terça-feira, 1 de maio de 2018

alquimia...



olhando-me há sempre um pássaro negro
pairando sobre mim em observação,
e não sei com precisão
quando me arrancará o coração
desce em vôo picado,
do nada
roça as penas no meu rosto.
cansada, deixo-me presa
em silêncio, ensimesmada.
o entusiasmo esmorece,
os  cabelos branqueiam
e não há como ripostar
acontece,
impossível recuar
e a jovem que era audaz
de pouco é capaz
fixo os olhos sobre o céu cinzento
onde uma ave cinzenta bate asas
suavemente, e penso, como um rio lento,
se ao menos fosse um regato, precipitar-me-ia
pela montanha num suspiro de alívio
serpenteando o corpo d'água fria
numa constante alquimia

mas, uma ave negra virá com voz sonora
e me dirá... está na hora!
aí serei como chuva tardia
que chega, mas parte no dia!
os anos foram-se rapidamente
tomo uma chávena de chá forte
e mais uma vez me deixo à sorte.

natália nuno
rosafogo






2 comentários:

  1. Por que se deixar à sorte!?
    Quem quer é que faz a hora!
    Ficar do lado de fora
    Do intento, é não ter norte.

    Precisa ser grande e forte
    Para buscar sem demora
    A luz, que se comemora
    Antes de chegar a morte.

    Que tudo adia, não faz
    Não vive e não fica em paz
    Consigo e nem com alguém

    Que mostre-se mais capaz
    Para pois fazer num zás
    O que a todos convém.

    Grande abraço. Laerte.

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  2. Meu caro amigo Laerte, estes são desabafos de quem já muito viveu e, vive na ilusão da eternidade, sabendo que algum dia chegará ao fim do caminho, mas vou contrariando a inquietação e sonhando mais um pouco.

    Obrigada pelo soneto que me deixou, preciso de facto ser grande e forte, grata pela força e pela visita.

    Um apertado abraço

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