quinta-feira, 3 de outubro de 2024

minha passagem por cá...



das minhas mãos, já em movimentos lentos nascem palavras que estalam na mente,
e diante do meu olhar, estranhas visões, que pouco me deixam entrever, há silêncio puro
como se elas quisessem fazer-me segredo, e a medo surgem borboletas voando como suaves
sorrisos, meu rosto irradia inocência, como se eu voltasse ao primeiro ano da minha existência
- nesse tempo existia uma ternura cega, e um amor inteiro, a conversa era mais viva, e o silêncio era um mar calmo, um mar de lua e luar, onde os pensamentos fugiam nas ondas do centeio e do trigo, e o rio corria veloz em cascatas aqui e ali... vencidos pelo cansaço, caiam os corpos no leito, despojados de desejos, despiam-se do dia e vestiam-se da noite, até deitarem a cabeça na almofada até de madrugada.
na fronteira da manhã, começava o dia, um novo recomeço, a reconciliação com a vida... passaram os anos velozes porém nunca esqueci, quase tudo que vivi!

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natalia nuno

terça-feira, 1 de outubro de 2024

solidão...


esta solidão, obstinada e fria
faz-se convidada dia a dia
parece disposta a tudo,
deixa-me com sentimento estranho
enche-me os olhos de água
e saudades sem tamanho
morrendo a cada momento
- de mágoa

teimosa solidão que nunca me
abandona
que se funde nas minhas horas
e tenaz me aprisiona
cava a sombra dos meus olhos
sinto-a na minha respiração
dou-me conta dos seus intuitos
perversos
impõe a dor nos meus versos

é labirinto na minha mente ferida
onde não existe agora mais
- que saudade!
e um relógio sem ponteiros
que esqueceu tempo e idade

só um tanto d' amor e riso restaram
e a poesia que me dá a mão
e arrepia meu corpo de paixão
por ela.

natalia nuno
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tímido voo...



o clamor quase apagado, a tarde morrendo e os raios de sol já escassos, tanta nostalgia que nos consola de alguma dor, e nos protege do esquecimento... lembrei meus dias na eira, ajudando a arrecadar os figos secos, um tímido voo até à infância, onde nos julgávamos alegres e perenes, outono chegava, íam-se alterando as cores das folhas do verde seco ao pungente ao vermelho, a nostalgia atravessava as tardes mornas, decorriam os últimos instantes da despedida do sol, era hora da ceia, ditosa a presença dos mais velhos, uma ave selvagem deixava um gemido enquanto procurava um abrigo, e à mesa rezava-se oração, tudo me enche o coração, os olhos, a memória é ressonância viva... cresce a saudade em mim, uma cegueira.

natalia nuno

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domingo, 29 de setembro de 2024

sentires...




palavras nem sempre delicadas
algumas difíceis de engolir
outras porém são tão amadas
quando recordar é seu sentir

palavras cheias de melancolia
feitas de abraços e partidas
palavras onde chorar no dia a dia
é reviver as alegrias perdidas

palavras que chegam na primavera
e outras tantas chegam no outono
umas deixam sonhos na espera
e outras nos deixam ao abandono

soam-nos palavras tristes, vazias
tão velhas, vão disfarçando a dor
de desperdícios de longos dias
e as sombras vividas sem amor

natalia nuno
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