despertar...

só uma migalha d'alma ainda se contenta

vou olhando o mundo de soslaio

ouvindo tudo o que por aí se inventa

e desta tristeza não saio

o vazio que sinto e o que penso

é de desassossego, desencanto

e a cada dia mais me convenço

que a vida pra uns é ouro, pra outros pranto

mas abrir os olhos ao alvorecer

sempre tem o seu encanto.

ainda em meus olhos ponho a chama

seduzindo com ternura quem me ama,

há dias que tudo parece novo na palavra amar

despertando para a vida

levando para longe as trevas do coração

sinto-me de novo ave pronta para voar

nas lentas palavras que escreve minha mão.

natália nuno

rosafogo

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pensamento...

PENSO EM MIM COMO UM FIM  DE TARDE

QUANDO O SOL INICIA A SUA QUEDA..., mas, O RIBEIRO AINDA LEVA ALGUMA FORÇA!

natalia nuno

a propósito deste meu pensamento o amigo Paulo César surpreendeu-me com este belo poema que deixo, homenageando a amiga e conterrânea ......................

Para a amiga que és, Natália.

Paulo César

17 h  · 

"Penso em mim como um fim de tarde, quando o sol inicia a sua queda... mas, o ribeiro leva ainda alguma força!

NNuno, 22.Jul.2017"

FIM DE TARDE

Ao longe o sol deixa-se cair

no colo suave e sonolento da noite,

algoz que se faz amante

para, instante a instante,

me subjugar ao seu poderio

e me entregar ao desafio

de me fazer renascer na manhã que há-de chegar

quando o sol, enfim, se libertar

do peso informe do sono,

como se fora campo em pousio, ao abandono.

Sei das forças que tive e das que perdi,

do tempo que passou e do que vivi,

das lágrimas, dos sonhos, dos sorrisos

e das perguntas a que dei de ombros nos indecisos

tempos em que o tempo era triste e escuro

com silêncios perigosos e muito muro

por ultrapassar, nessa noite onde até as estrelas

nasciam combalidas no horizonte visto das janelas

onde o medo se vinha encarrapitar

cobrindo de negrume a luz esmaecida do luar.

Sei, sei, sei-o muito bem...

Ainda que por mim só tenha passado eu e mais ninguém...

Guardo memória! Escrevi rascunhos!

Alinhavei projectos e com os meus próprios punhos

deu murros na besta que ao meu redor cresceu

a querer matar o nada que existe neste pouco que sou eu.

O ribeiro leva ainda alguma força...

Sabei, pois... Na frescura da água

esconde-se a energia indomável da corsa

que caminha vagarosa à sombra da própria mágoa!

Até ao fim!

Senhor de mim!

Em 22.Jul.2021

a beleza da hora

a memória já se esquece

às vezes aparece como filme sem côr

vai e vem parece um final de amor

perturbada, como que a chegar ao fim,

e lá fico pobre de mim,

um nevoeiro, a cobrir-me a lembrança

por inteiro.

hoje trago a brisa por adorno

e meu rosto fica de prata

mas amanhã dá-se o retorno

e vem a solidão e por dentro me mata.

fico sem entendimento

meus passos perdem-se entre os demais

cala-se a voz velhíssima em lamento

escondendo meus ais.

a memória já se esquece

de tudo tão desprendida,

enquanto o corpo desfalece

tornando difícil a vida.

só o amor, a alma revigora!

já não importa a ruga no rosto

amanhã é outro dia,

dentro de mim trago a beleza da hora,

condenso o que dentro sinto

e a noite me anuncia,

amar mais uma vez, pressinto!

ressuscito as minhas mãos para a ternura

e fico grata com tanta ventura.

natalia nuno

rosafogo

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para lá do sonho...

a minha paz hoje é incerta

como o vento disperso nas montanhas

a minha rua deserta

e minha saudade de saudades tamanhas

está de verde meu coração

que anseia caminhar mais além

para lá dos sonhos de ilusão

onde só a ti encontro, porém,

solto meus pés devagar

como este verso que se estende

até de madrugada

hei-de percorrer toda a estrada

levo saudade do meu par

que esqueceu de me amar.

é tempo de viver os sonhos um a um,

antes que nos atinja o vento do outono 

a lua desça a cortina e sem mais sonho algum

fique o resto das nossas vidas ao abandono.

persegue este poema uma névoa cinzenta

sombria, até de madrugada,

a minha paz é incerta, mas o poema inventa,

trago o coração de verde vestido

nele resta ainda a esperança 

que a vida é sonho, para sempre vivido..

natalia nuno

rosafogo

aroma de amor...

quem ama a vez primeira

esse amor nunca esquece

vai lembrar a vida inteira

mesmo se novo aparece.

é fogo nas suas veias

ardor que não desaparece

andar à luz das candeias

cego d amor q'não esquece

amor é aroma no coração

dele se torna guarida

é um florir inda em botão

fragrância que alivia a vida

para quem ama e deseja

o amor é linho fino

é como quem a vida beija

amar é pratear o destino

o primeiro amor floresce

ardente lilás florido...

é sonho que cresce, cresce

fica-se a ele rendido.

amor é como o sol, um clarão

chama que cintila e tem côr

irrompe com força no coração

a adocicá-lo com mel de flor.

às vezes é só falaz ilusão

esmorece como à tarde o dia

lá se vai o sonho então...

e do coração foge a alegria.

natalia nuno

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versos que vida me dão...

meus versos são filhos estranhos

mas deles não desisto

têm neles sentimentos tamanhos

são sonhos...eu sonho porque existo!

versos são raízes no meu chão

são meu retrato, quando os olho de perto

versos que vida me dão

vida que às vezes parece um deserto.

versos que são cardos e são rosas

e rosto de tanta multidão.

versos, são palavras onde ponho ternura

quando no cais vou fazendo a despedida

ainda não é madrugada, é noite escura!

e eu fito com olhos tristes esta vida.

sem desespero, já nada quero

o veio do poema corre nas minhas veias

na maré dos meus dedos ainda o espero

varre-se me o pensamento, como o vento

varre as areias...

a horas mortas, ainda me aventuro

e vou dispersando alguns versos mundo além

vou rindo por dentro, pois acho o mundo impuro

é que eu, me entendo impura também!

natalia nuno

rosafogo

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nostalgia...

presa no pêndulo das horas

trago o coração cinzento

a memória como um vento

que se esfuma, sem demoras

o tic-tac goteja constantemente

e meus versos perdem-se  no calor

da palpitação, na angústia da solidão

na ausência do teu amor.

tenho saudades da saudade que trago em mim

da liberdade que me trazia viva

e agora nesta solidão cativa,

é como se fosse o fim!

não há palavras nem prece

a vida é mais pesada e o ânimo desce

dá-se um nó nas palavras apertado

e todos estamos sós, ainda que lado a lado.

pensamentos são uma gaiola vazia

tudo na vida sem côr

a alma esfria,

que surja um bom pintor, com pinceladas d'amor

no amanhecer de nossos dias

para que acabem as lágrimas e surjam as alegrias.

natalia nuno

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