quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

lembranças a soar tristes...



aconchego-me às noites mais antigas, quando a lenha crepitava na chaminé, o vento batia na janela, e a avó fervia o café, para lhe juntar as migas de pão de milho... cedo o dia findava, e a noite sem estrelas aparecia, negra, como o coração desolado de lembranças profundas dum amor fracassado e o interminável vazio, que lhe feria o peito e lhe cortava a respiração...o céu parecia abater-se sobre a aldeia, a avó e eu ali permanecíamos até à chegada do sono, a luz trémula da candeia de quando em quando apagava com a aragem vinda da chaminé, as brasas ficavam em cinza, mas a avó continuava a reza ainda com a mesma fé, em mim cresciam asas e sonhos que me fascinavam e que pensava ter ali à mão, hoje, nos momentos de solidão, sinto a secura nos olhos e uma orfandade sem tamanho, já não há choro, há lembranças adormecidas no enrugar da minha pele.

natalia nuno
rosafogo
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