sábado, 13 de setembro de 2025

coisas de poeta...




ouço a chuva a murmurar uma ladainha, 
enquanto vai humedecendo as folhas caídas pelo chão, 
nem uma estrela visível no céu, e eu, 
aqui surda e muda e esta vida que já não muda... 

cada gota de chuva cai no meu coração,
- poema que escrevo, fica tanto por dizer
- e a noite a tecer sonhos, 
não sei se devo ou não devo, 
colocar o amor mais perto de mim

- e pôr fim à dor da solidão!
 já que meu coração
 é folha caída, 
que me ampara na descida...

natália nuno
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como rio em busca do seu leito...




a minha infância ainda me sabe a pão
saído do forno de lenha
e estes olhos tristes passam por ela
em solidão
como rio em busca do seu leito
tento reunir memórias e a saudade
me embrenha

lembro o caldo verde da horta
no forno as petingas com azeite
o jogo da malha, e chegar a casa
quase morta

morta de cansaço do banho no rio
da cadeirinha ao lado da lareira
dos dias de chuva e de frio
e a avó rezando ali à beira

fervia a cevada nas brasas
ouvia -se no céu o ribombar
da tempestade invernosa,
os pássaros paravam de bater as asas
logo depois o raiar do sol
e as bruxas a amassar pão mole

o arco íris mostrava-se orgulhoso
com tantas cores,
enquanto eu sonhava despertando
para os amores.

pálido papel molhado
espelhos mortos, casa esquecida
pensamento esfarrapado
a memória desses dias já é quase nada
pela desmemória mordida
deixo-me no refúgio da madrugada

aonde ir? aonde ir?!
se as palavras já lá não vão
não sei por quanto tempo as vou seguir,
já caio na solidão!

neste comprido corredor
cada  vez mais estreito
lembro com dor
as fendas do meu quarto
golpeado pelas imensas noites do tempo
deixo as lembranças... e parto.

natalia nuno
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domingo, 7 de setembro de 2025

desejo...

 


hoje não se ouvem os pássaros
 e há árvores que choram,
 enquanto eu,
 desenrolo imagens no pensamento
 como se as voltasse a viver e,

 decido amar-te de novo
 como se fosse a primeira vez...

natalia nuno
imagem pinterest

 

tão pouco...




tão pouco, me consola nesta hora
não posso transformar palavras
em sonhos
calo o desencanto por agora
o que assoma ao pensamento
murchando meus sentimentos

enquanto a vida vai semeando ventos
fazendo ecos do que já não existe,
no coração, nem nos pensamentos,
onde só a saudade persiste!

reclamo da vida um pouco
de dignidade
tenho dúvidas, que não mereço,
uma desolação em absoluto
cedo à terra dos sonhos, esqueço

o porquê das sombras e da nostalgia
e o desconsolo desta vida vazia,
cerca-me a frieza dos sentidos
e calo as palavras em 
em papéis pelos anos corroídos.

bailam nas janelas dos olhos
as cortinas
surge a nortada, 
caindo, já não sirvo para nada
ai vida, já nada me ensinas!

o porvir é agora amarela gargalha.
.
natalia nuno
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rabiscos....


 amo a luz

quando o sol dorme,

adormece o coração,

amadurece a escuridão

e, eu que amo a luz,

acalento-me na esperança duma nova madrugada

logo a minha alma respira

e o coração bate

no desejo de ser amada...


natalia nuno

imagens pinterest

rabiscos...

 



sopra um vento forte

entre o começo e o fim
entre a vida e a morte
já não lhe ofereço resistência

vai-me levando assim.


- tropeço por fim!


passam por mim pássaros chilreantes

a alegrar meu coração sonhador

e não perdedor,

por alguns instantes...

 natalianuno

rasbiscos...



abro as gavetas às escondidas, meus dedos leves dedilham memórias, e enternecida recolho palavras debaixo da língua cheias de saudades de tudo que só eu sei...saudades tão grandes que não cabem no peito, respiro fundo e sinto o coração a bater, cada lembrança faz ninho em meus olhos e cura-me da solidão... vim voando desde a Primavera, até que o Inverno me tocou, e poisei no chão da desilusão, morreu-me o tempo dos sonhos, despi-me de papoilas, vesti violetas, esfacelei o riso e agasalhei a saudade que é na verdade a giesta que desembacia a poeira do meu dia...

natalia nuno


 Obrigada a todos, estes pedacinhos de escrita, são poemas escritos pelo caminho que ficaram apenas no papel, de quando em quando encontro um ou outro e vou passando para um blog meu «palpável silêncio», que nunca dei a conhecer e onde todos os poemas são assim pequenas formas de querer dizer muito. Bjs



rabiscos...

 



(rascunhos)

a lucidez sempre nos interroga... porquê esse vôo até ao obscuro, porquê esse abismo inesperado, essa inquietude que é fogo, esse contar de rugas novas... deixa que te acompanhe a formosura do vento, o correr das fontes azuis, a verdade dos sonhos, despoja tudo o que é dor e deixa-te levar num passo doce, com os olhos duma criança...
natalia nuno

rasbicos...




sem cura...
por entre a intermitência do caminho,
sento-me a pensar em ti
com carinho,
o vento bate na janela da insónia
a única coisa que não entendo
é este silencioso grito que me vai na alma
esta loucura, este amor frenético
sem cura...
natalianuno
(rabiscos)