sexta-feira, 13 de agosto de 2021

miragem...




já não sei o que dissemos
de tanto que falámos
de tanto que vivemos
de tanto que amámos
já não sei dos afectos
nem do amor em voo alto
dos sonhos de amor repletos
só sei da vida em sobressalto.

não sei do amor que em mim se agita
que é como areia do deserto
ora certo, ora incerto
em desespero no íntimo grita...
amor feito de plenitude e liberdade
perfeito, amor que é agora saudade.

hibernaram as palavras entre nós
já não sei o que dissemos
a vida deu tantos nós
que com calados silêncios a pusemos.
no sonho que não fecundámos,
dos versos que não te li,
à tona de água naufragámos,
eu na dor da ausência morri.

nas horas amargas da solidão
sombras  adensam no pensamento
são tudo o que resta da paisagem
surgem com a força do vento
e rugem como trovão, 
são da vida, uma miragem...

natalia nuno
rosafogo



quarta-feira, 11 de agosto de 2021

de pedra e cal...



a esperança já pouco me aquece a mão que escreve, as palavras ficam na fronteira da solidão, e eu respiro devagarinho para não me perder p´lo caminho... vou olhando dentro de mim, procurando sonhos de vela acesa, já não tenho a certeza se a minha pele era de marfim, vem-me o desejo romântico de voltar atrás, cerro os olhos e por momentos sou capaz, estranha fantasia, quantos anos passados, escritos alguns versos de pouca valia, e vem-me à lembrança o pulsar do tempo, a aceitação da vida, tudo o que me traz saudade, as noites de luar que me faziam sonhar, as folhas rasuradas com palavras de amor bordadas, nesse tempo em que o amor era chama, canto e desencanto, tempo sem prazo que prometia ser eterno por acaso... entre mim e estes anos há memórias de cristal, que durarão pra sempre, de pedra e cal, a suavizar os meus dias...

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

ressonâncias...




voltei à rua soalheira, rua agora sombria que existe na minha memória, a que eu subia e descia, e onde o fresco era forte, onde esperava a primavera, uma lufada de sorte e o prenúncio do amor, era eu essa flor, apertada de sensações, deleitada de ilusões, era o abrir da flor de sorriso na boca, feliz com coisa pouca, a vida era então alucinação, enquanto o tempo passava com lentidão...que travessura o tempo nos faz, cada dia que passa a rua fica mais sombria, e eu já só procuro a paz, esqueço versos da juventude exaltada, esqueço a saudade chorada, trago o pensamento despido e o coração apaziguado, caminho na rua a quebrar de cansaço, com uma comoção grata seguindo o teu passo...deslizo por entre as sombras outonais, na inocência dos silêncios, apenas oiço o chilrear dos pardais e no vazio das minhas letras, oiço o entoar do sino e a cada esquina o meu olhar de menina enche-se da luz do arco-íris...

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest

voltar à nascente...




ser poeta é ter no olhar uma luz
brilhante, um coração que sente
trazer nele dor e tormento
amor e contentamento
um labirinto de sentidos
pastorear o céu imenso
colher estrelas e luar
e amar...amar, amar...

ser poeta, é viver
trazendo a paz eleita
é morrer e renascer
caminhar suavemente ora emotiva
ora satisfeita...
o importante é ser, a vida é pouco mais
que nada, a caminhada é apressada.

enquanto a memória estiver viva
o poeta vai voltando à nascente
a saudade fica nele cativa
dizendo-lhe que é urgente
aproveitar a vida!

natalia nuno
rosafogo

imagem pinterest