quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

tão inimiga de mim...



com as mãos estou escondendo
os olhos com que me vejo
sendo amada ou não sendo
o que vejo,
traz-me sentimento que não almejo
sem graça, nem formosura
tão inimiga de mim
a que vejo é uma tortura
que vai comigo até ao fim
para que não me diga a dor
que de vê-la fica louca
encubro os olhos melhor
e assim menos sou, menos estou
nesta vida que é já pouca.

mudaram-me minhas vontades
e é já vã a minha esperança
escondo-me em mim com saudades
e aceito qualquer mudança

e assim com as mãos escondendo
suspiro imaginando
que a outra, não sou eu morrendo
é meu coração de aço gritando.
deixei há muito a nascente
já no outro extremo estou
antes que a morte me atente
ou em tal desventura me veja
meu rosto emudece, menos sou,
menos estou...
quer Deus que assim seja.

natalia nuno
rosafogo





quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

um punhado de palavras...



trago um punhado de palavras
algumas banais
que habitam em mim...
nelas vogais que falam demais
e consoantes fulgurantes
que ressurgem como gaivotas
palavras de sonhos,
palavras mortas,
adjectivos que gritam
metáforas musicais
e as tais vogais
que falam demais.
moldo-as à minha maneira
as sílabas soletram a vida
palpitando no coração
os gerúndios amando, arrebatando
escutando e penetrando
a memória no calor da noite
pondo-me velha a lembrança
de quando era criança
palavras que são fantasia
não sentem a dor de que me queixo
senão meu mal lhes contaria!
mas contada por elas não deixo.

palavras, utopias
nos meus versos as cantei
nada me impede de lembrar,
quantas vezes as encontrei
desistindo, de por mim esperar

natália nuno
rosafogo
escrito em 1988

desesperança...



saudade de quem se ausenta
saudade de quem já partiu
saudade que não se aguenta!
de quem nunca mais viu...

tanto lágrima à despedida
tanto choro, olhos no chão
tanto beijo alma partida
partido ficou o coração...

quem partiu jamais voltou
da realidade resta lembrança
saudade no coração apegou

os pensamentos em trovoada!
grão d'areia que resta d'esperança
à volta sempre saudade redobrada.

natalia nuno
 rosafogo

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

a idade da primavera...


num sonho só meu
balanço na crista duma emoção
subo até às estrelas
e lá no cimo, desfraldo o coração

como se fosse bandeira

e canto como pássaro à beira
 d' água.
volto a abraçar-te sem mágoa
pego nas tuas mãos
olha a tremura dos meus dedos
os segredos d'alma calada
as turbulências na minha voz 
desordenada,
isto é amor e saudade,
da idade da primavera
quando tudo sobra e nada falta nela
e a felicidade todos pensamos
merecê-la...
idade vencedora e nunca vencida
com o sonho sempre à mão
a alma de esmeraldas guarnecida
e de ouro vivo o coração.

natalia nuno
rosafogo



segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

meus dedos bailarinas...





os gemidos que saem
dos meus dedos, ninguém sabe,
ninguém ouve...são segredos,
impulsos que não venço
e cada vez mais me convenço
que me hão-de levar à loucura,
dedos que deslizam em pontas
como bailarinas, ternura,
meninas...sempre prontas
a esboçar em vôo, leves plumas
ingenuidade de quem sonha
sem certezas nenhumas...

orquestram verbos de desejo
possuem fogo no coração
meus dedos pássaros de ilusão
espalham aos quatro ventos
o acordar dos meus pensamentos
escrevem palavras de amargura
outras tantas de prazer
sorriem à minha loucura
minha alma fica ruindo
e o meu coração partindo
meus dedos lembram
um mirto florido
a enternecer meu coração
pela saudade vencido.

natalia nuno

domingo, 15 de dezembro de 2019

a dor da solidão...


tudo o que cala
segreda aos sentidos,
escondida atrás da cortina
ausenta-se de olhos caídos
mas não cede à vida
e se a dor da solidão a alucina
não se dá por vencida.

fala do tempo louco
do tempo que é já tão pouco
prá morte que a vida ofusca
mas a palavra que não fala
ela no coração cala
e a felicidade, ainda assim busca.

o tempo agora é pássaro a voar
sonos e sonhos se soltam
e sempre a solidão a insinuar
que os dias risonhos não voltam.

natalia nuno
rosafogo
imagem pintarest