sexta-feira, 5 de junho de 2020

viro a esquina do tempo...



viro a esquina do tempo,
e olho as camélias que morreram,
cheia de pensamentos
vou-me cercando dos lírios
que serenamente presenciam meus delírios,
pressinto os ventos
mas tenho em mim as rédias do caminho
apesar da desorientação,
e se tu não vens quebra-se me o coração.
leve, como a flor do linho
minha alma sente-se donzela
velha a saudade de quando te esperava
à janela...

invento o teu amor por mim
no coração dei-te um lugar definitivo
amor é o nome que te dou, vivo,
que me acompanhará até ao fim.
a esquina do tempo virei
não sei agora qual o meu rumo
tão velha, quanto a saudade do tempo
que por ti esperei, uma vida, que sumiu
como fumo,
mas ainda assim, quando a saudade
andar clandestina,
esperarei por ti
ao virar da esquina.

natalia nuno
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quinta-feira, 4 de junho de 2020

o céu abre-se em lágrimas...



o céu abre-se em lágrimas, ferido pelo sol que o abandonou, neste fim de tarde silenciosa, mais uma rosa despetalou, igualo a dor do céu à do meu coração que morre silencioso nos dias que insondáveis, me deixam na solidão... também as aves partirão sem desejos de ficar, trago a alma à flor da pele e lágrimas no olhar!..desertaram minhas alegrias, escorreram da boca como papoilas levadas pelo vento, deixaram meu alento, fiquei de mãos vazias...já não sinto os pés na primavera, e o que me espera?! vem pelo ar o cheiro dos pinhais, oiço o canto dos pássaros, triste como meus ais... nas linhas divididas do meu rosto, a sombra cobre a morte por mim, e na tarde quebrada a chuva chegou ao fim...

natalia nuno
rosafogo
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terça-feira, 2 de junho de 2020

com o passar da folha...


com o passar da folha, apagou-se metade do meu sonho, já a memória se esquece da antiga disciplina, comovidas as flores na jarra, afirmam que estou delirando...e deixam um aroma fresco ao alvor, na minha almofada... a memória é um cântaro cheio de saudade, resgato o sonho, e lá volta a brisa com a claridade da infância, nessa hora sonho com o tanger do sino, cujo som mágico consigo ainda recordar, e o rio, éden da minha infância olha-me nas águas cristalinas que espelham o céu e nas margens crescem flores como meninas joviais...meu sonho continua à sorte, e vai jogando o jogo da vida e da morte... o tempo cega-me, mas as estrelas avivam-me os sentidos e a lua escuta o meu coração, solidária dá-me a mão e o sonho continua...

natalia nuno
rosafogo
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minha lavra...


Estava aqui a pensar, ou por outra, a falar com os meus botões, que preciso de umas palavras requintadas, palavras de classe, não preciso saber o significado, mas sem dúvida tenho que aprender algumas, é que as minhas palavras são palavras de trazer por casa, palavras simples, claras como a água dum ribeiro, palavras do dia a dia, pão pão, queijo queijo, palavras de pé descalço, mas de facto com meus cabelos já embranquecidos não tenho paciência para melhorar o vocabulário, ainda assim, lá terei que aprender uma meia dúzia dessas de sair à rua. Palavras bonitas e finas entre cruzam-se no meu sonho desde a minha infância, mas o sonho apoderou-se do tempo e da palavra, e eu, fiquei assim acertando as ideias, na esperança de como dizia ainda há pouco, aprender mais algumas. É que eu sou um poeta louco, sonhador, um visionário, um dia rindo, sem pranto e, logo no outro chorando...triunfadora a palavra em mim nasceu, foi o destino que me fadou, assim ela em mim cresceu...poeta  dizem que sou, será que avida me sagrou?!
Esta loucura é passageira, sou eu a tentar escrever prosa, mas já vi que não vai ser farta a minha lavra, um melro me segredou, que há sempre uma razão, para deixar abrir o coração.

natalia nuno
rosafogo
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escrito em 2/2002

sonho que invento...


escrevo com novo  alento
aqui agarrada a este chão
a este sonho que invento
que é realidade e também ilusão.
este ímpeto de escrever, este 
empenho meu
esta ânsia  de vencer
como nuvem que rompe o céu,
como abelha de asa suspendida
a olhar o sol erguer-se,
sacudindo ardente a vida.

acreditar que amanhã é outro dia
virá o vento que embala as espigas
trará às sombras do meu rosto alegria
mudando a minha estrela
esquecerei as fadigas.
abrirei os braços à vida
farei versos mesmo isolada
nesta solidão, escrita que mesmo
que assombro não faça,
abro o peito e a palavra passa
e com os olhos enxutos
serei árvore que deu frutos.

natalia nuno
rosafogo
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poema escrito em 2009

domingo, 31 de maio de 2020

perdida de mim...


tenho frio...tenho frio!
colho lembranças na frescura
da noite...
neste volteio que é vida
que me faz avançar,
e recolho a palavra que me é dirigida,
que infantilmente ouço
como um eco
vindo do fundo dum poço.

vou ao fundo do tempo,
renasce em mim a ilusão
que nada passou,
deixo-me na adolescência,
como pássaro que voa,
e me magoa
ser agora crisálida perdida
ou prestes a perder
o sentido da vida.

os sons me chegam de longe
deles se desprende uma melodia
povoada de recordações...
trazem até mim emoções,
pequenos nadas, o fogo
que me aquecia
na infância dourada.
deixo-me ir ao sabor do vento
histórias me contam as andorinhas
julguei-me perdida, alento...
mas, as lembranças minhas
chamam continuamente por mim.
dobrada ao peso da vida
presa ao meu destino, sonhando
vou aguardando o fim.

natalia nuno
rosafogo
poema antigo 1992


sonho de amor...



em sereno jeito
giro como um girassol.
ao teu redor,
trago-te no peito
sempre com amor maior.
corre o dia
já quase com um pé na noite
que aparece com brusquidão,
meus olhos se entregam à solidão.

como queria
ter-te aqui...
aqui me tens
espero por ti,
só a saudade
 me diz que vens.

minha mão arrefece
sem da tua a ternura
e a imensidade da hora
causa a minha loucura.
a tarde cai, mais um dia vai
soltam-se as aves no céu
procuram abrigo tal  como eu,
e o último raio de sol
habita o meu olhar,
giro, giro como um girassol
na esperança de te ver chegar.

na escuridão dos meus olhos
dou abrigo a mais uma lágrima
como dói querer-te!
trago-te na memória.
aposto em segredo que vens
mas tenho medo,
de não ter-te
por perto
quando do sonho desperto.

natalia nuno
rosafogo

lua testemunha deste poema...



e vem a lua prateada
cobre a terra de luz até de madrugada
há  cansaços, preocupações, beijos e carícias
risos e gargalhadas e muitas ilusões

as sementes nas mãos do lavrador
são como noite nupcial,
noite de amor...
e triunfal a terra florirá
como um altar
em dia de casamento,
e o coração das gentes
palpitarão de esperança
por um inverno cinzento
mas que seja de abastança.

logo virá a primavera
de novo rouxinol se ouvirá
e o girassol se cobrirá
do orvalho da ventura,
o pastor fará a sesta
as pombas se amarão
a terra ficará em festa
e as gentes
esquecerão o cansaço,
nos campos se ouvirá sua canção
iludidos pelo sonho
no cair de tantas tardes
mesmo sendo pouco o pão!?
viverão as liberdades
conquistadas
enquanto na noite, a majestosa
lua prateada,
acende a esperança a esta gente
crédula, à pobreza condenada.

natalia nuno
rosafogo
imag.net

homenagem às gentes do meu tempo de criança...
poema antigo.