horas vazias...

calou-se o mundo

num silêncio profundo

estamos no fundo do poço

as árvores ciciam ao vento

é tudo quanto ouço!

choram as rosas esta manhã

profundo lamento...

gotejam tormentos do meu peito

nos ouvidos um zumbido indistinto

a vida não leva jeito

é tudo o que sinto.

a saudade me trespassa

e o sonho me alimenta

um íntimo segredo, 

quem me abraça

também o sonho me sustenta.

o vento passa por mim

com a música eterna da saudade,

num movimento sem fim

com voz de quem canta liberdade.

sem espaço para abraços

a solidão vai e vem

ouço agora os teus passos

saudade de ti também.

natalia nuno

rosafogo

11/2008

a esperar-te...

longos dias sem ti

horas tão largas

tremi, 

emoções amargas,

a noite esconde-se

ao ver-me esperar-te,

meu coração é como pedinte

cego, a pedir esmola por amor!

sigo errante, dói na alma

lembrar-te...

já não é límpida a minha visão

já meu mundo está perdido

só trago no coração o sentido

de amar-te...

ou será ilusão?

guardado trago como milagre

esse amor da minha saudade

hoje o corpo alquebrado

para sempre calado.

saudade e dor adormecidas

sobre minha face a história das nossas vidas.

natalia nuno

rosafogo

1992

pequenos e singelos poemas que ficaram na sebenta muitos anos.

poesia é...

a transbordar de alegria

ou de tristeza e desalento

vou criando poesia

e é como brilhante aparição

minha única obsessão,

que não me foge do pensamento

noite e dia...

exprimo-me com suavidade

meu sentir é bem real

minha verdade perfeita

poesia menina eleita

que é a minha paixão

a escrevo abrindo o coração.

a poesia aproxima-se, 

e também se evade

é ferida aberta, ou paixão

ou é também recordação

e saudade...

é sede, é fragrância, é flor!

é do meu corpo o mar

é fogo e ternura, é amor

invento-a no meu sonhar.

natalia nuno

11/2002

aqui na solidão...

uma lágrima furtiva

na janela do olhar,

navego na imaginação

a reter a asa,

- com vontade de voar!

aqui na solidão,

no desdém da noite, que me tenta

afogar.

tive sonhos cor de rosa

que ainda vivificam em mim

duma forma generosa,

mas ironia, tonta pomba

a querer voar assim...

foi-se o tempo dos lábios pintados

de fresco, do sorriso de frescura

e os afectos bem acordados

no desabrido coração ao luar

hoje sinto a alma vazia

já não vislumbro mais além,

não quero amar, nem a poesia!

as palavras que escrevo são de ilusão 

poesia é de saudade e meu entretém,

saudade que não é de hoje

mas é minha, de mais ninguém.

natália nuno

rosafogo

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chorar a saudade...

levo minhas mãos caídas

abre-se a noite sobre mim

no coração sangram feridas

dum tempo louco sem fim

lanço neste poema o fogo

que tem por amor o tema

e eu quero que pegue logo

rasgo as veias, que dilema.

tanto ardor no coração

deixem chorar à vontade

é tudo o que me vai na alma

chorar por amor é saudade.

depois não importa morrer

quem tem este jeito de amar

quer ver o sonho crescer!

fogo infindável que é chama

vermelha da cor da tarde

que alumia o quarto e a cama

onde o amor faz alarde,

sempre que gente se ama.

palavras movem-se no poema

tão calmas e sem temor

hoje somos cansaço, é pena!

sobra a lembrança deste amor.

natalia nuno

rosafogo 10/2007

vazio nocturno....

a mente não lhe dá tréguas, segue sozinha seu caminho,

no peito leva lamentos que ninguém entende,

se ao menos a escutassem poderia ser feliz, 

o coração chama acesa, mas o destino não quis, 

arroja-se nas palavras onde a saudade enfrenta, 

às vezes tempestade no pensamento, e assim vai suspirando, sonhos, desejos e lamento, o olhar contas de vidro baço, 

de dor cheia, desenleia a recordação dum abraço... o rosto cansado onde o sol já se deita, 

o sorriso já deita a fugir à tempestade, 

e a mente sem tréguas não lhe dá  paz...

conta as horas do tempo que lhe foge, 

a esperança que era verde e já se perde, 

é tarde desvanecem-se os sonhos, 

as lembranças são instantes perdidos,

olha as últimas nuvens no céu, as aves andam distantes,

as amarguras do dia são delírios de chuva a tocar o poente, 

e na sua mente a maré grande da melancolia, 

a terminar seu dia.

natalia nuno

volta de mansinho...

ouvem a menina do baloiço

ainda no baloiço a baloiçar?
olho para trás e ainda a oiço
como que por mim a chamar

veem como a mim se enlaça
protege-se da sua fragilidade
não a derrube o vento q'passa
e a menina chore de saudade

veem como baloiça tão alto
como a querer chegar ao céu?
deixa em mim o sobressalto
se lhe dói, dói o que é meu

ouvem o ranger dos ramos
que suportam seus sonhos?
inquietantes dias, tamanhos
apanha amoras e medronhos

veem-na n' ondas do centeio
nas tardes nuas de verão?
atravessou m'ha memória veio
adormecer no meu coração

veem como é ave que voa
livre,  de asas estendidas?
não há saudade que não doa
é ela bálsamo das feridas

natalia nuno
rosafogo
imagem da net

voa livre como o vento...

 

 

bate, bate bate coração

bate, bate, bate tanto!?

chorar , não chores não,

a vida é tua por enquanto.

 

a vida é tua por enquanto

mas o tempo não perdoa!

deixa pra lá o desencanto

voa livre... borboleta voa!

 

voa livre...borboleta voa

a sonhar eternamente...

não há dor que não doa

se n'alma há fogo ardente

 

se n'alma há fogo ardente

e na boca eternos beijos

vale o amor persistente

e a loucura dos desejos

 

e a loucura dos desejos

dum amor puro e bendito

são quimeras são arpejos

são a saudade num grito

 

são a saudade num grito

dos olhos deslumbramento

é meu sonho no infinito

e o amor é o sentimento

 

e o amor é o sentimento

do sonho eterno a ventura

chega a qualquer momento

pobre amor tão pouco dura.

 

natalia nuno

rosafogo

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lavra a saudade...

a vida é uma comédia

num palco improvisado

por vezes uma tragédia

com o actor desnorteado

o coração incendeia

lavra nele a saudade

quando nele se enredeia

cresce a dor...é a verdade!

queixume ou desengano

quer a sorte que inda seja

que o amor mesmo tirano

o coração sempre o deseja

pra quê negar a evidência

a vida é uma emboscada

põe coração na eminência

de amar e não ser-se amada

a vida é uma partida

e seu tempo tão escasso

na orla do pranto a vida!

e nos teus braços, abraço.

o coração com despeito

bebe angústia na corrente

cai no abismo insatisfeito

pulsa, fica d'amor tremente

.

natalia nuno

rosafogo

11/2007

ecos da alma...

no meu silêncio uma leve escrita

escassa de sonhos

ecos que minha alma dita

de horas amargas

ou de dias risonhos

sulcos ao de leve no papel

palavras aprendidas

soletradas a rigor

pássaros ocultos na pele

esperanças perdidas dum grande amor.

alinho as palavras dum tempo lapidado

tempo de horas vacilantes

onde me refugio, tempo de ter-te amado

com esperança sustentada

que serias o meu destino

o sonho na minha pele esculpida

até ao fim da vida!

natália nuno

rosafogo

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10/2007

as palavras...pensamento

as palavras são como gaivotas, dão asas ao vôo do sonho, 

espreguiçam-se nos meus ouvidos

derrubam os meus limites

recordam-me com doçura tudo aquilo que perdi, e

surpreendem-me com a esperança do que ainda me resta viver.

natalia nuno

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pensamento... a amizade

a amizade é terreno arável de boa semeadura,

cujos proventos alimentam a alma

é fonte de água fresca que não vacila em correr

a fazer-se ouvir, inundando de esperança quem necessita de sol e luar

na penumbra do destino.

natalia nuno

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pensamento...já não cabe em mim...

já não cabe em mim, mais informação...fechei as muralhas da mente,

quero apaziguar-me comigo até me fundir no esquecimento

quero ser como uma flor no seu mutismo, deixando murmurar

apenas palavras que trago da meninice, e será tudo o que vive

e não morre...

natalia nuno

ouve como te amo...

amar-te é meu segredo

amor é malha que teço

tua ausência me dá medo

e ao temer, tanto padeço!

corre tempo, dizes-te meu

mas perdido nunca chegas

este amor por ti cresceu,

e tu amor, tanto te negas.

não querer assim, queria

e é tanta a minha agonia

mais negas, mais te quero

ao desespero, meu apego

apregoo aos quatro ventos

que um dia!?

perco o fio à meada

e nem com reza aos Santos

farás de mim tua amada!

natalia nuno

rosafogo

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06/1965

sou tua morada...

deixa que eu te diga

que és meu sonho, minha vida

para ti escrevo sempre num raro

idioma, preciso dizê-lo

já que a vida me toma.

és o sol que me aquece

contigo as horas ardem como fogo,

esqueço tudo ao redor, e logo

poiso em teus olhos meu olhar

dá-se a chegada da lua

que os corpos nus vai cobrindo

a ver-nos amar...sem nos interrogar.

acolho-te no meu corpo até de madrugada

fazes de mim tua morada

e é sempre o tempo pouco

para este querer tão louco.

sou a foz do teu desejo

em cada abraço, cada beijo

abrimos a a porta do coração

e em breves segundos

esquecemos a solidão.

natalia nuno

 rosafogo

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10/2006

o perfume das rosas...

dobra os lábios num sorriso

com o perfume da rosa,

é tudo que preciso

na minha alma mimosa

a minha espera permanece

em aberta paixão

o amor, minha única obsessão

que se aproxima e evade

numa sensual recordação.

os lençóis ainda quentes

sofrem a tua ausência

caem lágrimas nos vidros

no coração uma ferida aberta

destroçados os sentidos.

oiço o sonâmbulo vento

nesta noite escura e deserta.

eram sede nossos corpos

de fogo e de ternura

inventávamos sonhos 

e éramos felizes com nossa loucura,

hoje a vida é resignação

é paisagem de estio

é a insistência de caminhar

com o coração cheio de frio

e a saudade em nós a morar.

natalia nuno

rosafogo

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