sábado, 5 de novembro de 2011

ÚLTI MO ACTO



Antes do último acto terminar
saio de cena,
com o coração trespassado
o olhar espantado.
E se alguma coisa  quebrar
Vai ser a palavra... tenho pena!
Palavra que me reconfortava
e em mim fecundava.
Ela que se arremessou contra meu peito
Se levantou enlouquecida
E sem me ouvir...assim de qualquer jeito,
se quer fazer ouvida.

Cai o pano de improviso
Há gargalhadas p'lo ar
A balbúrdia é  geral
O terceiro acto correu mal.
Levo o coração quebrado
Muito ficou por dizer,
que escapou entre o esquecimento,
como a frescura da água por beber
Lamento...lamento...lamento!

Neste palco fiquei destruída
Definitivamente quebrada
Que esperança ter
numa nova jornada?
Teatro é a Vida
Nele há esperança de verdade
Mas acaba mal o sonho
Resta a saudade.

Acabou a insólita peça
Houve palmas, apupos, e até gritos!
Agora não há quem meça
os ruídos (do meu coração)
aflitos.
Fui até directora de cena
Declamei de improviso
corajosamente no meio da multidão
Saíu mal, tenho pena!
Por isso saio sem aviso.
Sem esperança, fé, ou resolução.

Largo o traje a rigor
Com que vos saudava então!
Dos aplausos levo o calor
E para o olhar final, levo a peça na mão.
Nestas mãos cansadas, parideiras
de versos tantos!
De saudades, atiradas em prantos,
onde a palavra se faz ouvir
Até no dito que não pronunciei
Nas folhas de outono a cair
Na jovem que não existe,
na dor que calei.

Levo  a interrogação na boca
que em mim não esquece
Por que será a vida tão pouca?
Que já o pano desce.
Saio de cena!

natalia nuno
rosafogo
imagem retirada do blog imagens para decoupage.




sexta-feira, 4 de novembro de 2011

JÁ OS CHOUPOS SE VERGAM


Já o trigo se dobra
ao amor p'lo vento
Também a vida me cobra
A plenitude do momento.
Já os choupos se vergam
sobre as águas do rio
Também meus olhos enxergam
Dias vindoiros de frio.
A ave voa peregrina
p'lo poente dourado
Esqueci meu tempo de menina
Que passou...é passado!

Corre o regato no vale
Pressa leva no caminhar
A esquecer todo o mal
Chovem meus olhos ao te olhar.

Passa o vento e faz rumor
Esquece a tarde que o poente dourou
Como pássaro abrigo-me amor!
Que o tempo de mim te  levou.
Andam  pardais nos olivais
Decoram a paisagem alegremente
À vida ninguém foge jamais,
ao sofrimento,
ao tempo inclemente.
Tudo nela são passos contados
É preciso viver cada momento
E agradecer de joelhos prostrados,

os dias cobertos duma certa claridade
são agora sombrios
são a forma
que é nos meus olhos
saudade.

rosafogo
natalia nuno



CAPRICHO (pequena prosa)

H. Zabateri decoupage

Ontem não vimos o sol, choveu sem violência, e ficámo-nos a olhar o rio, esse rio que já é oceano, surgiram mais umas rugas nas têmporas, enquanto as nuvens se afogavam na luz morna da tarde. A noite é agora carvão e o horizonte já abraça o crepúsculo, e eu recordo o dia de ontem, pois a amizade me arrancou um sorriso.
Amanhã uma luz macia trará um novo dia, e eu serei o que sou por quanto tempo DEUS quiser, me enviará um sopro doce do vento para me adoçar o peito, que pende um pouco para a tristeza.
A vida vai-se prolongando
e botões de lírio (sonhos) vão despontando.

natalia nuno
rosafogo

NÃO É POETA QUEM QUER (pequena prosa)

http://imagensdecoupage.blogspot.com/


Está dito que não é coisa fácil. Poesia é coisa séria, desista qualquer escritor de a tentar criar, não é por saber muito, nem muito bem saber escrever, poeta pode ser até analfabeto, porque a poesia lhe vem da alma, lhe nasce dum dom que possui

do qual nada o fará desistir por mais que tente. O Poeta se afeiçoa à Poesia, vem-lhe da grandeza dos seus sentimentos, e ainda que os outros lhe apontem... defeitos, ele a acha uma obra superior.

Entristece se lhe fecham as portas, se o excluem, alegra-o o poder contribuir, satisfaz-lhe a amorosa admiração dos amigos,

tal como ele com sensibilidade e riqueza de expressão, numa serena ou sobressaltada esperança de dar o seu melhor.

Na Poesia se expressam sentimentos de saudade, de sofrimento, de amor...haverá porventura mais belo? Nada se lhe pode igualar! A poesia é um impulso que vem da alma, testemunho de autenticidade.

Eu e a minha mania da prosa...vou tentando, isto que hoje escrevi é o que sinto, os poetas são gente, por outra gente julgados loucos.



natalia nuno
rosafogo

"Poesia são pensamentos que respiram, e palavras que queimam."
(Thomas Gray)
Bom Fim de Semana!

SONHOS QUE ME NAVEGAM

H. Zabateri decoupage

Sonho que sou menina
Não quero nunca despertar
Remonto à origem do meu caminhar.
Conquisto o azul celeste
As asas me dão coragem
Visto-me de penas, de alegre plumagem.
Ando perdida num mar de açucenas
Sei apenas...
No sonho sou menina
Perdida na neblina.

Meu sonho!
Me reconforta a esperança
que em ti ponho.
Salpica saplica-me de alegria
Não me fales de dissabor
Deixa um sussurro em Poesia
Tira do meu coração a nostalgia
Abre novas janelas ao amor.

Ajuda-me a dizer não
a todos os nãos
Sim á felicidade
Deixa-me  agarrar com as mãos
Da vida a cumplicidade.
Porque a vida é um trino ardente
E eu ainda me sinto gente.

rosafogo
natalia nuno

ESTADO DE EXALTAÇÃO (pequena prosa)

http://imagensdecoupage.blogspot.com/

O tempo nunca volta para trás e passa rápidamente, tentamos agarrá-lo mas impossível e vai deixando marcas irreversíveis em nós.
A juventude é um mito, é como a primavera nos canaviais e nos juncais, onde adejam borboletas, onde poisam os pássaros chilreando, onde passa a  brisa sussurrante, mas logo de seguida surge o outono e logo, logo o inverno e a sorte muda surgem as folhas secas caindo, os dias cinzentos e na vida os sonhos se apagam. O meu mal mesmo, é que não aprendi a envelhecer e agora é como se o combóio já não parasse na minha estação, então, insurjo-me contra o tempo, apesar de saber que não posso recusar o inesperado.

Nasci para a Poesia, há em mim um estado de exaltação quando escrevo, chego a pensar que é uma manifestação espiritual que me habita.

Ás vezes tenho tudo e não tenho nada!

natalia nuno
rosafogo
imagem do blog imagens para decoupage

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

AO LONGE...(pequena prosa)

http://imagensdecoupage.blogspot.com/

Um dia não precisei mais de chorar, era menina de sete anos de idade, tinha meu vestido vermelho
e fui à escola no dia seguinte, devo ter-me achado uma senhora, pois não chorei mais por bonecas que não tive. O meu coração batia descompassadamente, mas feliz criei em mim novas esperanças, afinal ía começar uma nova etapa. Ainda agora remexo nessas minhas feridas, mas recordo  também os caracóis que deslizavam pelas costas, esqueço os presentes que sonhei receber, lembro o tique taque do relógio de parede da sala de aula. Ah... e como recordo tão bem as primeiras letras que consegui
rabiscar, olhei e acreditei que um dia as transformaria em Poesia. Assim quando o sol nasce e o céu está limpo, eu fico serena de pés descalços no regato de água clara e os sonhos voam altos, como o pássaro suspenso da árvore.

NÃO SENTES?

H. Zabateri decoupage

Tenho sede do teu abraço
Do teu beijo arrebatado
Meu coração campo de lamento
Meus olhos passo e repasso
E um soluço arrastado
Que o suspiro vai detendo.
Conto longas horas sem ti
Vive -me um sonho,
esse que ainda não vivi.

Olho a noite que me arrebata
Trago sem esperança a oração
Minha boca condenada de antemão
A vida já me mata!
Morre a cada instante a paixão
que trago de longa data...
Bem dentro do coração.

Recolhe-me no teu olhar
Deixa a marca dos teus dedos
Ah...se me atrevesse a falar
A falar-te dos meus segredos!

Levanta-se um novo dia
Meu coração açoitado p'lo Outono
Olhei  o céu ... chovia
Olha como te espero...
Venha já esse dia!

Chove  solidão no vale da minha alma
Amorosamente em ti me abandono.

rosafogo
natalia nuno

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

COMPANHEIRA DA MORTE AMANTE

H. Zabateri decoupage

A geada me quebra,
Mas meu coração escolheu viver
Se mudar esta sorte
E o frio me arrefecer?
Surjirá a visão expectral
da morte,
e no peito um vendaval
reclamando que é hora.
Sentir-me ei a afastar da terra,
irei embora,
com flores e odores.
A alma, a levará os ventos
Tocarão os sinos
Ouvirei lamentos.


Provarei o sabor
da terra molhada
Despedir-me-ei do horizonte
E irei do nada para o nada.
Um pedaço de terra a monte.

Ali os restos ficarão caídos
Não se ouvirão mais gemidos.
A VIDA é este apagar!
É este machado cortante
Traz o desejo de enganar
É companheira e
da MORTE amante.

rosafogo
natalia nuno

imagem retirada do blog decoupage.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

DIGO NÃO OU DIGO SIM?

H. Zabateri decoupage

Saudade é coisa que dói
Vigia o pensamento que esquece
Tanto o tempo que foi
Que é noite e não amanhece.
Toca com os olhos as imagens
que deixámos atrás
Toca com os dedos a solidão
em mim
Traz a nostalgia e faz
que me entregue como rio ao mar
 a ti assim...
Digo não, ou digo sim?
A esta força que me faz mover
Ao toque da tua mão
Digo sim, ou digo não?
Caio num abismo 
de prazer!
Saudade do meu olhar-te
Da minha respiração sufocada
De contemplar-te
Saudade é agora rajada.
Lembrando a juventude generosa
Porquê calar tanto sonho
nesta noite silenciosa.

rosafogo
natalia nuno
imagem do blog imagens para decoupage

domingo, 30 de outubro de 2011

MEU CORAÇÃO TE LEVA


Tens sereno e meigo o olhar
Que eu não quero deixar de ver
Lembra a luz do alvorar
Onde me deixo perder.
Um mar de sonhos povoa
Meu coração ingénuo e feliz
Já não há dor que me doa
Foi Deus quem assim o quiz.

És o sol em meu destino
Estrela que alumia em noite escura
Qualquer coisa de divino
Meu sonho audacioso,
minha ventura.
Enquanto a chama arder
nos corações,
Vive em nós mil razões
Para crermos no amor.

És passado, presente e futuro
A margem por onde caminho
Amor onde livremente me enclausuro
Para disfrutar o teu carinho.
És a luz onde sempre regresso
Onde esqueço,
o rosto perdido no tempo
(sombra duma foto antiga
desbotada p'la fadiga).
Assim é real esta ventura!
Enche as vidas... é felicidade!
Ouve meu coração que murmura
Ronda por perto a saudade.


rosafogo
natalia nuno