sexta-feira, 9 de junho de 2023

palavras que calo em mim...




as palavras que escrevo fazem-me sede
passeiam-se pela mente
são como pássaros desassossegados
quando pressentem tempestade,
com elas escrevo saudade
meus ais, e outras coisas mais que sinto,
palavras silenciosas, que falam de amores
e rosas, entrançadas de alquimia
palavras ao acaso... minto!
se disser que não sofro o punho do dia.

palavras ardentes, que me fazem sede
turvo o rosto que se despede
palavras que em rasgada rebeldia
levam para longe a tristeza, 
outras vezes minha alegria
palavras contam passos desolados,
mancham a almofada do meu leito
ao lembrar tudo quanto amei,
saudade faz refúgio no meu peito
e como dói só eu sei.

mas há sempre palavras que não perdi
que derrubam o meu verde olhar
lembranças do que já vivi
e choro de alegria,  ao recordar
a vida é fugaz pressentimento
derrubada pelo peso do tempo 
ainda de ternura às vezes me toca,
e as palavras escritas são sonho, ou são paixão
que envolve meu coração,
- quando me saem da boca.

natalia nuno
rosafogo


quinta-feira, 8 de junho de 2023

do pouco que resta...



memórias transparecem
e deixam o poema a chorar,
onde houve fogo e calor
há escuridão,
e saudade a marear
fecho a alma e o coração
e se o amor quiser entrar
cuidaremos desse amor
que no dia de ontem esmoreceu
sem doçura, nem desejo,
na lembrança tudo o que se perdeu

sustenho a saudade do olhar teu
pedaços de recordações me seguem
agora, sem luz meu horizonte, é
caminho indeciso, perdido o sorriso, 
nostalgia do pouco que resta
o esquecimento já me sombreia,
a longevidade não é uma festa!
há sempre um nada, que me aguarda,
um curto pensamento, como o rumor
do vento, que o medo semeia.

natalia nuno
rosafogo





quarta-feira, 7 de junho de 2023

às vezes perde-se o chão...



esta acalmia me entontece
deixo que a realidade se apague
e a mente tudo esquece
fica a ilusão, tua imagem por perto
e em meu coração um aperto
em vez de tédio, busco imaginação
no ar fresco que entra pela janela
a abrir-me os sentidos
a vida volta e traz a emoção
de instantes vividos
às vezes perde-se o chão
os olhos perdem a chama
o coração não ouve a razão
mas, ouve a tua voz que me chama.

quando os dias ficam curtos
e o céu em lágrimas se despenha
tudo se distancia, curto é o meu dia
um cheiro a terra molhada no ar
saudade não se faz tardar,
não há quem a detenha
intensa, que dói na memória.

natalia nuno
rosafogo





segunda-feira, 5 de junho de 2023

ave transviada...

permito que o silêncio me traga obscuridade
e sonhos de saudade, onde me acolho
arrebatadamente, escrevo um poema,
todo o meu pensamento a arder 
sem saber, o que ditar-me, para nele escrever, 
nem qual o tema, e detrás do silêncio, 
o coração que não sabe aquietar
relembra, velhas cicatrizes, 
mas logo me põe a correr,
- em dias felizes,
nesta leve e fugaz inspiração,
deixo que o sonho adormeça nestas linhas,
e esqueça, que os sonhos não regressam.

uma ave transviada me angustia
delírios me levam a outro tempo, a outro lugar
que palpita nas minhas veias,
que agonia, sonhar as noites cheias da infância,
acarinhar os antepassados, e ao acordar
só a vida sem alento, 
enterro este frágil passar na fronteira do presente,
num azul firmamento.
abre-se a janela ao coração de par em par
e uma lágrima seca, cai-me do olhar

a recordação chega e já fico confusa
o passado é irrepetível e lembrar traz-me 
pesar, o frio amontoa as ausências dos que
partiram, é este o preço cruel do tempo
ouço o chorar do velho rio que corre,
que pesadelo neste meu destino adverso
corre a vida vencida, também ela morre,
parto, sem escrever nem mais um verso.

natalia nuno
rosafogo