domingo, 12 de janeiro de 2020

a saudade fez-se poema...



não posso perder as horas
nem perder a agilidade
poderei querer ir sem demoras
até onde pode levar-me a saudade
lá ao ventre das coisas
à maciez do cheiro
do xaile que me agasalhava
onde o sono era profundo
ao colo de quem me amava
escorre a maresia pelas heras
e eu preciso renascer
das coisas cansadas, das esperas
dos anseios, dos cardos do caminho
e voltar a querer ver
no cabelo flores de cerejeira,
ser possuída pelo vento na eira,
rir-me da dança das folhas no outono
pescar no rio sem anzol
correr pela aldeia sem dono,
e apanhar com as mãos as estrelas e o sol.

e assim, tudo floresce em mim
como flores que nas margens vão crescendo,
nas minhas feições o sorriso
por tudo o que está acontecendo.
é sonho, é caminho de utopia
mas preciso de sonhar e ousar
trazer de novo a felicidade ao meu dia,
parei na ponte, ouvi em êxtase o tocar do sino
aqui me sei ser, caminhei como peregrino
para aqui chegar, e mais acima esfacelei o sorrir
fecharam-se as portas e janelas
que só meu sonho pode voltar a abrir.

natália nuno
rosafogo




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