sexta-feira, 8 de novembro de 2019

esta dor que não sara...



inquietante poema de paredes brancas
onde procuro o rosto que não encontro
poema onde me sinto borboleta ferida
levada por um vento que não pára
poema onde consta que já fui
e hoje é dor que não sara
o que sobra duma vida.

poema onde me deixo pensativa
onde dou a mão à dor
pela tristeza acometida...
poema duma dor que sopra fina
e me traz a saudade de menina
e do tempo que agora apoucou
mal ela se descuidou
já tudo é passado
só a saudade a meu lado
me faz companhia
tal como esta poesia
que deixo no umbral do meu sonho.

natalia nuno
rosafogo

fito a folha...



o coração pulsa sobressaltado
sempre que lembro o passado
fito a folha em branco, o tempo aborrece
já nada acontece
a vida é apenas um segundo
deixo-me no meu recolhimento
profundo...
nesta já longa jornada
há um oceano a jorrar em mim
de saudade,
trago a vida presa a nada
e esta sede que não passa
sinto-me assim saudosa
parte de mim deseja gritar
de contentamento
outra me desafia à solidão
e um mau pressentimento
se instala no coração,
que insensato,
na ilusão bate 
forte...fugindo à morte.

natalia nuno
rosafogo

como tudo pode mudar um dia?...



à tardinha a terra é morna
rejubila o meu coração de outono
à memória sempre torna
aquele aroma da infância
onde a sonhar me abandono
trago a ânsia das estrelas
o delírio de voar
dou-me conta dos sentimentos
da saudade que não sei calar

a vida outrora dava-me alegria
como pode tudo mudar um dia?
na memória sobrevive o que amamos
o que trazemos ainda no coração
o rio, o loureiro, o carreiro
o nosso chão...
cresceu o trigo, cheira a pão
lá vou eu criança levada p'la mão
cheira a fumo, o fogo é lento
vejo as chamas a dançar
cresce-me um sorriso
afinal, nada caíu no esquecimento

natália nuno
rosafogo


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

tentação...


venho de nenhum lado
venho de lado nenhum
trago tanto recado
vou dizê-los um a um
deixei o pão a cozer
já fui ao rio lavar
vi-te, não me quis perder
trago os olhos a pecar

vinhas tu bem tranquilo,
e muito bem engomado
disseste-me isto e aquilo
não me levas a nenhum lado.
eu como as outras não sou
não vou cair em pecado
a nenhum lado eu vou
já te mandei o recado.

és a minha tentação
mas em ti, não confio não!

natália nuno
rosafogo

amo a luz...





quando o sol dorme
adormece o coração
amadurece a escuridão
e, eu que amo a luz
acalento a esperança duma nova madrugada
logo a minha alma respira
e o coração bate
no desejo de ser amada.

natália nuno
rosafogo

caminhante...



por amar intensamente
não dei p'lo tempo a passar
a vida correndo lentamente
se esqueceu de me avisar
tem vindo de mal a pior
voando que nem estorninho
e há-de vir um mal maior
de súbito, a travar meu caminho.

natália nuno
rosafgo

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

dia azul...



onde quer que eu vá
o fascínio me vence
olhando o mar, 
olhando os céus
e os lábios teus
pousados nos meus
uma festa para mim.

tudo o que me resta
povo-o de sonhos
assim:
se o dia é azul
e o amor romance
ponho o sol de permeio
onde quer que eu vá 
ao sonho me enleio.

natália nuno
rosafogo

a sorte e o norte...



tanta ternura adiada
como se tempo tivesse!
quando o tempo é
pouco mais que nada,
depressa ou devagar
sempre o destino a traçar
a sorte e o norte
a teia perfeita
e um lento desabar...

natalia nuno
rosafogo

a ti me dou...



olha-me nos olhos firmemente
tudo neles te revelo
este amor que acalento
denso como as águas do mar
arco-íris no firmamento
que o tempo levará,
mas devagar...
toda a ti me dou
de ti tudo espero
como o moinho espera o vento

- é assim, este amor que acalento!

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

porquê?...



porquê então tudo o que sinto
dentro desta noite morta?
este vazio maldito
que me vem bater à porta
sussurro tão em surdina
o que a memória me traz
por inteiro...o cheiro do pão
e eu menina com as pestanas a arder
e no peito saudade a conter
o ar da noite está abafado
e eu morta por viver!

que toda a noite brilhem estrelas
que avisto por cima do pinheiro
serão a minha companhia
e na mesa aceso o candeeiro
enquanto não desponta o dia

nesta noite funesta
é um dó de alma
não poder sonhar
e tudo o que me resta
é este tempo velho desleixado
e os pensamentos num constante
vai e vem, e por recordar
já nada, nem ninguém.

natalia nuno
rosafogo





incompreenssível...



nunca está quieto
é queda de água a bater
marca a compasso a mágoa
de não te ver
finalmente quando acalma
este coração que me consome
e aflige a alma
parece acomodar-se
mas vive sempre a balançar
entre o amor e a paixão,
baloiça meu coração!
bruscamente reage
e diz o que sente
depois, parece morto e parado
mas de repente
desperta cá dentro
e como um cavalo no prado
corre galopando em busca do
sonho


natalia nuno
rosafogo

palavras...



trago um punhado de palavras
algumas banais
que habitam em mim...
vogais que falam demais
e as consoantes fulgurantes
que ressurgem como gaivotas
palavras de sonho
palavras mortas,
adjectivos que gritam
metáforas musicais
e as vogais
que falam demais
moldo-as à minha maneira
as sílabas soletram a vida
palpitando no coração
gerúndios amando, arrebatando,
escutando e penetrando
a memória no calor da noite
pondo-me velha. a lembrança
de quando era criança.

natalía nuno
rosafogo


domingo, 3 de novembro de 2019

há coisas que doem...



morre o sol na minha face
acabou-lhe com o sorriso em botão,
ensombrecem os verdes do meu olhar
quando à noite na escuridão
nem teu abraço pra m'enlaçar 
este anseio que cresce e se apodera
de mim, é como febre que queima
e que a todo o momento teima
sussurrar-me como uma prece
- o teu corpo ainda tem asas!
e logo a saudade aparece
e se cruza no meu peito,
tudo volta a ser meu por direito
o sol nasce a meio da noite
coloco o sonho na almofada
e quero por ti ser amada...

mas a vida sem sonho não dá em nada!

natalia nuno
rosafogo


o acaso...



poisou o acaso em mim
deixou-me sorriso triste
tentando desviar-me assim
por caminho que não existe
e por becos apertados
sujeita a tropeçar,
nestes poemas calados
com tristeza a soçobrar

natalia nuno
rosafogo

romance...



este fogo que se acende
e que tanto me prende
traz ainda o sabor do beijo
da primeira vez
e o desejo aperta
sem quês nem porquês
na altura certa!
e logo a ternura
está ao nosso alcance
e assim continua, o nosso
romance...

natália nuno
rosafogo

versos humildes...




Ah! Meus versos são de sonhador
minha alma floresce com a madrugada
trago no peito a jóia que é o amor
estremece-me a voz apaixonada,
há rosas e lírios no meu jardim
sonhos que não morrem mais
aos montes,
como estevas e alecrins,
que humildes, são tão divinais.

natalia nuno
rosafogo