quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

venho costurando no silêncio a solidão...

 venho costurando no silêncio a solidão

carrego o grito até tarde se perder
ergo palavras vindas do coração
até o sol no horizonte enfraquecer,
há palavras com que não sei lidar
que falam da saudade, amor e dor,
que seja lá como fôr
hão-de passar!
diz-me a minha estrela que não sou nada,
tropeço no que fui e já não sou,
só sei, que trago a vida rememorada
e em águas profundas é onde estou.

às vezes fantasio e o dia fica risonho,
outras vezes é como se fosse um remendo
uma outra história que crio,
e é nesse sonho, o sonho a que me atenho.
às vezes as saudades fazem doer
quem nunca as experimentou?
eu sofro só por saber, que a saudade
sempre em mim morou.
saudade é fala do coração
e dela pode morrer-se, 
tamanha é a solidão
a que o coração tem de ater-se.
....................
saudade tenho de ti
agora tenho por fim
saudade de ti e de mim.

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

este amor à vida...


este amor à vida
é como uma luz ufana que se vai perdendo
numa inquietude que me arde nas veias
lenta mas já quase perdida, a vida,
deixa-me nos braços o peso dos dias
e a alma solitária plena de nostalgias,
enquanto a tarde perde esplendor
uma invisível presença se acerca de mim
como se a tarde fosse o fim... 
fixo o olhar no ramo ainda florido
da roseira, com rosa entreabrindo,
e o pensamento quer ou não queira,
fica de mim fugindo...

e a sombra que me ameaça
nos meus olhos perdura
é quando a saudade me abraça,
e o aroma do alecrim surge na noite escura.

fecho os olhos para decifrar a obscuridade
amo a vida, cada dia que passa
cresce em mim a saudade!

natalia nuno 
rosafogo



terça-feira, 6 de dezembro de 2022

A amizade faz acontecer...


poema ao Menino Jesus

Ouve-se música na velha catedral
Velas acesas é noite de Natal
O menino é de madeira esculpida
A seu lado o olha sua Mãe Querida.

Recitam-se em voz alta orações
Silêncio, ouvem-se até os corações.

O hino é cantado pelo coro
Os meninos o entoam como um choro
As naves cheiram a brancas rosas
Aquietam-se as almas ansiosas.
Vem do céu toda esta harmonia
A noite é velha e traz estrela
Ninguém esquece a noite deste dia
Suspensa a hora nos altares da capela.

Há amor
E comoção nos sentidos
Missa do galo redobra o sino
E há calor
Nos corações em Amor envolvidos
Faz-se oração, nasce Jesus Menino.

natalia nuno

Interação com o Blog Espiritual-Idade a convite da amiga Rosélia Bezerra,
a quem agradeço o carinho...
participo com este pequeno poema sobre a época Natalícia, pedindo Paz para o Mundo e saúde para todos nós.

Aproveito para desejar a todos os amigos que visitam o Orvalhos Poesia umas BOAS FESTAS, com Saúde, Paz e Amor.



sábado, 3 de dezembro de 2022

esquecida ainda que não de tudo..




ao longe avisto a lua cheia
com negros olhos, estrelas semeia,
não lembro meu começo
nem sei como acabo, só sei,
o jogo interrompido que sempre recomeço
faminta e silvestre, e assim partirei...
as mãos pendentes horas a fio
envelhecem as palavras na boca sem uso,
na mente poema sem sol que não desafio
e o esquecimento que se faz intruso,
nesta página branca transparente como água
amarelecem pensamentos como uvas na videira
à semelhança da dor e da mágoa
deste amor que ainda é
em mim  cegueira.

trago floresta verde no olhar
passa por ela a minha vida inteira
de improviso lanço versos ao ar
que falam d' amor e saudade,
e que são uma leira
de sementes desta vida, deste entardecer,
que me vêm a enlaçar.

natalia nuno
rosafogo


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

recanto da névoa...




cansei de escutar o pássaro em mim
aquela canção outrora pura
que ainda entoa
e me leva à loucura
e faz com que a alma e o corpo me doa.
passo os dias perseguindo uma ideia
levo-a no silêncio até de madrugada
construindo com ela uma teia
onde sonhando, ainda sou amada.

enquanto a memória vai caindo
em escombros
sofrendo do tempo a erosão
a saudade levo aos ombros
 e por dentro a nostalgia no coração.

sigo trémula nesta travessia
é quase noite a tarde vai baça
assim levo meu dia
e o tempo passa...

natalianuno
rosafogo



do canto ao pranto...

canta-me o mar numa linguagem apaixonada
canta e encanta,
julgando-me sua amada
mar íntimo que me sussurra ao ouvido
num lamento, parecendo reza,
em mim brotam os sonhos
no pensamento uma luta acesa
deixo-me afastada do presente
neste mar do entardecer,
à noite com ele me enlaço
e vou até à infância sem me perder,
à juventude veemente
que não quero esquecer.
aspiração a que submeto o coração

trago agora o mar em repouso
e a vida sem luta e sem rumor
onde só a saudade entra, e ouso
arrancar de mim, da morte o temor.

os sonhos são uma utopia
e a vida uma celebração
este meu mar dia a dia
onde me levará então?
talvez ao fracasso da recordação
e do canto ao pranto!

natália nuno
rosafogo



quarta-feira, 9 de novembro de 2022

lembranças...





sempre o tempo decrescente
a aproveitar-se de mim desprevenida
a gotejar-me na mente
pedaços da minha vida
sinto-me como quem navega 
à sorte,
sem saber para onde
passo a passo para a morte,
isso o tempo não me esconde.
sobra em mim o cansaço
envolvo-me nas memórias
das minhas raízes
passo o tempo a lembrar-me 
d'outras épocas felizes.

perdidos na idade
ando eu e os salgueiros
caem as sombras a pique e a saudade
vai longa, depois de tantos Janeiros.

meu sonho nasce e renasce
dele nem vale a pena acordar
este alento me advém do teu amor
faz meu coração serenar,
lembrança em lembrança
lembrarei com ardor.

natalia nuno
imagem pinrest




quinta-feira, 3 de novembro de 2022

bem longe de acordar...



revivo o sonho de dias vividos
e tenho esperança nos que resta viver
e os sonhos por mim e por ti tecidos,
tiram o vazio dos nossos olhos
é isso que quero ver acontecer,
quero existir sonhando
arrecado as palavras, e tiro o gelo
do espelho
o tempo vai marcando.
e eu pergunto-lhe se o que vejo
sou eu ou ele que é velho,
enche-me a cabeça de pensamentos
é indiferente aos lamentos
que a saudade não sara,
saudade que faz o sorriso acontecer
que é tristeza e também alegrias
saudade na alvorada ou neste entardecer
que passa à minha porta todos os dias.

e é nas manhãs doces a florir de jasmim
ou nas noites de doce luar
que eu me recordo de ti e de mim
e é então que a saudade vem mitigar.

natalia nuno

domingo, 30 de outubro de 2022

cansaço que disfarço...





através das cortinas da alma, 
vou remando até à infância, 
nada me barra o caminho, 
e fico a boiar no poente em liberdade, 
agradeço a Deus por ofertar-me o sonho, 
e a saudade
que me permite encher o peito de seiva nova,
reconcilio-me comigo mesma, 
e em equilíbrio fica o coração
com amor de sobra, 
serena, mais lúcida, vou continuando o caminho
partem as horas, fica o cansaço, 
inacabado o sonho, 
voltam os anseios como trepadeiras
 dando-me abraço.

o cansaço disfarço!
esqueço as canseiras, 
adensam-se  as lembranças dos beijos frementes de desvario, 
suspiros do sol interrompem meu frio, 
escapo-me pelo meio desta nostalgia 
e vou vivendo, sorrindo de novo dia a dia.

natalia nuno
(rabiscos) 1972

povo será teu nome...





morre gente que nunca viveu
a vida toda levou a trabalhar,
tendo apenas por seu
o pedaço de terra
onde as mágoas de vez encerra
quando vai a enterrar.
a cova é à sua medida
foi o que ganhou em vida
nem larga nem funda
morreu sofrendo de cogitação profunda
viu o seu país duma só côr
nunca ninguém lhe deu amor

que desarrumada vida!
neste rectângulo vivida,
pareceu-se a um toro num rio
sem saber o seu destino,
passou fome, calor e frio
passou p'la vida pobre peregrino.

falo assim de quem tão bem,
soube das coisas da vida
fica liberto depois da morte
duma vida, solitária e incompreendida.

natalia nuno
rosafogo
rabiscado 2001



domingo, 23 de outubro de 2022

estremecer voluptuoso...



escrevo o meu nome na água
onde o tempo não o apagará,
nem tempestade e nem mágoa
a esquecimento, ele sobreviverá

abandono a saudade no coração
onde permanece da ave o canto
salva-se a memória e a recordação
estranha magia, acordes de encanto.

tudo se aquieta, é tempo de paz
no meu arquejar, e passos furtivos
escuto-me na quietude, sou capaz!

ponho a vida no seu fogo primeiro
coloco ainda a chama nos sentidos,
apaixonada, capto ainda teu cheiro

natalia nuno



segunda-feira, 10 de outubro de 2022

no regaço da noite...

 



algo mudou repentinamente

e o tempo vai desvanecendo

obscura e até emudecida a mente
arranhadas memórias vai vivendo

como ressuscitar a felicidade?
por atalho de sonhos vislumbrados?
nos versos de outono a saudade
memórias dos tempos passados.

meus olhos abrem-se ao vazio
à impiedade dum destino a findar
a emoção na m'escrita é agora fastio
as palavras obsessão  que não sei calar.
silencio e inquietação, fico muda
brota do silêncio realidade profunda
a vida ainda conspira faço-me surda
em mim a desmemória já abunda.

senti quão próximo a morte m' espera
deixando talhada a tristeza no olhar
lê os meus sonhos e a alma desespera
obscuridade que de mim se quer acercar.

natalia nuno

domingo, 9 de outubro de 2022

tudo o que resta...


florescem poemas florescem
nas minhas mãos tão cansadas,
descem até mim, eles descem
no meu rosto são longas estradas,
transbordam de sentimento
galgam distâncias como raios,
são agora frios Dezembros
mas, já foram floridos Maios.

florescem poemas caídos dos céus
que vão transformando em ilusão
sonhos inacabados, teus e meus!
neste declive rápido do coração.

florescem poemas em encrespado vento
com sua música atordoante, ou
dulcíssimo canto que chega ao pensamento,
salmodia da vida já tão arquejante.
e este corpo lento que se devora
onde já não existe medo, só nostalgia,
e o rosto onde nem é noite nem dia
onde um silêncio humilde se arvora.
é tudo o que resta.

natalia nuno




terça-feira, 4 de outubro de 2022

amar é sempre ...



abandono-me em ti
saio do meu casulo
no teu peito eu me deito
és o porto onde me acosto
contigo a  vida regulo
sem ti, eu morro, aposto!

cansei da palavra
trago a memória escura
sinto falta de ternura
porque o amor é o lar
dentro do peito
partilho contigo este amor
que é feito,
de sonho e é tesouro
que é ouro,
dentro do meu peito.

é canção de embalar
a mais nada se assemelha
é sonho se me vens beijar
canção doce  e velha.

amar é a flor em nós a perdurar.

natalia nuno
rosafogo
02/2004
imagem pinterest

versos de solidão...


estes versos meus
são feitos de frágeis lágrimas
e a garganta seca dum tempo sem conta,
é tal o ardor, que os crio com saudade
e amor.
minha alma anda rente ao chão
perante a poesia e a morte,
crio poemas, de saudade e solidão
e espero que o tempo passe
fogem-me as palavras, vivo neste impasse
nem sei se o poema espera
ou desespera, segue-me submisso
no caminho traçado,
vivemos o mesmo feitiço, o mesmo fado.
estamos no caminho da subida
é tempo de partida...
sento-me no cadeirão 
chegam horas lentas, de solidão definitiva
orfã deste instante
já não sei se o tempo que me ensombra o olhar
me tem morta ou viva

quando as palavras perderem o sentido
e a escuridão em nós se acender
não será já, tempo de viver,
então o poema e o poeta ficarão no esquecido
restará repleta  solidão,
em mim  a vida calará
e jamais de mim ou do poema
alguém lembrará!

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

a saudade é isto!...



dá-me a tua mão rumo à felicidade
aquela felicidade que embriaga
depois mais tarde, talvez,
o bem estar a saudade nos traga
e fique em nós de vez.
dá-me a tua mão não me deixes cair
pois sem vacilar, 
preciso ir.

leva-me junto ao rio
ao encanto do amanhecer
que a vida está por um fio,
antes que surja o anoitecer.
diz-me palavras de marfim
agarra a minha mão trémula
diz-me que gostas de mim.

natália nuno
rosafogo
11/2021

terça-feira, 13 de setembro de 2022

abri a janela ao dia...



o tempo é de poucas alegrias
ou de poucas eu me lembro,
foram alegres os dias
d'outro Agosto, d'outro Setembro
abro as janelas às estrelas
para ver se alguma cai, 
imagino-me a falar com elas
do tempo, que mal vai.
falaram-me então do sol
mas da chuva nem sinal
e sem ela o girassol
morre de sede é fatal.
reclama a terra, maresia,
e orvalho pela manhã
abri a janela ao dia
minha esperança morre vã.

segue o mundo  desvairado
guerra, seca, falta de pão
o ser humano desumanizado
matando irmãos, sem razão!

está na hora de acordar
os sonhos trazer de novo à vida
voltar a desejar, a amar,
deixar a brutalidade esquecida.

natalia nuno
rosafogo




quinta-feira, 8 de setembro de 2022

já nada importa...



presa na garganta do tempo
onde as vielas são estreitinhas,
e a morte está à minha espreita,
só as certezas são minhas
a vida nunca foi perfeita.
e a noite que não acaba!?
e a última esperança que desaba.
a dor em crescente a germinar
é tempestade que é glaciar.
difícil é o aguentar das horas vazias
da solidão que enche a mente e o coração.

já não importa o tacto das flores
nem o riso da água
importa sim esta mágoa!
que desfaz o coração
sem que nada entenda,
surge o frio da vida, 
a fadiga,
deste tempo sem emenda,
e eu, tão perto de mim e tão perdida,
nesta estranha imobilidade
presa entre as paredes da vida
apenas ouvindo o eco da saudade.
meu corpo já sem sono
corpo de séculos, esquecido,
grita o coração ao abandono
em oscilante ondulação...perdido!

natalia nuno
rosafogo





quarta-feira, 7 de setembro de 2022

caminhante...



por amar intensamente
não dei pelo tempo a passar
e a vida correndo lentamente
esqueceu-se de me avisar
tem vindo de mal a pior
voando como estorninho,
e há-de vir um mal maior
de súbito,
a travar-me o caminho.

natalia nuno
pequenos poemas
do meu blog impalpável silêncio

romance...



este fogo que se acende

e que tanto me prende

traz ainda o sabor do beijo
da primeira vez,
e o desejo aperta
sem quês, nem porquês
na altura certa!
logo a ternura
está ao nosso alcance
e assim continua o nosso romance.



natalia nuno
pequenos poemas 
do meu blog impálpavel silêncio

estremecimento...



trago as mãos agitadas
os dedos querendo libertar-se
o coração a cansar-se
e as pálpebras cerradas,
estremeço e o sono não vem
aqui e além, o sonho vencido
as palavras cheias de frio
faço-as saltitar, sorrio,
sussurro-lhes ao ouvido
digo-lhes que as amo,
elas sabem que é por ti que chamo.

natalia nuno


e tu dizes que me amaste!



quando morrer
deixo-te beijos em testamento, 
aqueles que não aceitaste,
viver é escolher
e dizes tu que me amaste!?
o amor é oceano de ternura
duradoira, que sempre dura.
e dizes tu que amaste!
os ramos adoram as ramas
e sonham vê-las floridas
quando dizes que me amas?
sílabas soltas perdidas.

ilumino o avesso do espelho
e de nada me recorda, apenas
o que jamais escutei, o velho
tempo, das flores amando-se.
por entre raios dos canaviais
escuto a languidez dos meus ais
como se de música se tratasse
e eu ainda te amasse.
são tempos distintos que junto
neste momento
e deixo na confidência do vento
e tu dizes que me amaste!
sussurras ao meu ouvido
agasalho com que calaste,
meu coração ressentido.

natalia nuno
rosafogo








terça-feira, 23 de agosto de 2022

tempo que me resta...



ao  longe a voz do vento 
ouço-a no meu horizonte
trago calado o pensamento
vou atravessando a ponte.
e no tempo que me resta
cedo à ansiedade da pressa
e à vida que não foi festa
não bato palmas nem peço meça

onde me leva o destino?
penso eu neste fim de tarde!
neste poema pequenino
talvez dele venha a verdade,
poema onde navego
neste meu mar em liberdade
e sempre que eu lhe pego
é na hora da trindade.

da lembrança varri os dias
de sombras no meu caminho,
esqueci as mágoas sombrias
escrevi memórias em pergaminho.
escrevo onde o amor floresça
mesmo com o céu pardacento
e se fôr a saudade que cresça
no coração, acolho-a no momento.

será o vento que há-de soprar
tudo o que perdi de vez
e quando o coração pagar
o preço da vida, talvez,
se acabe para sempre a solidão
porque o tempo nunca espera
traz a morte pela mão...
não insisto ficar, mas a espera desespera...

natália nuno
rosafogo




para onde fugiu meu sonho?...

permita Deus que meu sonho acorde
volte de novo a mim
e talvez eu me recorde
nesta vida ao que vim.
na minha alma há fantasmas
os sinto a qualquer hora 
vem sonho meu,
- não me pegues de surpresa!
a saudade a mim aflora 
minha tarde já se apaga 
de mim já me perco agora,
a vida ficou sem beleza.

para onde fugiu meu sonho? 
meus olhos são como rio,
passou o tempo risonho
a vida está por um fio!

teimo em manter-me viva
como a força das marés
queira Deus que eu sobreviva
e feliz volte a sonhar
corpo e alma, 
felicidade de lés a lés
com a grandeza do mar.

natalia nuno
rosafogo


terça-feira, 16 de agosto de 2022

já não há luz...



cabelos brancos, já não há luz,
surge a queda, é a ruína
pedaço de prata não me seduz
quero antes ser magnólia branca, menina.
trazer os olhos vendados à desventura,
da vida esquecer e viver
a ilusão de ser uma virgem pronta
a entregar meu coração.
atrás de mim um som ensurdecedor
chameja na minha cabeça
é a dor do amor com medo
que adormeça.
removo os dias que em mim
foram maus, 
e recordo os de marfim.
minha armadura desfaz-se
dói mas escondo,
já não há luz!
mas a vida faz-se,
dias felizes me propondo.
porém, os pensamentos são rochas negras
a mente região cheia de escombros,
onde o silêncio às vezes me afoga
e a vida se arroga
e me confronta, e nem sempre estou pronta!
o tempo comeu-me as ânsias
as esperanças, as vontades,
e deixou-me paralisada nas saudades.

natália nuno
rosafogo





quinta-feira, 11 de agosto de 2022

a vida um espinho lento...

na velhice uma saudade indefinida
saudade que aflige mente e coração
saudade do tempo que passou de corrida
instantes loucos de ilusão
hoje sento-me no cais da saudade
embarco no sonho para a ti voltar
sonho tão fora da realidade!
que surge na noite sombria à hora de amar.

minha alma veste-se de saudade
daquela saudade que dói
é doce, amarga, tão dura
a saudade do tempo que foi.

amar é no fundo esquecer a vida
é cerrar os olhos ao sombrio presente
foi-se aquela idade tão querida
em que o fogo que nos cercava era ardente.

natalia nuno
rosafogo

por ti ainda sonho...








continuo a caminhada pé a pé, sonho com lufadas de ar fresco cheirando a mimoseiras floridas, outros tempos me vêem à memória e um fogo me sobe à face... vai o sol a pique mas, ainda estou pronta para amar, deixo-me levar mais tarde pelas asas do rio que vive em mim, e remo até surgir a tenra maresia... por ti! pois só por ti ainda sonho!

natalia nuno

a esperança já pouco me aquece a mão que escreve...



a esperança já pouco me aquece a mão que escreve, as palavras ficam na fronteira da solidão, e eu respiro devagarinho para não me perder p´lo caminho... vou olhando dentro de mim, procurando sonhos de vela acesa, já não tenho a certeza se a minha pele era de marfim, vem-me o desejo romântico de voltar atrás, cerro os olhos e por momentos sou capaz, estranha fantasia, quantos anos passados, escritos alguns versos de pouca valia, e vem-me à lembrança o pulsar do tempo, a aceitação da vida, tudo o que me traz saudade, as noites de luar que me faziam sonhar, as folhas rasuradas com palavras de amor bordadas, nesse tempo em que o amor era chama, canto e desencanto, tempo sem prazo que prometia ser eterno por acaso... entre mim e estes anos há memórias de cristal, que durarão pra sempre, de pedra e cal, a suavizar os meus dias...
natalia nuno

domingo, 7 de agosto de 2022

o chão onde nasci...



as minhas nostalgias são na verdade
feitas de saudade,
do reino da minha infância colorida
manancial de ternura onde hoje me sinto perdida,
no avesso do meu espelho
meu olhar cruza o horizonte,
trago na memória o céu tão velho
quanto eu...
e no largo da praça a velha fonte,
atrás das sombras ficou a juventude
onde deixei as minhas asas
agora volto lá amiúde
ao adro, à praça e atrás das casas.

as minhas nostalgias são na verdade 
feitas de saudade
sinto o pulsar fraterno da brisa
sinto-a em minhas mãos como pureza
é tudo que minha alma precisa,
a casa ainda sussurra ao meu ouvido
lá em baixo o  rio povoa-me de ilusões
e traz ao meu sentido
o escaldante calor dos verões.
sinto a eternidade desta saudade
que me traz cativa
sou a noite, há muito deixei a claridade
sonho-te e quero lembrar-te por muitos anos que viva
as minhas nostalgias são de verdade,
chão onde nasci, é por ti
que trago esta saudade.

natalia nuno
rosafogo





sábado, 6 de agosto de 2022

firme sentimento...



ver-te e nos meus olhos, sentir
o fogo que é magia
vai-se a vida a diluir
insegura, pergunto-me sem ti
que seria?!
poque és saudade, presença em mim
és a verdade, deste firme sentimento
cuidemos do amor até ao fim.

nesta confusa vastidão
perdura em mim a jovem chama
e em alvoroço o coração,
é por ti que sempre clama.
deixo-me ao abandono
fica em mim um doce cansaço
logo depois surge o sono
no calor do teu abraço.

natália nuno
imagem pinterest


segunda-feira, 1 de agosto de 2022

o aperto da saudade...

 


De momento o entusiasmo é muito pouco, sinto-me uma folha arrastada para um outono de esquecimento, estou como uma garça descansando nos juncos...porém a natureza entusiasma-me muito, serei sempre aquela menina descendo o carreiro, correndo pelo prado direito ao rio, de água clara e sem fundo no seu sereno marulhar, ao redor, salgueiros frondosos,  o jardim da mãe com as flores a desabrochar, árvores de frutos a madurar, sonho sempre que estou a chegar, mas, sem chegar jamais! Sou agora a pessoa que ri da sua ansiedade... no presente corro ao mar, povoa-se a mente de fantasias ao olhar o imenso azul, e volto a sonhar, e é como colher grinaldas de jasmins com orvalho, para colocar nos cabelos...e voltar a criança feliz... meu corpo se rende, desfaleço como lírio numa jarra  sem água, trago as mãos abertas ao vento, arrasto-me para um outono de esquecimento...onde vou morar na saudade, ao entardecer, aguardarei para me aproximar de ti.


natalia nuno




terça-feira, 26 de julho de 2022

palavras caladas...



despertam os rouxinóis que dormitavam
em mim, desde a frescura da manhã
agora que é Outono, quase Inverno
e meu tempo a chegar ao fim,
espantam o frio que veio chegando
e trazem -me um sorriso de murta e jasmim
despertam os meus sentidos para a vida
trazem-me uma mão cheia de ternura
saudade duma alegria antiga
e sentimento firme que perdura.
de repente, rodeiam-me os teus braços
fundimo-nos nas noites consteladas
esquecemos o vazio
- e damos mais uns passos!
e em nossos lábios palavras caladas,
quem dera que voltasse a Primavera
quando o sol nos olhava embevecido,
nas madrugadas
em que nos amávamos, o vazio passa agora,
já passou a nossa hora!

natalia nuno




sábado, 23 de julho de 2022

saudade que amanhece...




há luas que nos entram casa fora
nas noites em que a gente quer amar
abre-se a janela àquela hora
descobrem-nos nus, os raios de luar,
e eu fico a pensar?!
tantas noites demoradamente doces
- como é bom recordar!
há ruídos que nos afagam
para lá do tempo, nem sabemos de onde
já todas as luzes se apagam
é a hora a que o sol se esconde.
já não lembro que me dizias
nestas noites ao ouvido,
foram noites, foram dias
tantas como as rugas, que hoje
no rosto fazem sentido.
nas noites albergamos o nosso amor
éramos felizes e eu não sabia quanto,
lembro só do pudor
e mais tarde, como me atrevia tanto!
somos amantes consumidos na nossa 
própria fogueira 
e hoje entra p'la janela a tristeza
a saudade deita-se ali à nossa beira.
já não há luas nem raios de luar,
nem o ruído do nosso amar,
vagueia a saudade nos trilhos da memória
e traz-nos recordações das noites vivas
de glória...
tínhamos a vida toda para viver,
tudo o que nos resta são sonhos com sabor a luar,
são muitas as coisas que eu não sei dizer
o que sei da vida e da morte, 
é que uma passou a correr
e a outra está pra chegar...

natália nuno
rosafogo




segunda-feira, 18 de julho de 2022

no turvo silêncio da tarde...



espero, como quem espera por um estranho
enquanto vejo a luz da tarde a cair,
cresce uma incerteza do tamanho
dum mar tenebroso que me invade.
e eu espero, até a memória consentir,
sonho, tal como noutras noites esquecidas
de ternura e sossego, que ficaram na saudade.
o sono atravessa a noite e a luz da manhã,
regresso à realidade mal dormida,
onde nem a esperança incendeia o meu querer
tanto à vida,
há um mar sombrio que desliza na mente
que me deixa em atitude de espera
e de repente, este mar galga os muros do meu peito
fica a saudade à espreita, enquanto a vida se ajeita.

sento-me perto do aroma do trevo
esquecida de mim, deixo-me ir
até onde a brisa me leva o pensamento,
é tudo quanto minha alma precisa
rasgar a obscuridade a cada momento,
e a inquietude afastar,
deixo-me envolver no tempo sem memória
fico a flutuar como ave extraviada
talvez que os sonhos regressem
talvez a sorte me sorria
e me sinta mais afortunada.

natalia nuno
rosafogo
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domingo, 17 de julho de 2022

gomos sumarentos de paixão...



não me falem de papoilas escarlate
mariposas e crisálidas nas candeias
os prados verdejantes de aveias
onde as vidas eram grandes eram cheias
desse amor que hoje não pode resgatar-te

preciso habituar-me a este rosto
preciso substituir este meu olhar
nas papoilas deixei o sorriso posto´
e agora já não lhe consigo chegar
os olhos verdes de lágrimas marejaram
sigo triste, a noite avança na minha estrada
os sonhos nos verdes prados ficaram
hoje amor...me sinto desanimada

contempla o sol que cinge a madrugada
em gomos sumarentos de paixão
abraça o corpo feno, alma calada
sou teu cavalo, armadura e tua espada
levando do teu peito a solidão
deixa pousar em ti as mariposas
nas papoilas de teus lábios côr de rosas

o teu sol banhou o horizonte de côr
eu presa à janela olho-te à distância
como se o Mundo explodisse Amor
cada vez que poisas na minha lembrança
és recordação viva que quero conservar
meu coração de ti jamais se perderá
com ternura meus lábios deixo murmurar
e às estrelas juro, este amor não morrerá.

DUETO entre  Beija- Flor e Rosafogo
no Lusopoemas

sábado, 16 de julho de 2022

a última rosa...



meu corpo é rio que flui e passa, o tempo é
de alargar o passo
embora hoje só haja sombra
sigo a vida mais um pedaço.
sobre o abismo dos meus sonhos,
o vento irrompe nos meus desejos
é vento de amor num vaivém até ao céu,
meu céu de lampejos...
meu corpo é mar infinito que me traz 
uma orla de esperança,
e a vida que ora me acolhe ora
me ignora, limpa um par de lágrimas
que trago de criança.
meu corpo é roseira com uma última rosa
com aroma suave, que a solidão percorre,
no jardim perdida, despetalada, às vezes angustiosa
onde dia a dia mais um pouco morre.

natalia nuno
rosafogo
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quarta-feira, 13 de julho de 2022

pássaro sem asas...


um dia soluço, outro canto com alegria
depois alheia a tudo entro em nostalgia
sou como pássaro que a canção suspende
depois arrebata o silêncio a agita as folhas,
nem a lua que se abeira entende
o arrepio que sinto quando me olhas,
a brisa os sonhos me embala
sento-me a teu lado, 
com olhar enamorado
como se olha a quem se ama
temos ainda no olhar a chama
e enquanto a vida tece e destece
e os dias nascem no horizonte distante
trazemos erguido o amor
a todo o instante.
.............................
enquanto o Julho me quebra em pedaços
pássaro sem asas , abrigo-me em teus braços.

natália nuno
rosafogo
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terça-feira, 12 de julho de 2022

a horas mortas...



não escolho as palavras
são desejos que por mim passam
sonho com elas, um sonho que não faz ruído,
na minha mente desfilam
e ondulam como um mar erguido.
apresento-as ao mundo, para que minha voz
se espalhe,  como um caudal de luz,
e é atroz senti-las a afogar-se nas águas
dum mar infinito,
levando meu grito, minhas mágoas 
sem querer ouvir o meu sentir,
fogem de mim a horas mortas
nem sei porque as escrevo, só Deus
escreve por linhas tortas!
não escolho as palavras
escrevo como um recém nascido que chora,
com a saudade que no meu coração mora.
memórias escritas que são folhas que caem
em solidão e esquecimento,
move-se minha mão, que não sei porque escreve,
quando o pensamento lhe diz que não deve,
alguma coisa o coração embriaga
será o aroma de pétalas pela vida esmagadas?
ou a esperança, talvez o destino me traga
aos dias, rosas belas perfumadas.

natalia nuno
rosafogo
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domingo, 10 de julho de 2022

pedaços de mim...



quantas vezes senti a escuridão
a envelhecer-me o rosto, 
pouco a pouco
nas lentas horas que o relógio anuncia
com insensibilidade e altivez,
como foi possível o silêncio que se fez
na vida, dia após dia?!
e este amor que me prende a garganta,
que é água pura como gotas de orvalho,
trouxe-nos felicidade tanta, tanta.
que em nós alguma restou viva.
neste nosso olhar alguma coisa existe,
no coração uma cega pulsação
e o amor persiste.
olho-te com angústia e incerteza
sinto tristeza,
mas sinto um despertar de esperança,
que a luz chegue ao nosso anoitecer,

clara e luminosa, como a soltar-nos o sonho,
então posso dizer-te
da minha experiência repetida, acredito,
que  a vida sempre recomponho.

natalia nuno
rosafogo