segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

se a primavera esperar...



solidão sem sentido,
se abeira de mim
a que já me rendi.
longos silêncios,
tempos enclausurados
onde a vida se vai diluindo
junto a ti...

deixo-me ir numa lembrança
mas hei-de voltar!
quando o esquecimento abrir
passagem, depois do inverno
se a primavera por mim esperar

e em cada tempo hei-de reconhecer
no latejar do coração
se valerá a pena viver...ou não!

vazia a minha mão é nada
já não escreve como outrora
mas continua aqui, pelo sol acariciada,
trémula, como a flor dos laranjais ao vento,
vento que uiva lamento que se espalha
p'los canaviais.

nesta hora,
de solidão, aos versos vazios
sem palavras felizes e sem solução,
me rendo sem condição.

ignoro donde vem esta solidão
se do dia que está a morrer
ou da rosa que não chegou a nascer
aperta-se o coração
o dia não vai regressar
a noite está p'ra chegar
vai decidir do meu sono
resta-me a esperança para não
me deixar naufragar no abandono,
desta lembrança saudosa.

no céu...
uma constelação sombria
o dia sem esplendor,
mas amanhã é outro dia.
e eu....falar-te-ei de d'amor.
e da memória duma vida em seu ar distante
onde foste namorado, marido e amante.


natalia nuno
rosafogo

passou mais um aniversário de casamento (49) anos para relembrar...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

o sonho que me comanda...


grande é a ânsia que me vem de ti
e neste meu desmesurado coração
existe o fogo e a magia  que vivi
que é rio de amor, hoje recordação

procuro-te, num espaço fechado
e basta teu olhar para me alegrar
invento sonho com final dourado
d''amor, sem limites a me entregar

o tempo foi passando deixou ferida
peço agora à esperança mais vida
calar o tempo onde o rosto obscureci

esquecer a  inquietação do outono
deter a alegria, e despertar do sono
e no final o delírio que já conheci.

natalia nuno
rosafogo


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

vôo transparente...



a simples lembrança duma festa
um arco-íris que penetra na memória
não é só data nem história
é a grinalda de rosas caída do ramo
o coração exultando de paixão
e sílabas soletrando...te amo, te amo.

a alegria natural da juventude
no dia um resplendor que canta
nas nuvens uma gaivota que surge
do sonho brota uma música que encanta
foram horas que abraçámos
que abrem ainda com suas chaves
os sonhos que sonhámos...

amar-te é então lembrança
é guardar em mim o cheiro do alecrim
é ser parte de ti, voar no teu sangue
num contínuo pulsar, é ser teu rio,
teu mar, tua segunda pele
a tua manhã de sol ofegante
o teu diamante ...

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

velha lenda...



faço agora o caminho de regresso
deito um último olhar de despedida
faço o caminho de volta... já tropeço
mas peço à morte o resgate p'la vida

uma quantia avultada despenderia
como se vida fosse jóia verdadeira
só com punhado de trocados viveria
iniciava caminho novo... aventureira!

mas meu caminho... é peregrinação
não sei se por destino ou por quimera
trago no rosto ainda a mesma expressão.

este rosto por sentimentos tão marcado
o tempo, pintor mágico assim quisera
fazer dele, um retrato único e inacabado.

natalia nuno
rosafogo








barco à vela...



a existência é agora um vale solarengo
abrigado do vento, onde o verde
ainda verdeja
no tempo que resta sinto
que a vida ainda me beija.
sei-me espiada pela morte
sorrio, e deixo-me à sorte
sou agora uma expectadora
se o meu barco já não sai!?
que importa? sou ainda sonhadora...
já se pôs em mim o sol
mas ainda é doce o escuro
nem riqueza, nem pobreza
nem ambição desmedida procuro,
assim caminho na vida.

levo este poema  a  meio
sinto-me como um artífice maior
digo-o sem qualquer receio
poesia é meu bem melhor

sinto o mundo à minha volta
sou tentada a acreditar
que um dia...a felicidade se solta
e fico a discorrer, que a paz há-de vingar!
meu pensamento é como um cata-vento,
em abono da verdade vou colhendo frutos
da memória, outros da imaginação
sem dar descanso ao coração...
ora triste ora dourado meu olhar
cansado ainda verdeja
volta e meia uma lágrima o beija.
a vida é a mesma de sempre
só o mundo mudou, mas
meus sonhos são de outra era
à vida chegou o outono
mas ao poema a primavera.

natalia nuno
rosafogo










segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

tão de mim afastada...



sinto-me na garganta do tempo
onde luto para sobreviver
a descer, a descer
sem que entenda nada,
a realidade abandona-me
é agora a confusão, a incerteza instalada
tão perto, tão longe
tão de mim afastada
tão perdida nesta prisão
como entrei? quem me pegou p'la mão?
sinto o esmagamento
e a sombra que emita todo meu movimento
silêncio e esquecimento...

estou na rua dos anos
perco-me no vazio onde a luz não
existe, onde a solidão insiste
onde o tempo não me deu tempo
deixando-me das coisas esquecida
sem ternura e sem sossego
e à vida...sem apego!
o meu medo molha a almofada
e sem que entenda nada
sinto uma mão de bondade
e uma voz que me fala da saudade,
fico como uma ave surpreendida
num pequeno vôo, à minha medida.

natalia nuno
rosafogo


verdes sonhos...do meu dia a dia



hoje é a solidão
a fazer-se em mim tempestade
e o sentimento que me abala,
a «saudade»
a perseguir-me até à morte
a deixar-me sem norte
o outono que não me larga a porta
por dá cá aquela palha
rio ou choro
não há poema que me valha.

contra esta corrida desenfreada
que é a vida... apreensiva,
trago a alma de luto vestida.

hoje tudo me é indiferente
como se nada tivesse de meu
apenas a solidão da alma,
faço olhos grossos à gente
que passa por mim,
e deixo que rajadas de vento
me levem o pensamento.

hoje ninguém é capaz de entender
porque viajo no tempo,
o desassossego que é ver
meus olhos que arrasam por tudo e
por nada,
o esconder o rosto entre as mãos
as premonições (que adivinho)
as mudanças que em mim
fazem escalada
arrancando-me sorrisos derradeiros
e tudo o que mais queria...
tudo contra mim se alia...
- foram-se
- verdes sonhos do meu dia a dia.

natalia nuno
rosafogo

entre lágrimas e soluços...





parte o comboio da estação
logo outro vem na direcção
contrária.
há olhos que se interrogam
beijos que não se dão
lenços que se agitam no ar
preces para que haja volta
o apito do comboio se solta
partir é o destino...
quem parte leva saudade
tem pela frente a incerteza,
quem fica pede ao Divino
com o peito apertado tal é a dureza
a boca calada, os sonhos adiados
afectos manifestados
tantas as emoções resultantes
de corações amantes...

já tanto faz...como a vida é falaz.

quem chega, traz novidade
mata saudade... e olha, que paz!
tantos sentimentos à chegada
lágrimas felizes acodem ao rosto
ao longe o sol no poente é posto
e o que se sente?!
Um rio, que não parou de correr
um coração a palpitar
partir, chegar, passado e presente
viver e morrer...

natalia nuno
rosafogo





domingo, 13 de dezembro de 2015

FELIZ NATAL...




O que tenho feito?
Tenho escrito alguma poesia, tentado atingir alguma perfeição na criação, reproduzir nela alguma emoção, enriquecê-la de imagens poéticas, em torno do tema quase sempre a saudade e por vezes o amor, com entusiasmo, embora já não tenha vinte anos. A poesia é um estado de alma sensível a que nos apegamos como se fosse um sonho, com ela conseguimos derrubar a solidão, também com ela construímos castelos no ar, sofremos a ironia e o desdém de alguns leitores e exaltamos com o apreço de outros. Por isso a vou espalhando aqui e ali, neste mundo que é a internet, e por insignificante que ela pareça, tem a sua importância, umas vezes nada contra a corrente, outras a favor e assim vai voando com bons e maus ventos. E um amor assim maternal, faz-me andar por aqui p'la Internet deixando-a (poesia) e a deixar-me fascinar com a de alguns amigos Poetas. Já todos por aqui me são familiares, por isso também tenho vindo a desejar a todos os amigos Boas Festas,  e um Bom Ano... esperançada que nos sítios onde partilho continuem divulgando a poesia, criando ambiente de cultura e amizade entre todos e continuem sendo  de paz e liberdade.

natalia nuno 
rosafogo

apenas cabe o amor...




Toda a vez que o sonho aflora
luminoso, logo se transforma
em pardo a qualquer hora.
Depois é fome, é choro, é raiva
é tudo o que o Poeta  sonha
e projecta
e é no  poema
que coloca tudo o que acha que nele caiba.
Insondável... tudo lhe vem da
alma, mas não tem certeza
se a beleza das palavras,
vem da sua lucidez ou da sua loucura.
Será lucidez? Ou não, loucura talvez!?
Entrega-se de alma e coração,
esta fascinação não acaba, é a
revelação do seu mundo melhor
onde não há ódio
onde apenas cabe o amor...

a poesia é o eco da sua feliz memória
perpectuando o que mais amou,
ou o grito da desmemória
o mel e o fel, uma taça de cristal
também o sítio mais solitário
o fragor e o fim da festa, caindo na vertical
o espelho da sua face retida
o amor e o desamor

e a esperança pervertida...



natalia nuno
rosafogo

o rosto nas tuas águas...



Volto de novo à margem
Sinto a frescura da água
Ouço o gorgolejar dum fio
lento e melodioso que é de mágoa
e regresso sempre na esperança
dum pouco mais de tempo futuro
para poder vislumbrar o escuro
estrelado da tua noite.
No fundo das tuas águas
meu rosto de ontem
e o verde do meu olhar
serve de musgo lodoso
refrescas minhas pupilas
com teu frescor venturoso

Que importa interrogar alguém
Se já não me conhece ninguém?
Apenas te conheço eu
rio da minha infância
Sinto-me um pássaro voando ao céu.

Deixa que me chegue a ti
que verta uma lágrima de adeus
que relembre tempos que vivi
que sonhe ainda sonhos meus.

Tranquilidade que então sentia
Sonhos de jovem em rebeldia.
No sussurro da tua água corrente
Me sentia gente...

E meu sentimento é de bem estar
Permite que continue a sonhar...

natalia nuno
rosafogo

na fronteira do outono



ali permaneci perante o delírio
do entardecer, da luz a desvanecer
olhei, olhei e só vi loureiros dourados
permaneci no meio do prodígio
que me fazia lembrar instantes perdidos
acariciados de assombro e esperança
dum amor recém nascido.
esquecer-me agora do fogo desse amor
era entrar nos confins da tarde
e ficar sem luz na escuridão
e renunciar ao que sente o coração

estou aqui na fronteira do outono
já não ouço as cigarras como ouvia
nem cheiro giestas com a fragrância ao abandono
já o o vento vibrante nos distancia
do tempo e da dor... penetra nas sombras
das ramas, e eu sei,
sei,que ainda me amas!

como um navio ancorado,
daqui não saio
virão dias de luz, dias de Maio
verei de novo meu sonho incendiado
o dia deslumbrado
o verdor intenso
de novo nos loureiros... e o amor imenso
virá de ti,
e uma luz tatuada de ternura
que me enlaçará em seus braços de frescura.

natalia nuno


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

desilusões...




cerro meus olhos a esta página vazia
o meu coração recolhe a dor da terra
goteja ele densamente amarga agonia
negras visões que o meu olhar encerra

estendo meu silêncio sobre esta linha
só os rouxinóis me cantam na memória
a brancura da página é minha, só minha
e muda fico nela, a recordar m' história

deito a mão à dor vinda da obscuridade
já minhas pupilas incansáveis com os anos
perderam o brilho, são estranha opacidade

enclausuro-me na minha eterna saudade
rostos que não encontro, são desenganos
até que m' chegue o céu com nova verdade 

natalia nuno
rosafogo

uma familiar faleceu, mas uma nova vida na família está prestes a chegar...



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

versos dum poema...



caíram-me as sílabas ao chão
neste outono de morte
um cheiro a frio,
vazio o coração,
na vida que já não existe
apenas o eco dum sonho baldio.

escuto à distância um silêncio
de luto
emudece a minha lembrança
lembrando o colo que me embalava
em criança
hoje tudo morreu, só se ouve o vento
a noite surgiu com côr de cadáver
trazendo a foice na mão
e deixando a vida sem alento
caíram-me as sílabas ao chão.

não sei exactamente o que sinto
sinto, que não regressarei ao calor
do teu olhar
nada mais sei, nada mais quero saber
a morte é difícil de enfrentar.

surge a primeira lágrima de resignação
hoje caíram-me as sílabas ao chão.

natalia nuno

a morte dum familiar é sempre difícil de se entender é dor que não se explica

sábado, 7 de novembro de 2015

troço da viagem...



dias indolentes
neste troço da viagem
as manhãs azedas, frias,
as memórias pesam demasiado
a luz esmorece pouco a pouco
fico suspensa no tempo,
são incontáveis os momentos
de solidão
recordo sentimentos
guardados no coração

afasto-me de mim
na cega ilusão de que
não possuo vida
e assim o tempo vai fazendo
por mim a despedida...

a amargura na bruma fundida,
resta a lembrança de quando
a vida se fazia a quatro braços
com a velocidade sedenta
de quem por amor tudo tenta

medito...
enquanto se ouve o canto
do grilo, nos meus lábios a tranquilidade
mansos são os momentos em que
recordamos...com saudade

natalia nuno
rosafogo

etérea saudade...



Já vejo neve rodeando
 o teu rosto
deu-te a  vida algum desgosto
ou é do peso da idade,
da etérea dor da saudade.
caminhamos de mãos dadas
entristecia quando tu  choravas,
o teu silêncio era silêncio em mim
hoje, teu sorriso partiu
a tua imagem já na minha memória se diluiu
mas une-nos ainda aquele abraço
e é na solidão tranquila
que ainda sigo o teu passo
e o teu olhar é estrela que no meu cintila.

quem rasgou nosso rosto,
quem nos deixou neste outono magoado?
nosso olhar cansado...
sol posto, ouro a derreter
coração sobressaltado
mas enorme é a força de viver.

se o coração não morreu!?
os sonhos também não!
és esplendor que ressurge no meu peito
um grito de furor contra o tempo
ouço a tua voz que se agiganta e me diz
deixa este pranto abrasado de palavras
e sê feliz....


natalia nuno
rosafogo


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

porquê esta saudade...



sinto saudade sem saber de quê
talvez mitos da infância radiantes
mas, nas maçãs do rosto, é que se vê
sulcos, lembrando tristes semblantes

de velhas folhas caídas na terra fria
q' amarguram o rosto na obscuridade
são do tempo a ditadura e hipocrisia
sem saber porquê...  sinto saudade!

range o tempo neste inverno hostil
se soubesse ao menos donde vem,
esta saudade que me deixa febril...

sinto que a vida é uma encruzilhada
a ilusão a maior mentira que ela tem!
e esta saudade q'me aparece pela calada

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

a DEUS nada é impossível



Conversei com a natureza
que estava triste e chorou
falei-lhe da sua eterna beleza
mas em mim não acreditou

Chegou o vento e sem dó
Derrubou tudo com indiferença
Em meus versos fiquei mais só
logo me venceu a descrença...

Também sonhos que sonhei?!
partiram ligeiros em viagem
comovida  neles tropecei
no vazio instante da aragem.

caíram meus gestos de cansaço
devagar a noite em mim encerrou
árvores trazem esperança nos braços
e a manhã de sol sem moleza anunciou
que erguesse os olhos aos céus
sem pedir explicação
nada é impossível a DEUS
que assim fez nascer
o poema em minha mão.

natalia nuno
rosafogo
imag-net
13/03/2009
na aldeia


AMORES QUE TIVE




Lembrar amores que tive
Porque é livre o pensamento
Só quem não amou não vive
Eu vivo a todo o momento!

Lembro horas de paixão
Sem muros e sem fronteiras
O coração dizendo sim,
a mente dizendo não
E em meus olhos duas fogueiras.

Passou o tempo e agora?!
Memória cansada e ausente
Recorda paixões de outrora
Bem vivas!
No coração q' inda as sente.

natalia nuno
rosafogo
aldeia 14/3/2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

a magia das palavras




têm as palavras um poder mágico
sinto-o de forma intensa
é um caminho que leva ao céu
onde me sinto a sós com Deus
no silêncio, na noite estrelada
as estrelas são lembranças
passam na mente em procissão
fazem estremecer meu coração
e as palavras dum tempo sequioso
de afectos, amor e esperança
que hoje trago saudoso...na lembrança.

passam os dias,
nada descortino
a alegria é um ribeiro a secar
um pássaro voando é o destino
as horas são segundos a passar
e o futuro cada vez mais reduzido
mais decadente, mais incerto
trazendo a morte por perto,
mas, poeta quero cantar a vida
as flores do jardim, levantar a esperança,
colher o trigo,
fazer da poesia abrigo
matar a tristeza que há em mim.

há nas palavras para mim um recado
falam-me dum tempo passado
aquele que me afaga
e que o presente esmaga,
recordarei tudo o que soube amar
na magia da palavra que me irá prolongar
para além da vida, para além do tempo
como raio todo o dia alvorecido,
como as aves que sempre voltam
revoando p'los ares de gorgeio recolhido
em vago sonho  saudoso
onde alvas e leves se soltam.

natalia nuno
rosafogo










quinta-feira, 29 de outubro de 2015

poema na noite....



O negro da noite instala-se
enquanto um vazio se vai aproximando
já não consigo suster meu alento
e o tempo devorando, vertendo cinzento
sobre a memória...

encheu-se a minha mente de lembranças
como flechas contra a escuridão
e nasce um poema incorrupto
vai crescendo p'la minha mão

vou sonhando em cada linha
sonho o teu abraço abrupto
ouço o teu passo que se encaminha
e deixa pegada nos meus versos.

e nas linhas que escolho, as palavras que amo
é por ti amor que as escrevo
ao ritmo do mar em rebentação,
onde não falta uma brisa d' amor
que brota e canta do  meu arrebatado
coração...

natalia nuno
rosafogo





quarta-feira, 28 de outubro de 2015

o coração batendo ainda...





Já o sol vai sobre as montanhas
outras vidas o aguardam
deixa saudades tamanhas
leva o calor nas entranhas
tempestades d' amor não tardam.

e lá vamos nesta labuta que é viver
aproveitando de Deus a oferta
deixando à esperança a porta aberta.

levo a marcha dos meus pés por diante
o passado já vai distante
passou a vida num murmúrio
ponho olhos no caminho
e sigo devagarinho
com meu passo já inseguro
e as lágrimas que não chorei
hei-de chorar algum dia!
quando o coração estiver deserto
de alegria, 
e o cobrir a noite escura
lembrarei histórias antigas
e chorarei de ternura
ao lembrar quem me as contou
e que a morte já levou,
e depois do sol posto
com uma lágrima no rosto
olharei uma estrela riscando o céu
de breu será a noite,
amparada numa esquina
a saudade... e eu menina
caminhando, para a eternidade.

natália nuno

terça-feira, 27 de outubro de 2015

sem hora de aviso...




A saudade surge
sem hora de aviso
e deixa em mim aquele jeito distante
acena-me com um sorriso
e eu escuto-a como quem escuta
o mar num búzio,
ouço sua voz enrouquecida
a lembrar-me momentos de despedida
a apertar-me o peito...

tudo ficou para trás, é agora
a saudade cada vez mais esbatida.

Trago um grito na garganta
e a vida vai-se cumprindo,
a saudade hera que me cobre como manta
enorme de comunhão e utopias
tristezas e alegrias, e solidão sem fim
e eu sentindo
o tempo a chegar ao fim...

Na mente uma certa desarrumação,
no coração esta saudade tão fina
a lembrar-me as manhãs floridas
de quando era menina...
coisas pequeninas, a colorir-me
a vida, nesta escadaria cinzenta
neste destino sem prazo
só a saudade me acalenta
e ao meu sonho dá aso...


natalia nuno
rosafogo
Algarve, 11/04/2014




segunda-feira, 26 de outubro de 2015

sonhos d'amor



onde há amor
não há vazio, não há dor, não há frio
há cadências de doce e mel há arrepios de pele
assim a viagem vai correndo o sonho
adoçado de palpitações de sol.

hoje acendi a palavra amor
chovem as nuvens lá fora
choram as glicínias
minha alma chora
mas no rosto ponho um sorriso
e de amar eu preciso.

sigo rente à esperança
sem hesitação,
este amor é uma criança
que recordo com emoção

é agora primavera
estação por mim sonhada
ai quem me dera! quem dera!
fazer-se por mim esperada...
perco-me no cheiro das flores
trago nos olhos cascatas
esqueço a chuva e as dores
sonhos, são de finas pratas.

espreitam-me raios de afagos
as palavras amadurecem
poesia bebo-a em tragos
e as estrelas já amanhecem.

natalia nuno
rosafogo
img.net




domingo, 25 de outubro de 2015

a ver o dia morrer...



Vejo tudo tão distante
já nem lembro da feição
é como abolir da mente
e guardá-la para sempre
no coração.

Nem um sinal de alguém
só a imensidade do mar,
e a saudade que ninguém
quer, só eu posso aceitar.
Mais um ano, mais um dia
vergada ao peso todo.
E os sonhos? Na maioria
quebradas  utopias,
longa espera...
rosários desfiados
para aliviar os dias.

E voltam à minha ideia
os momentos de prazer
olho o mar, sentada na areia
nesta tarde quieta
a ver o dia morrer.

Esquecida da vida,
ouço o canto das ondas
sonhar é uma necessidade
sacode minha melancolia,
e desaperta a minha saudade

despeço-me do mar e da tarde
levo comigo o silêncio inteiro
e o persistente sonho onde
canta a primavera

e no esplendor do amanhã
serei andorinha à espera.

há em mim uma febre mendiga
que embacia minhas pupilas
onde uma lágrima se abriga
e me submerge de esquecimento



natalia nuno
rosafogo

Manta Rota, 12/04/2014





quinta-feira, 22 de outubro de 2015

entre o sonho e a realidade...


clareia o céu
prenúncio do alvorecer
canta o galo, despertando
as sombras da noite com seu clarim
rasga-me as pálpebras cerradas
a mim, e afirma que é dia
dia de romaria, e sem sono
já com a chávena de chá a ferver
me abandono... e tudo vem à imaginação
tudo invade minha privacidade
a mente e o coração
deixando-me na saudade.

lembro a impetuosidade
dos beijos dados
em sonhos guardados
e fico a flutuar com a mente desalinhada
bebo o chá agora morno
e à realidade torno
e do sonho não resta nada...
sinto-me folhinha ao sabor
da tempestade
os olhos são dois postigos iluminados
e na turva memória a ansiedade
de lembrar desse amor
que me deixou saudade.

e o galo cantou
em mais uma madrugada
em mim? nada mudou!
mas eu, sinto-me mudada.

natália nuno
rosafogo


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

escolhi ser assim...






escolhi ser assim,

depois de tantos anos
que passaram por mim,
nada da minha vontade me afasta,
se eu pudesse,
ou tivesse o poder de fazer acontecer,
acabaria com a falsidade
e a crueldade
e os corações rudes tocaria
com amor, gentileza e cortesia.

escolhi ser assim,

talhada de orgulho que não se rende
que avança impetuosa e tenaz
que se perde e afoga na palavra
metade é guerra outra metade é paz
sou a que não entende,
o eco do que já não existe
a que procura dignidade na queda
no pulsar que em salvar-me persiste,

escolhi ser assim,

e o que sobra é por fim
a lágrima persistente
febrilmente estrangulada
e no fundo da memória,
uma chuva ressuscitada
que é felicidade livre
que o coração inunda.

natalia nuno
rosafogo












Muros do esquecimento




já não pousam os pássaros
nesta árvore de ramos nus
nem os sonhos têm encontro
marcado
neste pedaço de vida
aprisionado...sem luz!
só a solidão altiva
ameaça precipitar-se
sobre quem sonhou outrora,
e vem agora sorrateira
enfeitar-lhe o rosto
rasgar-lhe a pele
num amargo fel.

nem que seja só uma réstia
de esperança
há-de habitar-lhe sempre
a mente mais uma lembrança
que irá colhendo... uma a uma
com paixão,
e se um dia ficar sem nenhuma
morrer-lhe-à o coração.
a memória será espelho partido
pássaro solitário, silencioso,
virá o silêncio depois das palavras
será a ausência sobre todas as coisas
ganhas e perdidas,
um sol misterioso,
que se esconde atrás das nuvens,
como vestígios de vivências estremecidas.

natalia nuno
rosafogo




segunda-feira, 19 de outubro de 2015

já nada tenho...



fugiu-me últimamente
não sei porquê,
entreguei-me  à tristeza
esqueci a alegria
a tristeza me retém permanentemente
numa inquietação sombria
ao mesmo tempo numa doce melancolia.
e nesta minha solidão
só os gorgeios são o barulho do meu
silêncio, e os pássaros que cantam
nas franjas dos arvoredos
fazem com que esqueça meus medos.

já não vejo mais nada
nem penso seja no que fôr
a vida tem um gosto amargo
depois de anos vividos
resta do rosto o suor
e da mente os sonhos quase todos
perdidos...

olho as últimas corolas alaranjadas
balanceiam suavemente ao vento
e as folhas secas pisadas
como meu brutal tormento
só as palavras não têm algemas
e entre os vivos têm sempre lugar
enquanto eu prisioneira,
vou escutando meu lento desagregar.

natális nuno




Amanhecer no campo



Dormem ainda as plantas
enquanto a lua resplandece
e desce, sobre a terra desce...
Angustiado o salgueiro chora,
aguarda o alvor, o amanhecer,
a hora de se rever
nas águas do rio que alaga a
margem...
Este rio com coragem
que segue em frente noite e dia
leva pressa no andar
é velha sua valentia
é ardente seu cantar.
Abre-se o dia
passam nuvens nos céus
como é bela a criação de  DEUS!
Acordam os pássaros nos ramos
vão atravessando o espaço
estremece a terra inteira
brilha já o sol na eira
gorjeios ouvem-se nesta manhã
de primavera
perfeição verdadeira
que não se perde com o tempo.

natalia nuno
rosafogo






quero estar contigo




Quero estar contigo
e sentir que estás comigo
na alegria de me amares.
Sentir-me numa bebedeira de chuva
sentir o travo fino da uva
esquecer do céu  trovejares,
fazer a hora durar
o amor perdurar
da memória não perecer.

Que a tua boca fique sedenta
mesmo que o sonho possa quebrar,
teus olhos felizes a gargalhar
e dentro dos meus o sol aceso
perdida nos teus braços
nesta noite infinda
esquecer do tempo o peso
Tempo que nos deixa ser ainda
eu e tu!
Quando nada restar
e se instalar o ruído da solidão
o amor sobreviverá
à morte do coração.

natalia nuno
rosafogo



sábado, 17 de outubro de 2015

madresilvas e alfazemas



a vida desabrida e repentina
a noite cai nas redondezas
virá a lua cristalina
não tarda bate a meia-noite.
atarantado o pensamento,
por perto o eco do sino
trazido pelo  vento
em notas melodiosas,
e eu segurando as rédeas da vida
acautelando o que não posso prever
o tempo que virá a enpardecer,
e tudo esboroar-se em cinza.

qualquer coisa que não se deixa adivinhar
neste sonho meditativo,
só uma palavra lenta a obstar
e um sentimento vivo
de saudade, saudade que é fado
ou maldição,
a mais límpida claridade que fui
quero em mim sempre o pulsar do verão
mas fico melancólica
e dói-me a recordação...

madresilvas, alfazemas e de repente
das giestas o fervor
traz-me uma subtil melancolia
sinto-me de novo gente
com o coração cheio de amor.

natalia nuno
rosafogo



a paz longínqua...



tinha sede de amar
inventava sonhos
era relâmpago a faiscar
agora nada procuro, nem espero!
apenas quero,
recordar...
deleito o pensamento em
madrugadas frescas e azuis,
escalo sonhos com agilidade
e num belo seguimento
logo o sorriso do destino
me traz a saudade

sonho, sinto-me uma gazela
livre e ágil, corro na praça, numa ruela
e a vida sonhando torna-se fácil
a mesma praça, o mesmo poço
o mesmo sol do meio-dia
a mesma saudade que alivia

e a sair a procissão
é dia de festa
hoje não há roupa posta no sabão
o rio vazio, a aldeia vive de alegria
e exaltação...

mas já tudo me escapa,
já pouca a memória, pouca
ou mesmo nada
o riso e o pranto fresca madrugada
o destino a prender-me, há muito domina
e eu a querer-me... para sempre menina.

natalia nuno
rosafogo




sexta-feira, 16 de outubro de 2015

lusco-fusco...sentimentos

O passado é já só lembrança, um caminho sinuoso de caminhantes cansados, no pensamento trazemos ainda vozes e risos, traçados no escuro, como segredos nossos...no presente a esperança germina devagarinho, vai rompendo como um raio de sol que traz um pouco de luz deixando o desânimo nos escombros ao lusco-fusco, hoje não quero nada nem sequer pensar no futuro que eu espero não seja uma noite de tempestade...é que tanto me encanto como me confundo com a loucura que vai neste mundo...já vi nascer tantas madrugadas, que em mim, nasce uma saudade infinita, é certo que o tempo tirou um pouco de luz aos meus olhos, mas eu faço força e não me deixo adormecer pelo caminho...

natalia nuno


sentimentos...

sentimentos

passeio para esticar as pernas...companheirismo
uma vida a dois é muito tempo, tanto que se esquecem as agruras passadas, se recordam os tempos bons, felizes, e se pensa agora na entreajuda e no aconchego...no inverno ainda há beleza e um poema por conquistar...


passou o esplendor da vida
extinguirão-se as forças
mas esta esperança obstinada
desliza no peito
a voz um pouco quebrada
o coração um violino e ondulação
e uma mão,
sempre espera que outra mão
a acaricie...
o relógio golpeia os dias
e o corpo se afunda
e daquele tempo quase esquecido
melancolicamente já confundido
é agora apenas saudade...

natalia nuno
rosafogo





sentimentos...

O AMOR é mais velho que o mundo, é fascinação, tempo sem tempo, amor é o sol que sempre regressa à sua fonte de aromas breves ou perenes, quando se contempla o «outro com os olhos do coração», quando se sonha até à alvorada e se tem sede de absoluto abandono, os dias são sempre azuis e a felicidade corre nos corredores da mente....


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

nos versos abandonados...



dispo as palavras
e deixo-as solitárias
sem memória,
assim nenhuma me interroga
e nas minhas lágrimas há sempre
uma que se afoga
deixo-as sós ante o vazio, ignoradas,
entre pensamentos azedos
fechadas, numa ânsia rendida
de medos, sussurrando na solidão
sem que possam encontrar outra paixão

que não procurem piedade!
nem decifrem o tempo de morrer
acalmem antes a saudade
da minha alma...
deixem-me o caminho percorrer.

nos versos abandonados
haverá rasto de meus passos
que é todo o consolo que me resta,
e palavras nuas lançadas no lodo
para encerrar esta vida
que não presta...

que não foi a escolhida.

natalia nuno






sexta-feira, 9 de outubro de 2015

absoluto abandono...






o sol já se deita sobre os arrozais
os pássaros insistem em cantar
seus madrigais
mais um dia passa no calendário
da minha vida
um desafio de vencer ou perder
dias brancos de sombras e vazio
e a morte no meu encalço
de uniforme com galões dourados
olhando-me com olhos de cobiça
e raiva embutida
querendo levar-me a vida

magoa-me a sua frieza
caprichosa, de encanto estouvado
e a certeza de que irei protestar
ainda que debilmente
resistindo às suas investidas,
baterá inesperadamente
à minha porta
partirei sem animosidade
silenciarei em mim a saudade
serei o sol que regressa à fonte
a sombra ou a brisa que desliza

gaivota a caminho do horizonte...

natalia nuno
rosafogo




quarta-feira, 7 de outubro de 2015

o meu quinhão de céu...


o meu quinhão de céu


quem nunca teve a minha idade
escusa de demandar inutilmente
porque entre o sonho e a realidade
há caminho, longo mar existente

que venho da nascente a poente
criei asas que soltei ao vento...
asas e sonhos de tecido tranparente
e resignada, sobra-me ainda alento.

a alegria escondeu-se, é coisa rara
ou talvez dentro de mim...a tenha!?
mas se fugiu meu coração não pára

coração feito de sede e terra lavrada
e esta força remendada donde venha!?
é a força de amor que me traz regada!

natalia nuno
rosafogo



solidão crescente...



este poema traz palavras de sol
e delas nasce vida,
e há uma linha azul onde sobrevoa
uma gaivota sobre o mar
já se afasta, e o poema apenas a começar
mas a palavra é audaz e tanto lhe faz
vai continuar...aproxima-se a onda
molha-lhe o vestido, ai quantos sonhos
terá ela tido!?
menina, mulher, triste ou ferida?
desiludida, gélido o olhar!
e o poema a querer conquistar.

mas a palavra é um astro iluminado
e o poema prolonga-se decidido a ser partilhado
é a solidão crescente
e não há palavra que aguente
continua numa forjada procura
de querer alegrar a menina mulher
susssurra-lhe ao ouvido
mas é tarde, para ela já nada faz sentido.
deita-se na corrente, assim
não há poema que aguente.

natália nuno
rosafogo



outono da vida...



nem a fuga da luz, nem o último abandono
nem a sombra que não é noite nem dia
apenas a melancolia do outono
cria um vazio carente
que nos envolve de saudade
já nada acontece, só no olhar
as lágrimas são humidade
a mente jardim de memórias
vozes distantes, que nos golpeiam
o peito...
é outono, e as minhas artérias estão cheias
e o meu signo é perfeito...
vivo bem com a nostalgia
traz-me um odor a laranjeira
e a paisagem dos meus primeiros passos
e na névoa do sonho, os abraços
a luz e a força para continuar
com uma acha de ternura no olhar.

o tempo de outono embrumado
reúne os restos dum passado perdido
no silêncio que se distancia
cansado, muito cansado
mas lembrado dia a dia
continuo como um leito que procura
seu rio...a remendar a força
dos meus olhos tristes, choro e rio
e nem tudo é solidão!
assim, o outono me dá consolo e protecção.

natalia nuno
rosafogo


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

nem pássaros, nem risos...



ali, só a desolação
ali... onde já nada acontece
em cada palpitação um grito
aflito...tudo se esquece
já não há medo nem nostalgia
acabou o dia, agora é noite
os morcegos sobrevoam o lugar
onde a vida é inexistência
dos telhados caem goteiras de angústia
é tempo de sombras e silêncio
é o vazio...
apenas o marulhar do rio
que há séculos corre, só ele
não morre, meu sonho hoje é negro!
negro de carvão, como se fosse condenação.

vá-se a noite obscura, que tanto dura
abutre que traz a morte,
corte em mim esta obscuridade
não atordoe a minha saudade.
meu coração se agita,
é ele que grita como encrespado vento,
porque a vida o leva no arrastamento
nesta noite sem fim, o sonho é dono de mim
fez-me saber que estou numa rua estreita
onde a morte me espreita.

natalia nuno
rosafogo



quinta-feira, 1 de outubro de 2015

refúgio...


é ao espelho que entendo
o passar do tempo
no silêncio, olhando o rosto e vendo
o cansaço reclamando através dos
meus olhos
e a recordação quase soterrada,
cansada de chuvas e ventos
que assolam meus pensamentos.
olho  o espelho como uma estranha
que segue num reino de negrura,
acolhe-me a palavra tamanha
que chega até mim... e é ternura

sinto-me um ermo, fico ausente de mim
meu rosto permanece sombrio
e não há calor nem frio,
nem sentimento algum nesta hora
que me conforte, o coração chora,
o vento agita minha memória

e logo me refugio no esquecimento
como uma criança para quem a alegria
é imortal, esqueço a estranha, e a
realidade, deixo-me de volta na saudade...
palpita de novo em mim um mundo
de esperança
e eu prolongo o meu voo
por espaços onde não há dor...

o peito salta, sabendo-se vivo.

natalia nuno

uma luz matinal





pequena prosa

vou fatalmente falar de lembranças, pois que mais poderia ser!?

a luz matinal já ilumina as águas do rio que se precipitam açude abaixo, como uma lágrima imensa derramada  nos nossos rostos como uma canção que nos deixa uma promessa de frescura cristalina, o aroma que palpita no ar essa embriagadora essência é da flor de laranjeira, de tanta laranjeira que perfuma a aldeia…nas paredes brancas da casa uma buganvília persiste e não quer desistir, prossegue o seu destino e em cada primavera se agarra à vida, apesar da tristeza que vem de dentro dessas paredes, e eu tão inteira assisto a tudo isto com um silêncio de medo que me aprisiona a alma crendo com pesar que já nada é o que era, os salgueiros contam-me coisas incríveis, eles que assistem a tudo que se passa durante quatro estações, que veêm nascer e morrer, que amanhecem em lágrimas de orvalho, que olham a terra e se precipitam sobre as águas do rio, eles os loureiros tão velhos quanto eu falam-me do passado, fazem parte de mim como o sangue que me corre nas veias e estão sempre nos meus sonhos, contam-me mágicas histórias como em criança, quando a vida ainda era um poema d’amor…os pássaros hoje estão ocultos e eu orfã de mim mesmo…

natalia nuno
rosafogo
aldeia 4/2015

sábado, 26 de setembro de 2015

em busca da felicidade...












pequena prosa poética


como chuva de luz entram agora os raios do sol por entre os ramos despidos de folhagem,
também a vida vai diluindo a alegria antiga do nosso viver, como se fosse o único destino esta corrida contra o tempo...
na tranquilidade dos meus lábios vão-se as palavras calando, enquanto no meu corpo corre aquele rio de amor antigo, que jamais deixará de correr e que fiel amar-te-à ...
anseio por uma palavra que me abra uma porta de saída e procuro-a de pálpebras cerradas.
sair desta mentira de que sou testemunha silenciosa, e que assim vai gastando meu tempo... falar para quê,  ninguém me ouve!
parece não haver saída, para a procura da felicidade, mas busco a vida no aroma frondoso da natureza, nas aves, no vento, no perfume das flores e nos meus olhos há luz, ternura e paz, meus lábios uma avalanche de beijos, o coração acolhe de novo com ânsia o amor, e no meu querer rutilantes flores de jasmim,
desvanecendo-se num aroma intenso que vem até mim.

natalia nuno