que meus olhos
molhados, 
vejam triste meu coração.

natalia nuno
imagem pinterest