quinta-feira, 11 de julho de 2024

o frio que em mim ficou...


sucedem-se um a um
os dias de espera,
passou o inverno
chegou a primavera

tanto ontem, como hoje
a vida me foge!

não há luz, nem escuridão
que toque meu coração
tal como é, tal como vem
o rouxinol canta
não o ouve ninguém

não há nada que me acolha
nem os frutos do meu jardim
só o poema me olha
em silêncio, com pena de mim

as recordações agarrei
com as pontas dos dedos
e nunca mais as larguei
sabe Deus os seus segredos

e o frio que em mim ficou
lembra-me a velhice d'hoje
saudosa de mim que estou
fico à mercê,
- da vida que me foge.

natalia nuno
imagem pinterest

segunda-feira, 8 de julho de 2024

o sopro que sobra...



o sopro que sobra, a esperança
que nego, a lágrima persistente, 
tiram-me o sossego
só o sonho, a tudo isto faz frente

os sentidos sofrem ameaça
e a memória é maré que passa

já tudo é inimigo
solidão sem trégua,
a vida tarde que adormece
tristeza a cada nova inspiração
contudo, ainda pulsa o coração
mas a memória esquece.

o esquecimento torna-se adulador
embora poderosa a lembrança
e a esperança
e assim, nem vencido, nem vencedor.

longo se faz o dia
a alma alquebrada
uma canção à lonjura e
o amor fecha a porta, deixa-a bem fechada

chegará então a hora da partida
sou matéria de colheita,
mas nego... nego o adeus à vida,
quando anda a morte à espreita

natalia nuno
imagem do pintarest