sábado, 27 de fevereiro de 2021

memórias de mim...

                                                        

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lembranças melhoram nosso estado de espírito, revisitar boas memórias, é fugir à melancolia, conservemos pois as lembranças bem vivas, os momentos memoráveis trazem-nos paz e bem estar


natalia nuno

vou acender a lareira...



vou acender a lareira
fazer a reconciliação com o tempo
e deixar-me engravidar de saudade
lembrar daquela lareira pequenina
onde eu menina me sentava a comer as migas
de café...
depois dum dia frio mas ensolarado
onde me deixava baloiçar ao sol
horas a fio.
faço uma pausa recomponho-me
aqui não há cheio nem vazio
calor ou frio
há somente uma torrente de recordações
que vão desmonorando com o caminhar já longo
sardinheiras em flor, águas que me falam d'amor
papoilas de abraços que ainda me seguem os passos
e tudo tem uma razão, tudo faz ninho em meu coração
visto-me de auroras, agasalho-me nos poentes
e assim, as horas passam-me indiferentes
vêm as rôlas, as cotovias
e os melros que poisam nas malvasias
ouço as enxadas de sol a sol
e morro no tempo a saber-me viva
afrouxam os dias, e eu semeio versos
crepita a saudade da terra e do pão
e em mim cresce a solidão...

natalia nuno
rosafogo





sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

há sempre um silêncio...



há sempre um silêncio pronto a atacar-lhe a solidão, sempre a acompanhar-lhe os passos e a cortar-lhe o coração, voejam com ela pássaros pretos que atravessam o vento e deixam-lhe o pensamento cosendo e descosendo lembranças, trazendo-lhe mil recados de tempos amados, dos seus brincos de princesa, do baloiço da oliveira, do rio ali à beira, e a certeza dos besouros arrecadados, do pés descalços, da amoras dos silvados e das horas atrás dos vidros embaciados...há um silêncio que a faz morrer de cansaço, sabe que o sonho é sempre de ida e volta à realidade e ao abrigo dos sustos carrega nela a saudade... as asas andam p'lo chão mas, hoje traz um silêncio fresco no coração.

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

hoje o céu desaba...

 

Hoje o céu desaba, tenho saudades do céu azul e brilhante, o dia está cinzento parecendo com pressa de desaparecer, sinto-me triste, aperta-se o peito num nó, e é perturbador sentir que o cinzento do dia me vira do avesso, é como se tivesse encharcada até aos ossos, e não conseguisse escapar à tempestade, meus olhos que são verde terra envoltos em rugas e sorrisos de raios de sol, hoje estão de negro profundo, com lágrimas soltas pelo rosto, como pequenas gotas de saudade, basta fechá-los para ouvir o som de notas harmoniosas e concentrando-me, na minha mente surge uma nuvem branca como bola de algodão...semiabertos e sem brilho sorriem agora com o fulgor duma fonte que espalha mil gotas d' agua brilhantes... ouço o canto, as notas são dum alaúde, será sonho?! Ou estarei à beira de adormecer, sonhando com alguma área musical da minha juventude? Não! É apenas o fogo da minha imaginação, minha ansiedade oscila como o vento e eu sou um pássaro feito desejo,  que espera a primavera que há-de chegar, é esta a minha força para continuar! De saudade me comovo, desço pelo tempo através de imagens, regresso à criança e aí começa o sonho, meu coração renasce, sai da gaiola onde esteve prisioneiro, o tempo esboroa-se, liberta sou mais eu, esqueço a cilada do tempo, tão simples assim... saudades de mim!

natalia nuno
rosafogo
2010

sem saber de mim...



sem saber de mim, procurei recordar
e dei com uma tormenta, quebrei a solidão, 
fiquei atenta, 
o sol brilhava e dizia-me que era quase primavera, 
fiquei à espera, 
a amendoeira floria, mas o que eu mais queria, 
era encontrar-me para defender-me do inverno, 
esquecer o inferno que é o frio na alma, 
quando a noite desce sobre mim,
e esquecer os dias sombrios por fim,
romper a névoa que é forte no meu olhar, 
esquecer a morte... 
o tempo que me atraiçoou, 
que fugaz me levou, e me faz procurar... onde estou?!
cruzo o olhar com a vida mas até ela duvida...
finda o dia e com ele me afundo, 
sou afinal esta hora do entardecer...a morrer.

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

pássaro cativo...



erguem-se muros de tédio
há sombras a espreitar-me o rosto
maldição a minha, sempre
de caneta na mão
a vida sem remédio
meu tempo é de cinza e, lamento
o sonho  açoitado p'lo vento
sou árvore sem raiz
torvelinho de emoções
inúteis os cansaços, ave cativa
só com a saudade dos abraços
as recordações, me mantêm viva

cruzo o silêncio
meus últimos passos
na derradeira estação
perdida a tentar encontrar-me
na espera que o tempo me peça perdão
e  deixe de espiar-me.

natalia nuno
rosafogo



borboleta sem asas...






ausência de palavras
traz-me inquietude
sinto-me enclausurada
e ninguém me entende
não há nada que mude
ou dê rumo a esta minha estrada
o que a gente sente nesta negra
bruma, neste instante
em que até a palavra anda distante.

nos olhos trago cores de inverno
no pensamento sonhos amontoados
na memória a nudez, o vazio
árvore sem vida de troncos queimados
no silêncio onde me refugio
borboleta sem asas...

natalia nuno
rosafogo

pedacinhos de felicidade...


guardei poemas e cartas
guardei tudo para me deleitar
na contemplação 
as gavetas estão fartas
meu Deus...mas os poemas e as cartas
tocam o meu coração!
é certo que é peso morto passado
postais, poemas, fotografias,
de alguém que terei amado
noutros tempos, noutros dias
aquando da vida tranquila e sem pecado.
dou mil voltas aos papéis
tudo fica organizado, 
alguns atados com cordéis,
a cada um meu apego
pois cada um me traz saudade,
dou-lhes mil voltas não nego
para mim pedacinhos de felicidade.

fecho de novo as gavetas
calada...vendo como as coisas são!
coloquei madressilvas, arrumei as canetas
para mais tarde escrever, quando abrir meu coração.

não é isto ser feliz?!
não podem tirar-me nada
pois tudo o que sempre quis
tenho na gaveta fechada.
nas minhas veias corre um  rio estranho
e no pensamento sonhos em rebanho,
nas mãos fragrância silvestre
que resta dos carinhos que me deste.

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest

domingo, 21 de fevereiro de 2021

inventário de ilusões...




ouço o papel adivinhando
minhas ideias,
olhando-me sedutor
e eu olho as minhas mãos alheias
sem saber o que escrever
ou saudade ou amor.
dei à mão a dor na obscuridade
e vou tão somente falar de solidão,
ouço os caminhos do vento
e com saudade
muda, deixo-me amolecer sem alento.
as memórias dormem perto de mim
à espera que surja o esquecimento
a dor dos versos seja densa na folha de papel
e me esqueça por fim.

com insistência o papel me olha
na noite caem estrelas acende a lua
na jarra uma rosa tristemente desfolha
morre -me a palavra fico nua
mas eu serei sempre tua!
cerro os olhos para ver claro
tudo o que me levou o tempo avaro
choro por dentro, embacia-me o olhar
desce a angústia, a que não me quero entregar,
esculpo nos versos o silêncio que passa
e um inventário de ilusões,
por ora ninguém me abraça
morrem os afectos, restam recordações.

natalia nuno
rosafogo