segunda-feira, 14 de abril de 2025

a emoção do caminho


anda no ar o aroma a rosmaninho
mas a casa está desabitada,
já não há flores no caminho
é noite e a luz apagada

a nostalgia rodeia
os móveis, silêncio,
junto à chaminé
a avó fazendo meia
no ar o aroma a café
a sombra da ramagem na janela
a candeia pendurada bruxuleia 
- a lua espreita,
enquanto a mãe serve a ceia.


vivendo entre a minha gente
sentindo em jorros
a felicidade do sangue 
o riso e lágrimas, a saudade 
uma carta de recordações
um sonho, todo ele de ilusões

partiram!
- o pai já não faz o baloiço
a avó já não faz meia
a mãe não põe a mesa
a candeia não bruxuleia
e se estou viva, não tenho certeza

a aldeia em mãos estranhas
a primavera branca de flor
de laranjeira
ah que saudades tamanhas
de os ter à minha beira
- ditosas presenças
em minha vida.

tremente a noite de frio
e lonjura
a memória enche-me os olhos
de ternura,
sulcam-me o rosto rugas de saudade
prossegue a emoção
nesta minha idade, sem idade

natalia nuno


pensamentos desatados...



procuro por entre as sombras
que são aliadas do meu desalento,
um rumo,
para não cair no desconhecido
no nada, sem sentido

não posso enterrar o momento
que ainda me pertence
nem o consolo que ainda me conforta
entorpecida a vida, 
ainda a morte não vence
mas, o desconsolo por vezes 
me põe morta

tudo o que a vida me deu
com o tempo foi-se perdendo
ou, quase tudo se perdeu!
ficou por detrás dum véu de bruma
como um sonho distante, 
feito espuma,
meta impossível de alcançar

procuro claridade onde pousar
com um escondido resto de esperança
vou até ao esquecimento desbravar
os sonhos, que ainda por mim
parecem esperar.

natalia nuno








que faria eu sem o sonho?...

por detrás dos vidros molhados
ouve-se o eco do vento
e a solidão que a nada se compara
o bulir gritante da folhagem
em lamento
e a minha muda imagem

violenta-me o corpo sem sono
a chuva torrencial cai
meus sonhos empobrecidos
meu rosto frio, museu,
da garganta nem um ai!

faço das  palavras meu sonho,
um sonhar de juventude
abro a mente à claridade
depressa existo
- entre a tristeza
e a felicidade.

natalía nuno